22 - MADTEO

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Apesar de tudo, sábado ainda continuava sendo o melhor dia da semana.

A música era alta e a boate estava completamente lotada de adolescentes quando eu percebi que já estava muito bêbada. Praticamente todo mundo da escola estava aqui, usando identidades falsas e roupas chiques, por causa de um DJ aparentemente famoso que deveria tocar essa noite.

Eu, estava ali pela bebida.

Havia vindo a festa com Maxine, que nos últimos meses havia se tornado uma espécie de parceira de festa. Ela era uma das únicas pessoas que não havia passado a me tratar de forma estranha, extremamente cuidadosa, depois da morte da minha mãe, e foi por isso que nos aproximamos cada vez mais – apesar dela me tratar de um jeito exclusivo e exagerado, ela sempre havia me tratado assim, e no momento isso era tudo que eu tinha.

Maxine era o tipo de garota que só mostrava aquilo que gostaria que os outros vissem, portanto, nos últimos quatro meses, eu havia descoberto um lado muito mais obscuro dela que não tinha ideia de que existia, e gostei. Ela sabia que eu me encontrava emocionalmente indisponível para qualquer coisa que passasse de encher a cara em qualquer lugar e simplesmente fingiu esquecer o último encontro que tivemos antes de todo meu mundo virar de cabeça para baixo, o que me poupou uma conversa que eu não gostaria de ter. Lidar com Maxine era fácil: ela não fazia muitas perguntas, não me lançava olhares de soslaio enquanto eu bebia e não me impedia de fazer loucuras – pelo contrário, me incentivava a fazer loucuras com ela.

Era uma ótima amizade.

Eu sabia que meus amigos de verdade provavelmente também estavam perambulando pela boate, apesar de eu não ter avisado ninguém que viria – aquele DJ era tudo que os alunos da nossa escola falavam sobre nas últimas duas semanas, e no momento eu estava fazendo de tudo para não encontrar alguém que eu conhecesse além da garota de cabelos rosa ao meu lado.

A estratégia não adiantava muito se eu procurava por ele na multidão toda vez que não conseguia me controlar, só para encontra-lo no mesmo lugar de trinta segundos antes: conversando com uma loira perto do bar e sorrindo como se nada mais importasse. Eu o odiava.

Dylan Chase havia desaparecido da minha vida e esquecido da minha existência depois da morte da minha mãe – toda vez que eu olhava para aquele rosto lindo que fazia questão de me ignorar, eu me sentia como um fantasma do seu passado, como se também tivesse sido deixada morta naquela casa. Depois das flores no hospital, o garoto simplesmente desapareceu e nunca mais entrou em contato, como se nunca tivesse me conhecido, e tudo que eu fiz foi ignora-lo de volta, com o orgulho completamente ferido e o coração em pedaços.

No primeiro mês da morte da minha mãe, não foi tão difícil deixar o que eu havia vivido com Dylan para trás: eu raramente lembrava que ele existia. Nos meses seguintes, continuei fingindo que não.

A loira em seu encalço estava encantada, e era irritantemente parecida comigo – pelo menos, com a minha antiga versão de cabelos longos e sem os três novos piercings na orelha. Eu havia começado a mudar minha aparência por puro e simples tédio – precisava urgentemente de qualquer distração que não me fizesse chorar no tapete – e por isso havia designado a mim mesma pequenos projetos que me relaxavam: olhar para mim no espelho com o meu novo cabelo, a dor latejante de um novo piercing na orelha, a vontade incessante de acender um cigarro depois de decidir parar de fumar... toda mudança me fazia bem.

– Nós deveríamos fazer uma tatuagem. – Disse para Maxine, completamente bêbada, enquanto pensava no meu próximo projeto.

– Você não tem nenhuma? – Ela perguntou, me entregando um shot de tequila.

– Você tem? – Perguntei de volta, e ela me mostrou o pequeno "MADMAX" escrito em letras maiúsculas no pulso.

– É para identificação do meu cadáver. – Ela explicou, e eu ri enquanto virava a milésima dose da noite, ou o que parecia ser. Eu queria uma tatuagem.

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