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Vejo as pessoas ao meu redor reclamarem que os dias passam rápido e que conforme os anos passam mais rápido os dias se vão, mas acho que isso não tem a ver com as 24 horas do dia, pois elas sempre serão 24 e sim com nós mesmos.

Não vejo uma criança reclamar disso e somente os adultos e isso faz parte do nosso crescimento.

Mais um dia se passou nessa casa, mas esse foi diferente, estive mais pensativa. Estranhei minha atitude ao sentir meu coração disparar perto do Lucas, fiquei um ano e meio sem ter contato algum com ele, Pedro surgiu e com seu sorriso doce e olhar compreensivo me acolheu, secou minha lágrima, me abraçou apertado e eu entreguei meus sentimentos e meu coração.

- Onde o Mauro está? - Abro a porta devagar e vejo o Lucas sentado na sua cama.

- Foi tomar banho.

- Será que ele demora?

- Não sei. Mas entra ai. - Ele responde.

- Ok. - Entro e vou até a cama do Mauro em seguida me sento. - O que você está fazendo?

- Arrumando minha bagunça. - Ele olha pra mim e sorri.

- O que é isso? - Me ajoelho ao seu lado e seguro uma coisa na mão.

- Minha câmera de fazer daily vlog. - Ele pega da minha mão. - Eu ia fazer mas achei melhor desistir.

- Por quê?

- Não sei. Perdi a vontade. - Ele olha desanimado pro objeto. - Vou tentar tirar umas fotos legais amanhã.

- Ah eu também queria, mas meu fotógrafo foi embora.

- Vamos juntos então. - Ele me olha e eu retribuo o olhar. - Se você quiser.

- Tudo bem. - Sorrio e ele retribui.

Ficamos conversando enquanto eu esperava o Mauro. Lucas estava diferente, mais calmo e leve, não sei se era impressão minha mas eu gostava mais dele assim.

A porta abre e o Mauro entra, ele me olha surpreso e arregala os olhos, fico confusa e encolho as sobrancelhas, ele vem em minha direção caminhando com dificuldade como se tivesse um peso sob seus pés.

- Ma-Maria? O Pedro quer falar com você. - Ele me entrega o celular com receio.

Pego o celular de sua mão e saio do quarto, procuro um lugar silencioso e encontro uma rede no quintal onde provavelmente o pessoal da casa não descobriu.

- Fala meu amor. - Digo pro Pedro.

- Oi Maria. - Seu tom de voz faz meu interior estremecer.

- Tá tudo bem? - Questiono um pouco receosa.

- Aqui tá, eu quero saber como está ai. - Ele diz indiferente.

- Pedro, não estou entendendo seu tom de voz. Por que você ligou pro Mauro e não pra mim?

- Já viu o vídeo do Christian de ontem? - Ele ignora minhas perguntas.

- Não. - Um nó se forma na minha garganta e eu sinto um mau pressentimento.

- Então olha!

Pego meu celular do bolso e abro o aplicativo, um pouco relutante abro o vídeo do Christian e começo a assistir, a sensação de um soco no estômago se espalha dentro de mim quando vejo as imagens do Lucas e eu correndo de mãos dadas em direção ao brinquedo e em seguida já na montanha russa, nossos dedos entrelaçados.

- Maria? Maria? Você tá aí ainda? - A voz do Pedro me tira daquele transe.

- Oi. - Minha voz sai mais baixa que o esperado.

- Viu o vídeo? O que você tem a me dizer? - Sua voz era calma e confortante.

- Que eu não tenho nada que explicar por que as imagens falam por si, mas que elas podem ser interpretadas de outra maneira diferente do que realmente aconteceu.

- Então me diz como realmente aconteceu?

- Amor, você não acha que eu te traí, não acha? - Pergunto esperando uma resposta digna do que eu esperava do Pedro.

- Claro que não.

- Então por que tá fazendo eu me sentir mal assim? - Sinto meus olhos molhares de lágrimas quentes.

- Por que até uns meses atrás você chorava no meu colo por causa dele e hoje eu vejo um vídeo dos dois tão próximos, como você acha que eu estou me sentindo?

Não digo nada, apenas sinto as lágrimas correrem pelo meu rosto e caírem no meu colo, tem uma coisa que eu aprendi com o Pedro: não discutir quando não tenho razão e nesse caso eu realmente não tenho.

- Mas amor eu não fiz nada de errado. - Digo soluçando.

- Eu sei.

- O que você quer? Terminar? - Pergunto com o coração doendo.

- Não. Quero saber o que você está sentindo? - Seu jeito compreensivo me fazia chorar ainda mais. Eu não sabia o que dizer então fiquei em silêncio, pude ouvi-lo suspirar do outro lado. - Ok, então nós conversamos quando você chegar no Brasil.

- Você não vai voltar? - Pergunto secando minhas lágrimas.

- Acho melhor não.

- Mas daqui eu vou pra Portugal, você não vai? E o meu aniversário?

- Acho que você precisa ficar um pouco sozinha pra pensar. Não concorda comigo? - Seu jeito era tão carinhoso.

- Pode ser.

Ficamos algum tempo em silêncio, eu não tinha coragem de dizer nada e ele parecia estar esperando a atitude partir de mim. A verdade é que eu gosto muito do Pedro, gosto da forma que me sinto perto dele e de como ele me trata. Ele soube me conquistar e me ouvir como nunca alguém me ouviu, conseguiu tirar o Lucas dos meus pensamentos e ocupar coisas boas nele. Foi apoio, carinho e afeto quando eu precisei.

- Eu tenho que desligar. Fica bem Maria. - Ele diz.

- Espera. - Grito e ele solta um gemido. - Nós estamos bem, né? Quer dizer, ainda namoramos.

- A gente decide quando chegar no Brasil, tá bom? Mas eu nunca vou conseguir ficar de mal com você.

- Você é um Príncipe, sabia?

- Sabia... - Ele diz me fazendo rir. - Você me fala isso todos os dias.

Em meio as lágrimas dou uma risada, ele encerra a chamada e eu deito na rede. Aperto o celular próximo ao peito e mais algumas lágrimas caem. Tudo que eu menos precisava era me sentir confusa em relação aos meus sentimentos, mas no fundo eu sabia que era assim.

Tinder - T3ddy (segunda temporada)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora