Capítulo 36

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Estávamos no hospital onde Jaqueline estava recebendo o atendimento devido aos ferimentos que tinha pelo corpo. Já havíamos ido a delegacia, ela tinha passado por um exame de corpo de delito e prestado depoimento, sendo acompanhada em todo o processo por Hilda.

Eu me sentia muito desgastada com toda aquela situação em que havia sido jogada de uma hora para outra. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, eu me imaginaria estar com minha ex - que me abandonou para se casar com meu "irmão" - no hospital, após ser agredida por ele e, o pior, para se defender dele, tê-lo atingido com uma garrafada na cabeça.

Não sabia ao certo que horas eram, só sabia que era tarde o suficiente para, na manhã seguinte, eu estar como um zumbi transitando pela cidade do Rio de Janeiro.

Estava sentada na sala de espera do hospital quando Marcela se aproximou, trazendo um copo fumegante de café para mim.

- Bebe, vai te ajudar a aguentar essa barra. - Minha amiga falou, se sentando ao meu lado e dando um sorbo na bebida que ela trazia.

- Obrigada. - Respondi desanimada, pegando o copo da mão dela e dando uma boa golada.

- Alguma notícia dela? Os médicos já te deram alguma informação?

Suspirei pesado me recostando na cadeira desconfortável. - Ainda não... ela ainda está sendo consultada por um médico do plantão. - Respondi cansada.

- Entendo. - Foi o único que Marcela falou.

Ficamos ali, sentadas em silêncio diante de todo aquele peso que hospitais traziam, quando vimos Janaína voltar. Ela havia ido ligar para a mãe e o padrasto, para avisar o que estava acontecendo.

No começo, tanto ela quanto Jaqueline se recusaram a avisarem Dona Aurélia, mas eu insisti, afinal, a mulher merecia saber o que sua filha estava passando. Eu sabia que ambas tinham motivos distintos para não quererem comunicar a sua progenitora. Janaína, por não querer preocupar a mãe e Jaqueline, bem, ela não queria que a senhora soubesse tudo que ela estava passando, mas, àquela altura não tinha mais jeito, ela precisava do apoio da família para o que estava por vir.

- Falou com sua mãe? - Marcela perguntou.

- Não... - Janaína respondeu se sentando próximo a gente. - Assim, não falei direto com ela, pois não quero que ela se preocupe demais. - Começou a explicar, se inclinando sobre mim e apoiando a cabeça em meu ombro. - Falei com meu padrasto, ele disse que vai conversar com minha mãe amanhã... melhor assim. - Falou suspirando ruidosamente.

Eu só balancei a cabeça em um sim. Realmente, já chega ela ter ligado tarde da noite para eles, dizer que a irmã estava no hospital por ter apanhado do marido e, ainda por cima, ter parado na delegacia por ter agredido ele em legítima defesa, causaria um transtorno monstruoso para a mulher.

- O médico não falou nada? - Foi a vez de Janaína perguntar. Realmente, havia quase uma hora que estávamos ali e nada de uma notícia. Sei que ela não estava para morrer, apesar de estar bem machucada, mas aí era demais.

- Ainda nada. - Marcela respondeu, estendendo seu copo para Janaína, que pegou bebendo do líquido rapidamente.

Permanecemos ali esperando. O tempo passava e nem assunto para nos distrair nós tínhamos. Nós três estávamos mergulhadas em nossos pensamentos, análises da situação toda. "Pelo menos uma vez na vida, eu queria desligar minha cabeça um pouco" pensei exausta.

O silêncio, quebrado uma vez ou outra por alguma "emergência", pairava pelo ambiente do hospital, o que deixava tudo ainda mais difícil para mim. Só queria acabar logo com aquilo para poder ir embora e tocar minha vida, mas, cada passo que eu dava para me afastar, mais eu me aproximava daquele entrave maldito.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now