Capítulo 30

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Depois da "conversa" com Jaqueline em minha casa, minha semana passou sob uma perspectiva lenta e entediante.

Marcela estava investigando, junto a seu amigo, sobre a vida de Túlio e minha ex na Austrália durante todo esse tempo que eles viveram lá. Apesar de eu saber que ela estava a par de tudo que ele descobria, ela não me falava nada com a justificativa de só me comunicar quando toda a "investigação" estivesse completa. Isso estava me deixando pelas tampas, mas eu estava me segurando.

Jaqueline não voltou a me procurar depois do que aconteceu lá em casa. A única que esteve com ela e seu marido foi Helena, que acabou encontrando com eles num clube que meu pai era sócio antigo. Minha irmã falou que minha ex ficou o tempo todo de óculos escuros e evitou falar com ela – o que Helena agradeceu, pois não queria vê-la nem pintada.

Saber que ela estava de óculos escuros o tempo inteiro mexeu com minha cabeça e acendeu, mais uma vez, o sinal de alerta em meu subconsciente, pois, todos sabem como uma mulher que apanha do marido costuma se portar para esconder as marcas das agressões e óculos escuros é uma dessas maneiras.

Eu não queria deixá-la desamparada, podem me chamar de trouxa, mas não consigo ver essas coisas acontecendo e fingir que não me atingem. Tanto que já havia me encontrado com Hilda para conversar com ela sobre o assunto e ela, assim como Marcela, me aconselhou a aguardar o resultado da tal investigação, mas se prontificou a já começar a mexer seus pauzinhos para quando o momento chegasse poder agir.

Aproveitando o ensejo, resolvi participar Janaína do caso, para ela poder ajudar caso algo ocorresse. Óbvio que não daria refúgio para Jaqueline em meu apartamento caso Túlio perdesse as estribeiras e ela precisasse se afastar dele, mas, cá entre nós, Janaína é irmã dela. Nada mais comum ela ajudar, né?

- E por que eu faria isso? - A garota me perguntou, me deixando de boca aberta.

- Como "por que" você faria isso?! Ela é sua irmã, Janaína! - Respondi abismada com sua postura. Sabia que elas não eram unidas, mas daí é demais, não?

Hoje é quinta-feira e eu liguei para ela para conversarmos. Eu queria prepará-la sobre o caso de Jaqueline e pedir para ela a abrigar no caso dela precisar. Marcamos em um barzinho próximo a Faculdade onde ela estudava, de preferência em um horário de aula vaga.

- E isso, o que tem a ver? - Janaína, que trajava vestes todas brancas, voltou a perguntar. - Eu sei que ela é minha irmã e isso não vai mudar, Fernanda... mas Jaqueline é difícil demais. - Falou bebendo do suco que havia comprado para ela. - Soberba, vai chegar lá em casa querendo mandar e desmandar...

- Isso não é desculpa para você não querer ajudá-la, Janaína. - Eu disse escandalizada com sua atitude. Eu sou a única que se preocupa com essas coisas de violência doméstica?! Não é possível!

- Não disse que não vou ajudá-la... só disse que não quero ela no apartamento em que vivo. - Falou displicente.

- Ahh é! E vai ajudá-la como? Posso saber?! - Questionei.

- Tenho uma grana guardada... uma amiga tá alugando uma vaga onde ela vive, vai servir por um tempo. - A garota respondeu rindo sarcasticamente e me fazendo rodar os olhos.

- Janaína... - Suspirei passando as mãos pelos cabelos. - Aquele apartamento é mantido por mim... está alugado em meu nome e eu estou dizendo que ela vai ficar lá se precisar. - Falei determinada. - E ponto final.

Janaína me olhou com o cenho franzido, claramente contrariada diante de minha resolução, mas não tinha jeito, a garota estava sendo extrema demais para meu gosto. Onde já se viu.

Sombras do Desejo (Romance Lésbico)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora