ADOLESSÊNCIAS - VERSÃO 2018

1 I Simplesmente acontece

Bernardo, Janeiro de 2013.

Dizem por aí que toda história adolescente começa quando você se apaixona pela primeira vez e tudo ao seu redor passa a ser colorido. Ou quando você dá o seu primeiro beijo na tal pessoa que te faz delirar de paixão e depois ela te pede em namoro. Ou quando se é gay e decide assumir para todos o que sempre foi e sentiu. Bom, por várias formas clichês você pode começar a contar sua história e por mais que eu tenha passado por tudo isso – sim, meu primeiro beijo foi daqueles românticos, o pedido de namoro mais ainda e sim, também sou gay – não é essa a história que eu gostaria de contar.

Meu nome é Bernardo e minha história inicia no dia em que decidi recomeçar tudo do zero. Até porque ninguém está disposto a gastar seu tempo falando sobre algo que já passou. Sim, a primeira paixão ou o primeiro amor – se é que posso dize–lo já que pra mim amor deveria ser recíproco – não durou, nem sequer sei se chegou a existir de verdade.

Cá estou eu, ainda com o coração ferido por ter sido tão estúpido em dedicar tanto de mim a um cara que só soube ser escroto comigo. Mas é como meu melhor amigo diz: a gente nunca perde em dar amor. O que vale é que o que está por vir promete ser ainda melhor do que aquilo que já foi enterrado.

O celular vibra. É uma msg do Tarso. Ah, este é o meu melhor amigo.

– Ei mozão. Tô chegando ai...

– Caralhooo, caí no sono e perdi a hora. – Respondo ainda meio sonolento.

– Porra, Bernardo. Essa festa tá combinada desde o mês passado.

– Tarso, eu me arrumo em 5 minutos se quiser. Tu sabe que nem queria ir e só vou por tua causa. – Na verdade eu queria ir sim, mas tava fazendo um draminha com o Tarso que quer sempre ser o primeiro a chegar nos lugares.

– Vc precisa se animar, B. É a tua vida que tá passando e você tá desperdiçando dentro de um quarto abafado. Tu é a minha pessoa e me dói te ver assim. Não vou permitir que tu continue dessa forma. Vai sair hoje nem que eu te arraste! E quem sabe algo bom lhe aconteça hoje?! Quando a gente menos espera, coisas boas simplesmente acontecem...

Não respondi Tarso porque eu já estava levantado procurando uma roupa de boa no meio da bagunça do meu quarto. Na verdade, nem tinha nada a dizer, pois sabia que ele tinha toda razão. Já faz um mês que as coisas desandaram e, desde então, simplesmente respiro porque é uma obrigação e sinto que deixei de viver a vida. Poxa, falar em vida é perceber o quanto ela é engraçada, quando pensamos que estamos no caminho certo, algo dá errado..., mas foda–se. Tarso tem razão. Ele sempre tem razão. Vai que hoje acontece algo bacana e é óbvio que qualquer coisa que possa me acontecer vai ser bem melhor do que as últimas frustrações. Ou não. Não vou esperar pra ver.

Ouço o barulho da buzina entrando pela janela do meu quarto e logo em seguida os gritos de Tarso.

– B! Desce logo mozão!

Em seguida meu pai me chama da sala.

– Filho, Tarso tá te chamando lá embaixo.

– Eu escutei, pai!

Desliguei o som pois amo escutar músicas que dão o ânimo que eu não tenho naturalmente – posso compartilhar minha playlist depois – peguei a carteira e fui saindo, mas meu pai como sempre repete o sermão:

– Filho, pegou a camisinha?

– Peguei, pai! – Meu pai é desses desconstruídos, pra minha sorte!

– Cuidado nessas noitadas Bernardo, existe muito ódio por aí, filho. Fico preocupado contigo. Nem durmo. E ainda com sua mãe longe, aí que eu fico doido.