1.5 - Garota nova

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DYLAN CHASE.

A primeira coisa que me chamou atenção em Teodora Mason foram seus olhos. Castanhos, com pequenos detalhes em verde, olhando para mim como se estivessem desesperados por algo novo.

Eu me interessei imediatamente por ela simplesmente por isso: seus olhos. Não foi pelo jeito que falava, por fumar cigarros ou por ser bonita. Foi pelo jeito que ela me olhou: enraivecida, interessada, diferente.

Percebi, segundos depois daquele olhar, que suas outras feições também eram atraentes — cabelos loiros longos e lisos, sardas quase imperceptíveis no nariz e boca rosa que lembrava um coração. Sua totalidade fazia com que eu sentisse que ela era coisa mais bonita que já tinha visto — o que era normal para mim, porque sempre havia a garota mais bonita, até que a próxima aparecesse. Garotas atraentes já não costumavam me interessar tanto, e por isso, apesar de ver Teodora de relance nos corredores do colégio várias vezes, nunca me ocorreu realmente tentar algo com ela.

Isso, porque ela nunca havia olhado para mim. Sei que é estranho, mas assim que seus olhos se voltaram para os meus, eu a imaginei na minha cama — e juro, não há jeito mais educado de dizer isso.

Quando ela falou comigo pela primeira vez, eu quase tive vontade de rir, porque seus olhos não eram a única coisa fascinante que ela tinha a oferecer.

Eu já tinha ouvido falar sobre ela e seu humor ácido várias vezes, porque, desde que ela chegara, a Garota Nova era o único assunto interessante que a cidade tinha a oferecer — era como se todos à vissem com uma etiqueta nas costas, produto novo. Os assuntos que eram interessantes para o resto da cidade geralmente me deixavam entediado, mas, ainda assim, sempre existem aqueles pedaços desmantelados de conversas que você não consegue evitar, e que te fazem criar a imagem de uma pessoa na sua cabeça sem que você sequer a conheça.

Eis o que eu sabia sobre Teodora Mason antes de realmente conhece-la:

1) "Ela é melhor amiga de Naomi Jones, espero que seja tão piranha e boa de cama quanto ela". (Um dos idiotas da minha escola que insistia em fingir ser meu amigo só porque também era rico, e achava que isso era tudo que bastava para uma boa amizade).

2) "A garota nova é TÃO mal-educada, e fede a cigarro o tempo inteiro. Parece que acabou de sair de uma propaganda sobre companhias que você deve evitar se quiser dar orgulho aos seus pais". (Uma das líderes de torcida do colégio, da qual não me lembro o nome, falando com uma de suas amigas líderes de torcida idênticas, que se encontrava ao meu lado em uma festa — o que significava que tudo que ela dizia era exagerado, mas tinha um fundo de verdade).

3) "Você não é o tipo dela. Nenhum de vocês é. Ela não gosta de mauricinhos." (Naomi Jones, falando com um dos meus amigos e me incluindo no meio, depois que um deles perguntou sobre a Garota Nova).

Todos eles estavam secretamente errados e, ao mesmo tempo, certos.

Apesar de todo meu entusiasmo na primeira vez que a vi de verdade, não poderia dizer que me apaixonei por Teodora logo de cara — a ideia do amor à primeira vista para mim não passa de um bom roteiro para vender filmes —, eu me conhecia bem o suficiente para saber que isso não passava de uma nova obsessão, um novo interesse.

Interesse. Acho que é essa a palavra que me define: interesse é o que me faz levantar de manhã, o que me faz ter uma reputação ruim sobre garotas e o que me deixa obcecado em Teodora Mason no momento em que a encontro pela primeira vez. Eu perco interesse nas coisas tão rápido quanto o encontro, como se a minha vida não passasse de uma série de pequenos projetos, dos quais eu perco o fascínio assim que consigo o que quero.

Não chega a ser exatamente uma obsessão, e sim algo que faz com que, de uma hora para outra, eu vire um cara determinado. Nas minhas últimas férias de verão, depois de clicar acidentalmente em um link sobre a Síria e passar o resto da noite lendo sobre o país, eu simplesmente peguei um avião e passei duas semanas lá, porque me sentia interessado em entender o lugar — eu odiava o imaginário, gostava das coisas reais —, o que não agradou nem um pouco a minha família.

Foi esse simples e puro interesse em Teodora que fez com que eu fosse falar com sua melhor amiga, Naomi, assim que a garota saiu de perto de mim como se eu representasse algum tipo de vírus altamente perigoso. Encontrei Naomi em minutos, do lado de fora da casa e perto do dono da festa, olhando para ele como se fosse a coisa mais interessante do mundo, os seios estufados enquanto o garoto tentava manter a concentração em seu rosto — o que eu achei particularmente engraçado.

Naomi e eu éramos versões em diferentes sexos da mesma pessoa — ambos sexualmente ativos, ambos a procura de novas pessoas para continuarmos sendo sexualmente ativos, ambos com mais dinheiro do que o necessário —, o que significava que tínhamos um acordo implícito que nos ajudava em nossos interesses comuns: eu a apresentava garotos, e ela me apresentava garotas.

A parte dela, geralmente, era muito mais difícil.

Ela se afastou do garoto assim que me viu sorrindo em sua direção, acendendo um cigarro enquanto vinha andando falar comigo, porque sabia que eu precisava de ajuda — não éramos exatamente o que se pode chamar de amigos.

— Quero conhecer sua amiga. — Eu anunciei, com as mãos nos bolsos, assim que Naomi chegou perto o suficiente.

— Qual delas? A loira, a morena ou a de cabelos curtos que parece muito um homem? — Ela me olhou de cima à baixo. — Você e Finn dariam um belo casal.

— Qual delas você acha?

— Ela não é para você, Dylan. Achei que tinha te avisado isso.

— Toda garota é para mim.

Naomi tragou o cigarro e olhou para as luzes distantes da cidade, em uma pose contemplativa que não combinava em nada com ela, e eu esperei enquanto ela falava:

— Existe um tipo de garoto que eu sempre evito, porque gosto da minha vida do jeito que ela é. Tímidos, doces, não do tipo meloso, mas do tipo que fica nervoso ao me ver, nervoso de um jeito alegre, e acha que eu sou muita coisa para ele.

— Por que os evita?

Naomi me lançou um olhar impaciente, com uma sobrancelha arqueada, porque achava a pergunta estúpida demais para ser respondida.

— A questão é: — Ela continuou ­— Teodora pode ser esse tipo de garota para você, que eu sei que você tem guardada a sete chaves dentro dessa sua cabeça pervertida.

— Então não vai me ajudar?

— É claro que vou. — Naomi respondeu, sem pestanejar. — É só um aviso.

Eu não costumava ignorar os conselhos de Naomi Jones, mas naquele dia, foi como se falássemos em línguas diferentes. Eu não tinha um tipo de garota ideal na minha cabeça — como disse, sempre odiei o imaginário — e não fazia ideia do que ela queria dizer com nada daquilo. Não me importei o suficiente, porque sempre achei ser exceção a regra.

Eu não tinha um tipo de garota ideal porque ainda não à conhecia bem o suficiente.

Naquela noite, fui dormir pensando em Teodora, como um psicopata depois de escolher a próxima vítima. Me perguntei quanto tempo eu levaria para esquecê-la, pensando na garota como pensava na Síria uma noite antes de viajar para o lugar.

Eu era um cara instável, que gostava de países em guerra, coisas reais e garotas complicadas.

Naquela época, não tinha ideia de que Teodora Mason podia ser a personificação perfeita dos três.

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