Capítulo 8

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Sabe quando o mundo desaba em suas costas a ponto de você sentir que, se cair, não levanta nunca mais? Caso não saibam, fico feliz por vocês, pois essa é uma sensação extremamente desesperadora e agonizante. Estou sentindo como se o globo terrestre estivesse inteiro – e totalmente povoado, para piorar – sobre meus ombros.

Estamos em pleno domingo e sinto como se o fim do mundo fosse hoje e os cavaleiros do apocalipse estivessem passando à minha porta, mandando eu decidir se quero ir para o inferno agora ou esperaria mais um pouco.

Desde sexta-feira, estou com a proposta de Dona Fernanda tumultuando minha cabeça. Já não bastava o problema que tive com Anderson, agora mais essa: a mulher me quer como sua amante.

"Não vamos fazer nada que não queiramos fazer. Vai dizer que não ficou mexida com o beijo também?!" eram as palavras que mais pesavam em minha mente. Eu juro para vocês, nunca, em toda minha curta existência, eu me senti envolvida, mexida, ou desejando uma mulher. Sempre fui uma garota comportada e que teve somente dois namorados em toda sua vida. Um foi o amiguinho da rua, ao qual dizíamos que éramos namorados, mas naquela época nem sabíamos o que isso significava, o segundo, foi o traste do pai do meu filho.

Admito! O beijo da Dona Fernanda me assustou – e muito – mas também mexeu comigo. Jamais imaginei que ela fosse capaz de fazer algo assim. Ela sempre me passou segurança e distanciamento. Nunca passamos de situações cordiais e profissionais e, quando menos esperava, ela me tasca um beijo na boca.

"Droga! Eu estava abalada por todos os problemas que eu estou passando. Não era para ela fazer isso!" pensava indignada, mas, a quem eu quero enganar? Ela beija bem e, mesmo apavorada pela conjuntura que vivia ali, acabei cedendo e, quando dei por mim, estava aferrada a ela, a puxando para mim, pois estava envolvida na sensação daquele beijo que, diga-se de passagem, foi muito bom... foi bom para cacete, desculpem o palavreado.

Passei aquela sexta inteira tentando evitá-la a qualquer custo e, pelo que senti, ela também o fez, pois, a partir do momento que saí de sua sala correndo, ela não me ligou, não saiu de lá para absolutamente nada, ou seja, se prendeu em sua bolha de segurança, assim como eu. Entretanto, quando ela me chamou para ir até ela e me fez aquela proposta, fiquei "de cara".

O que senti? Não sei explicar direito. Quando ela pediu desculpas por ter me beijado, fiquei entre decepcionada e aliviada. Quando ela disse que se desculpava pelo momento em que me beijou e não pelo beijo, senti um misto de euforia e assombro. Porém, nada supera o momento em que ela me propôs ser sua "amiga".

Agora me perguntem: 'Mas como você se sentiu com a proposta?'

EU NÃO SEI! Eram tantos sentimentos se contorcendo dentro de mim. Eu fiquei indignada, afinal, quem ela pensa que eu sou? Uma puta? Mas aí veio a lembrança do beijo e a filha da mãe ainda sabe jogar com meu subconsciente e minha fragilidade.

Claro que permiti, mesmo inconscientemente, que ela soubesse coisas demais sobre mim, mas ela precisava usar isso "contra mim"? Eu não acho justo e também acho indecorosa a forma como ela abordou esse interesse, mas, ao mesmo tempo, fiquei envolvida.

- O que eu faço? - Perguntei-me deitada em meu sofá, esparramada enquanto na TV passava um programa qualquer desses bem chatos de domingo a tarde.

Tenho medo de dizer sim, pois, por mais que o imprestável do Anderson tenha me dado um tempo e sumido da minha vista, eu sabia que ele ainda voltaria, como sempre faz. Gabriel, só hoje, me perguntou várias vezes "onde está o papai dele?". Imaginem se cedo e volto para meu marido? Como vou lidar com essa situação? Logo com ele que é tão machista e implica com a possibilidade – vejam bem, possibilidade – de eu ter um chefe homem, pois acha que o cara vai se assanhar para cima de mim, aí vou eu e me envolvo com uma mulher.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now