Capítulo 7

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Já trabalho na F&C Design e Publicidade há dois meses e estou muito feliz com meu desempenho. Cada dia aprendo algo novo desse ramo de propagandas, nunca imaginei que fosse tão complexo criar um simples comercial, mas é tanto estudo, tantas comparações. Verifica até mesmo os sentimentos das pessoas que vão vê-la. Tudo é minimamente planejado e até as cores que vão aparecer são pensadas, uma loucura.

Trabalhar com a dona Fernanda é muito interessante e encantador. A mulher parece um furacão de ideias, além de ser exigente a níveis absurdos. O senhor Cláudio é também um homem muito criativo e divertido, apesar de suas posturas serem totalmente o oposto um do outro, ele e a dona Fernanda se completam, pois conseguem encaixar as ideias sem muitas dificuldades, apesar de brigarem bastante quando estão em reunião. Aquilo vira uma zona de guerra, mas no final todo mundo sai feliz.

Pelo que me parece, minha patroa está satisfeita com meu trabalho, até Larissa já me disse que ela gostou muito de mim. Eu fico feliz em saber disso, afinal, isso indica que vou ser efetivada nesse emprego.

Outra coisa é que dona Fernanda não me chamou mais para ir almoçar com ela, só daquela vez mesmo, porém ela, de vez em quando, joga algumas perguntas estranhas para mim. Coisas como com quantos anos me casei? Se sou feliz? Quantos namorados já tive? Etc. Tento me ater ao trabalho e evitar esses tipos de questionamentos, mas ela o faz nos momentos em que estou mais ocupada – mentalmente falando – o que me faz respondê-la sem nem mesmo perceber.

Em casa minha vida está mais calma. Consegui uma garota, filha de uma vizinha, para ficar com Gabriel enquanto eu não chego em casa do trabalho, afinal minha cunhada trabalha e não pode ficar com ele sempre e não seria justo também, ela já nos ajuda tanto.

Anderson, aparentemente, criou um pouco de juízo. Está trabalhando firme na obra com seu amigo e leva coisas para casa – leite, pão, paga algumas contas mais baratas, etc – o que me faz até esquecer das mancadas que ele já aprontou. Só espero que continue assim.

Estamos na quinta-feira, e estou terminando uma relação de agências de modelos masculinos que dona Fernanda solicitou. Ela possuí várias, mas pelo visto os rapazes não agradaram para a nova propaganda que ela está idealizando, então ela me pediu para fazer isso o mais rápido possível e, podem acreditar, quando ela usa essa expressão ela quer dizer "quero isso para ontem", então melhor não dar motivos para ela me cobrar resultado.

Preparo uma lista com todos os dados das agências, além de já ter entrado em contato com os representantes para pré-agendar uma reunião. Assim que "fecho" meu trabalho, Fernanda aparece e, pelo visto, está bem nervosa, pois passou por mim igual um foguete, levantando os papéis da minha mesa. "Eu hein!"

Dou alguns minutos e entro para lhe entregar o que me havia pedido e a encontro ao celular. A mulher bufava feito cão raivoso, falando alto com alguém.


- Não mandei você marcar esse jantar assim Helena, era para ser algo só entre nós três, não uma social com todo mundo!

Falava irritada, o que me fez estancar meu passo e já pensar em dar meia volta, porém, assim que me viu, ela apontou séria para mim, me fazendo reter o passo e estacionar no mesmo lugar que estava, inerte e com a respiração presa. Sentia que, se eu fizesse qualquer movimento, ela me jogaria pela janela.

- Você é impossível! - Falou passando a mão pelos cabelos. - Vou pensar se vou ou não... tchau! - Desligou colocando o aparelho com força sobre a mesa.


Fernanda pousou ambas mãos sobre a sua mesa e abaixou a cabeça, respirando pesado. Sentia uma tensão no ar a ponto de, se passasse a faca, cortaria abrindo aquelas fendas no espaço-tempo, igual aqueles filmes de ficção, sabem? Ela suspirou fundo, passou as mãos pelos cabelos novamente e ergueu a cabeça, me olhando.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora