13 - Café, cigarro e escolhas

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A mão de Dylan encostou rapidamente nas minhas costas. Foi assim que acordei: ouvindo a respiração do garoto adormecido ao meu lado, sua mão direita roçando nas minhas costas e uma pequena fresta de sol na cortina iluminando levemente o quarto.

Me sentei na cama, a cabeça latejando, e reparei que onde antes se encontrava minha blusa estava apenas um sutiã, e logo puxei as cobertas com força – graças a Deus, eu ainda vestia minha calça. Suspirei de alivio e só então percebi que Dylan me olhava curioso, com os olhos semicerrados de quem acabou de acordar. Ele vestia apenas uma cueca box.

– Nós transamos? – Perguntei, alarmada.

– Claro que não, Teodora. – Ele pareceu ofendido. – Posso ser idiota, mas não sou estuprador.

– Então por que estou só de sutiã?

– Você tirou no meio da noite, disse que estava com calor. – Ele achou graça.

– E você simplesmente tirou a roupa e deitou do meu lado?

– Não. Eu tomei banho, troquei de roupa e aí deitei do seu lado.

– Trocou de cueca.  – Resmunguei, vestindo minha blusa, que se encontrava caída e amarrotada no chão.

Dylan apenas sorriu na minha direção, sem se importar nem um pouco, e perguntou:

– Vai querer café?

***

Uma xicara de café, uma bermuda e camiseta depois, nós dois nos encontrávamos na sacada do seu quarto, olhando a rua praticamente sem nenhum movimento do condomínio luxuoso que ele morava, enquanto minha cabeça continuava latejando pelo excesso de álcool do dia anterior.

– Como você tem tanto dinheiro? – Perguntei, reparando no jardim magnifico da entrada da casa.

– Meu pai tem muito dinheiro, porque meu avô tinha muito dinheiro...

– E onde eles estão? – Perguntei. – Sua família. – Dylan olhou para mim pelo canto do olho, a xicara de café na sua mão. – Eu te disse, Dylan: você não vai sair dessa sem se abrir também. Já conheceu minha mãe e padrasto malucos, agora é minha vez.

– Meu pai está viajando, ele sempre viaja à trabalho. – Ele cedeu, e as palavras saíram automáticas, sem emoção. – Minha irmã mais nova estuda na Europa e minha mãe pode ser encontrada no cemitério mais próximo.

– O que aconteceu?

– Acidente de carro. – Ele respondeu, e se virou para mim, arqueando uma sobrancelha em desafio. – E seu pai?

– Me abandonou. – Respondi, automaticamente e olhando o horizonte, do mesmo jeito que ele. – Então você praticamente mora sozinho?

– Não é ruim. – Ele deu de ombros.

– Também não deve ser bom.

– Depende do quão distraído você consegue se manter. – Dylan sorriu.

– Ok, muito interessante, mas você não me disse nada que eu não pudesse ter descoberto sozinha. – Rebati. – Me conte algo que ninguém mais sabe.

– Hum, ok. – Ele pensou por um segundo e depois disse, com a maior naturalidade do mundo: – Odeio meu pai. Sua vez.

– Sinto falta do meu.

***

Eventualmente, Dylan foi tomar banho, e pouco antes disse que se eu quisesse comer algo, podia pedir na cozinha. Quando eu reclamei sobre isso, porque faria com que os funcionários da casa pensassem que eu era uma garota qualquer que havia passado a noite com ele, Dylan simplesmente sorriu e disse: "eles já estão acostumados".

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