Tempo sozinha

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Logo após encaixotar todas as coisas da Lorena, Júlia e eu descansavamos juntas atiradas no chão.

- Eu apoio nós duas colocarmos fogo nisso aqui. - Júlia diz se referindo as coisas da Lorena.

- E colocar fogo no prédio também? - Debocho da sua ideia.

- Então podemos jogar tudo pela janela. Eu ia amar ver ela catando tudo lá embaixo. - Júlia gargalha.

- Você já teve um coração melhor. - Digo.

- Eu tenho, não tão bom quanto o seu, mas eu tenho. - Júlia senta no chão e me olha. - Quando vamos ver os preparativos do meu casamento?

- Nem tivemos oportunidade de conversar. O Mauro e você vão casar mesmo? - A questiono.

- Claro, você não viu a postagem dele? - Ela da de ombros.

- Vi, mas pelo que eu sabia o Mauro não pensava em casar. - Levantei do chão e sentei também.

- Mas mudou de ideia quando me conheceu. - Ela disse e eu ri, fiquei olhando pra ela até se incomodar. - O que foi?

- Nada. Só estou feliz vendo você e o Mauro felizes. - Meus olhos se encheram de lágrimas. - Vocês se gostam tanto.

- Ih, ah não Maria. Pode espantando essa melancolia de você. - Ela joga o cabelo por cima do ombro. - Agora que a naja foi embora você nem tem motivos pra estar assim, logo logo você e o ursinho vão estar bem por ai e você nem vai lembrar disso.

- Eu não sei se quero voltar com o Lucas.

- O quê? - Ela grita. - Alguém me traz um termômetro por que a Maria ta doente. - Ela gesticula como se estivesse falando com alguém.

- Deixa de ser escandalosa. - Dou um tapa na sua perna. - O Lucas e eu estávamos nos dando super bem antes da Lorena vir pra cá, éramos melhores amigos.

- Eu me lembro. Todos os dias era fotinho juntos e mil amores. - Ela revira os olhos.

- Pois é. - Sorrio sem graça. - Isso me fez repensar sabe? Nós dois nos damos muito certo como amigos, não sei se vale a pena estragar isso forçando um relacionamento.

- Mas vocês se amam. - Ela insiste.

- As vezes somente o amor não basta.

- Você fica sombria quando fala assim Maria. - Ela diz séria esfregando o braço. - Deixa de ser girassol e se torna uma folhagem seca. - abaixo a cabeça e sorrio fraco. - Você acredita realmente nisso?

- Sim. Só o amor não basta. - Disse pra eu mesma.

~~~

Estava tudo preparado: essa noite seria pipoca e filme, a Júlia e eu, mas um telefonema do Mauro dizendo que estava vindo pra cá estragou tudo e logo a Júlia se animou e começou a tagarelar somente sobre isso, quando ele chegou ela o puxou pra sentar consigo no sofá e não trocou mais nenhuma palavra comigo.

- Maria? - Mauro me chama. - Está tudo bem?

- Sim. - Respondo inquieta.

- Ela ta muito estranha hoje amor. - Júlia diz abraçada nele. - Fiquei até feliz quando você disse que viria pra cá, estava com medo dela tentar algo contra mim.

- Idiota. - Reviro os olhos.

- O que foi? - O Mauro me olha.

- Não sei. Os últimos acontecimentos mexeram comigo. - Digo desanimada. - Sabe? O lance com a Lorena.

- Eu sei o que fazer pra você melhorar. - Júlia diz animada.

- Eu não vou sair de casa. - Me afundo na poltrona.

- Quem disse que precisa sair? - Ela responde. - Maurinho me empresta o celular.

- Pra quê? - Ele diz entregando o celular a ela.

- Vou chamar alguém pra te animar. - Júlia diz mexendo no celular do Mauro. - Cadê o número do ursinho?

- Ah não Júlia. - Digo irritada. - Deixa ele quieto. Eu quero ficar sozinha.

- Ah Maria, todo mundo sabe que você melhora quando ele tá aqui. - Mauro balbucia.

- Até você Mauro? - Vejo a Júlia digitando no celular. - Você vai realmente chama-lo?

- Sim. - Júlia diz digitando.

- Então tchau. - Saio caminhando pro quarto e ignoro eles.

Entro no quarto e bato com a porta, pego meu celular, meus fones de ouvido e deito na minha cama. Coloco a primeira música que aparece e fecho os olhos.

As vezes a gente precisa de um tempo só, ouvir nossa voz, nossos pensamentos, saber a textura dos nossos sentimentos. Muito barulho, muita luz nos rodeiam e a gente precisa se sentir só pra se conhecer melhor.

Nesse momento não era diferente. De repente eu descobri que tudo era diferente do que imaginava e aquela sensação de familiaridade foi perdida, preciso me adaptar a tudo novo.

Fiquei muito tempo ouvindo a mesma música e perdi a noção do tempo, só voltei a realidade quando a claridade da porta aberta invadiu meu quarto, ignorei achando que fosse a Júlia então permaneci de olhos fechados como se estivesse dormindo. Senti alguém sentar devagarinho ao meu lado e continuei de olhos fechados até sentir alguém tirar um fone do meu ouvido e eu encaro com dificuldade por conta da escuridão.

- Dor de cabeça não combina com música. - O Lucas disse e sorriu.

- O quê? - Perguntei sem entender.

- A Júlia disse que você está com dor de cabeça e por isso deitou aqui. - Ele responde.

- Ah sim. - Respondo sem graça percebendo mentira.

- Já ta melhorzinha? - Ele afaga meus cabelos.

- Sim, estou. - Sento na cama e ligo o abajur do lado da cama. - Pode voltar pra sala pra olhar o filme.

- Mas eu prefiro ficar aqui. - Ele responde. - Não acho graça ficar de vela para os dois.

- Você que sabe. - Levanto da cama. - Eu vou pra academia.

- Academia? Mas vão ser 22:30. - Lucas responde surpreso.

- Eu sei, mas fica aberta até as 00:00. - Digo colocando uma camiseta e ignorando o olhar do Lucas sob mim apenas de sutiã.

- Você quer que eu vá junto? - Oferece.

- Não. - Digo calçando meu tênis. - Você fica, é aqui pertinho e não tem risco algum.

- Você ta ficando maluca. - Ele diz.

- Talvez. - Puxo o zíper de um casaco e colocando o capuz na cabeça.

- Maria, eu faço questão de ir junto. - Ele diz.

- Não precisa Lucas. Eu só vou na academia. Vai ficar tudo bem. - Dou um beijo na sua bochecha e em seguida saio.

Tinder - T3ddy (segunda temporada)Where stories live. Discover now