20 I Isso é um obstáculo [?]

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Enzo, Fevereiro de 2013. [1/2]

Depois da minha primeira vez com Bárbara as coisas ficaram melhores pra caralho. Eu tô bem mais confiante em relação a gente e não vejo a hora de transarmos de novo. Ontem fui almoçar na casa dela, mas acabou não rolando nada... Acho que fizemos certo em esperar um tempo, pois pudemos nos conhecer melhor e também porque o nosso amor se fortaleceu. Eu amo essa garota, já disse isso? Quero muito que a gente dê certo pela frente. As aulas estão voltando e eu tô trabalhando agora, então as coisas vão ficar mais difíceis de certa forma, só que eu realmente espero que a gente sobreviva aos obstáculos.

Chamei Bárbara para vir aqui em casa e passarmos o dia juntos. Aqui sim seria um lugar apropriado pra rolar uma segunda transa. Espero que role haha. Sobre o meu trabalho, trabalho de segunda a sábado à noite e nos domingos eu folgo. Hoje é sábado e temos a tarde toda pra curtirmos juntos. Daí a Marina também resolveu fazer uma reunião na casa dela pré–volta as aulas e como todo mundo aceitou, vamo também. Enquanto eu tiver trabalhando a Bárbara vai com os meninos e depois eu os encontro por lá.

Resolvi que iria preparar um almoço para gente. Adoro cozinhar e ainda mais pra minha namorada. Como ela ama fricassê de frango, fui ao mercado comprar os ingredientes que necessito. Antes tinha que limpar a bagunça do meu quarto que tava bem sujo, por sinal. Como eu digo, meu quarto é minha casa ou minha casa é meu quarto, isso de forma literal. Moro num kitnet e se eu não limpo, não vai ter alguém pra limpar. Não que eu ache injusto ou algo do tipo. É só que não dá pra ter preguiça quando se tem uma namorada e tu quer recebê–la da melhor forma. 

Ah, meus pais moram numa cidade próxima daqui. A cidade é pequena e as vezes eles aparecem. Até um tempo atrás moravam aqui na cidade, mas meu pai ficou desempregado e as coisas ficaram bem difíceis se acumulando com outras situações que não me faz bem lembrar... Daí quando ele conseguiu um emprego fora, eles mudaram pra lá e eu fiquei. 

Fiquei porque sou bolsista no colégio e ele é muito bom, não o melhor, mas ainda assim vale muito a pena. Ainda mais eu que quero tentar direito, preciso me esforçar. Consegui a bolsa quando meu pai resolveu me tirar do colégio e os pais dos meus amigos, juntamente dos meus amigos marcaram uma reunião e exigiram uma postura dos diretores. Eu tinha estudado lá minha vida toda, acho que isso contou muito na hora que ganhei a isenção das taxas. Ah, minha irmã também se foi...

Sobre o kitnet que vivo, quem paga é o Sr. João, pai do Bernardo. Eu tinha começado a trabalhar no cinema às noites justamente para pagar minha moradia e daí com a grana que meu pai mandasse eu poderia sobreviver durante o mês. Mas o João, que é um tiozão pra mim, foi na imobiliária e quitou um ano de aluguel. Disse que era um presente irrecusável. Eu até tentei devolver com o salário seguinte, mas ele não aceitou. Fiquei bem grato por aquilo, espero algum dia retribuir o que ele e Bernardo fizeram e fazem por mim. Então dá pra eu viver bem com a grana que recebo. As coisas estão melhorando com os meus pais e acho que eles vão se estabilizarem logo. Tento sempre guardar uma grana na poupança, porque se tudo der certo, no terceiro ano eu pretendo estudar apenas. Quero tentar a federal e cada ano que passa fica mais concorrido.

– Bom dia, amorzão da minha vida. Sei que tu ama acordar tarde, mas não demora aparecer aqui. Tô morrendo de saudade de tu! Acabei de limpar aqui e tô indo no mercado. Te espero em 30 minutos. Ps: tô afim de repetir... /do seu amor Enzo.

– Seu safado! Já já chego aí, amor! /do seu amor Bárbara.

Joguei uma água no cabelo porque eu sempre acordava com ele todo pra cima, peguei a chave da tranca da bicicleta e fui. É óbvio que eu iria no mercado das promoções. Quando se é independente, tem que ser mais esperto que o normal. As coisas estavam tranquilas só até o momento em que fui no estacionamento do mercado pegar minha bicicleta e ela não tava lá mais. Meu coração acelerou porque, caramba, alguém tinha roubado algo que eu nem havia acabado de pagar. Aquilo soou ruim pra mim. Daí comecei a ouvir uns gritos lá da rua, o que me assustou. No entanto, algo dizia que aquilo tinha a ver com a minha bicicleta roubada. Saí correndo pra ver o que estava acontecendo...

ADOLESSÊNCIAS - VERSÃO 2018Where stories live. Discover now