3 I Arrisque se for capaz

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Caleb, Janeiro de 2013.

O dia começou estranho. Uma sensação de ansiedade em relação aos acontecimentos de ontem foram surgindo e logo perdi o sono. Não aguentei as neuras da Marina pra ter que suportá-la mais uma noite. Além de que, quando todos decidiram levar o Arthur pro hospital, preferi vir pra casa. O Bernardo, o cara lindo que conheci no meio daquele dia de merda e que fez com que a noite melhorasse pra caramba, me deu um abraço forte e disse pra eu enviar uma mensagem pra ele. Mas depois da declaração do Arthur – todo ensanguentado – é melhor ficar na minha. Neste ano preciso estudar bastante e não posso me envolver com um cara que acabou de sair de um relacionamento com outro que diz amá-lo, isso só vai me atrapalhar.

Tudo bem que estar com Bernardo ontem foi tão... tão legal. E, acho que ele me curtiu também. Foi o que pareceu. Eu nunca tinha me sentido tão seguro em falar certas coisas pra um cara, tipo dizer que tava interessado nele. Só de pensar nisso já me bate uma vontade de mandar um oi. O fato é que tô confuso. Pronto!

O celular vibra com uma mensagem.

– Bom dia, gostosão! – O número desconhecido não era o mesmo que Bernardo tinha me passado.

– Oi. Quem é? – Questiono.

– Adivinha?

– Beleza. Não vai dizer quem é, então vai se ferrar.

– O cara que você tava afim de chupar ontem...

O que concluí nos últimos meses é que tá cheio de gente escrota no mundo. É a terceira vez que isso acontece nos últimos dois meses. Esse teor de mensagem e sempre num número diferente. Provavelmente não é a galera de ontem, sei lá. Eles nem me conheciam quando essas mensagens começaram a aparecer.

Alguém bate na porta. Quem seria? São sete da manhã. Corro pra colocar alguma bermuda e vou atender. Eu tô sempre pelado em casa, quando estou sozinho, claro. Quando abro me deparo com a última pessoa que gostaria de ver por esses dias.

– Oi Caleb.

– O que tu quer Júlia? – Não perco tempo.

– A gente precisa conversar, Caleb!

– Será mesmo que temos algo pra conversar? – Questiono.

– Por favor, me escuta. Você tem que saber o meu lado da história. – Júlia insiste.

– Entra aí, Júlia. Só não estraga mais o meu dia e diz logo o que você quer.

Júlia é minha ex namorada. É negra dos cabelos cacheados e volumosos. Tem quase minha altura e é a única menina que beijei em minha vida. Quando nos conhecemos eu ainda não me imaginava gay, mesmo sabendo quem eu era no fundo. Eu a amava, de fato, porque ela me fazia bem pra caramba, cuidava de mim. Tínhamos uma conexão incrível. Mas eu estava incompleto, mesmo que lutasse para dar certo com Júlia.

Acho que na maioria das vezes as pessoas se assumem gays depois de conhecer alguém ou mais pessoas em que se interessem, que os façam se assumirem e tal. No meu caso apenas decidi que era hora de dizer a Júlia o que eu sentia por dentro, antes que pudesse conhecer um cara de verdade e ferir ainda mais os sentimentos dela. Aquilo me doeu pra caramba, vê–la chorando no tal dia. Só que era a minha vida que estava em jogo e eu precisava ser real.

A merda de tudo isso foi que dois dias depois todos já sabiam que eu era gay no colégio. Júlia havia contado a todos. Sei que ela estava magoada, ou sei lá o que. Eu tentei evitar qualquer problema pra ela e fui retribuído de outra forma. Como as aulas estavam acabando, aguentei mais umas semanas e agora tô vendo onde estudar. Não quero voltar para aquele colégio homofóbico e com gente escrota. Cortei contato com todos, inclusive Júlia que está aqui agora, sentada da minha cama.

ADOLESSÊNCIAS - VERSÃO 2018Where stories live. Discover now