Capítulo 28

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Diante da situação complicada que havia se formado, acabei agarrando na mão de Jaqueline e a levando daquele bar, sob os olhos de todos os presentes. "Detesto gente indiscreta. Nem se pode mais chorar num bar numa segunda-feira à noite que todo mundo repara."

Segui com ela para meu carro e, praticamente, a coloquei sentada no banco do carona, dando a volta e entrando na posição do motorista. Aquela história estava muito mal contada.

- Isso não faz sentindo, Jaqueline. - Falei respirando pesadamente e a fitando.

- Eu sei que parece estranho... mas é a verdade. - Ela falou ainda se debulhando em lágrimas.

Passei as mãos pelos cabelos e suspirei fundo, tentando me acalmar e trazer um pouco de racionalidade para aquele momento.

- Se é assim, como você está falando, como conseguiu me encontrar todos esses dias que me perseguiu? Como está aqui agora? - Questionei a olhando. - Afinal, se ele nem pode sonhar que você está falando comigo, como você está aqui agora... na minha companhia?

- Eu menti, dizendo que estaria na casa da minha mãe esses dias que fiquei aqui sem ele e agora ele me deixou na portaria do apartamento da minha irmã. - Falou, mas eu ainda não conseguia acreditar, afinal, Janaína era irmã dela, mas não mentia para mim. Mentiria?!

- Desculpa, mas é difícil acreditar. - Falei suspirando e olhando para fora.

- Eu sei que é, mas é a verdade... - Jaqueline falou, mas a cortei.

- Jaqueline, você já mentiu para mim antes, aceitou dinheiro do meu pai, fugiu com o Túlio... o que te faz acreditar que vou confiar em você nesse instante? - Inqueri a encarando séria. Era história demais para um conto só.

- Eu posso te provar. - Falou acendendo a "lanterna" do celular e erguendo a blusa, o que, confesso, me deixou desconfortável. Porém, assim que ela ergueu até a altura de seu estômago, pude ver um grande hematoma, bem na altura de sua costela esquerda, o que me fez arregalar os olhos assustada. - Ele me fez isso ontem, assim que chegou e descobriu que eu vim para o Rio sem ele.

Levei a mão a boca, tentando controlar a respiração diante daquela imagem. Era informação demais.

- Não... - Tentei falar, mas as palavras não saíam.

- Eu sei que não sou digna de sua confiança, mas ele é louco... vivo sobre suas ameaças... - Abaixou a blusa e voltou a chorar. - Eu não tenho nada... ele me tirou tudo, ele controla tudo... Não aguento mais, Fernanda. - Disse se jogando em meus braços e começando a chorar. Eu não sabia o que fazer.

- Por que não o denuncia?! Jesus, Jaqueline. - Tentei metabolizar aquilo tudo, enquanto ela estava agarrada a mim, chorando.

- Vivemos num país estrangeiro, Fernanda. - Respondeu erguendo a cabeça e me encarando. - Eu não conheço muita gente lá... ele está com todo meu dinheiro em seu poder, é advogado e tem contatos diversos. Eu estou sozinha lá. - Sussurrou me olhando.

Bufei cansada, passando as mãos pelos cabelos e tentando entender tudo que estava acontecendo naquele momento. Era informação demais, coisas demais. Jaqueline já havia me enganado antes, ela escolheu fugir com Túlio, ela escolheu aceitar o dinheiro do meu pai, não foi obrigada a nada disso, porém, se era mesmo como ela estava falando, não podia fechar os olhos para essa situação absurda.

- Vem... vou te levar para meu apartamento... Lá vamos poder conversar e você me explica isso detalhadamente. - Falei me desvencilhando dela e ligando o carro.

Antes de sair, mandei uma mensagem para Marcela, avisando que levaria Jaqueline e pedindo para ela me aguardar, pois eu precisaria de sua ajuda. Como sempre, ela só respondeu com um "ok", mas eu sabia que poderia confiar nela, não só por ser uma pessoa neutra àquela situação toda, mas também por ela sempre pensar de uma forma analítica.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now