5 I A primeira vez

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Enzo, Janeiro de 2013.

Acho que a melhor maneira de viver é quando tu acorda e tem alegria em viver o seu dia sendo você mesmo. É deitar na cama sabendo que fez aquilo que queria e também sem culpas ou ressentimento de algo que deixou passar. Infelizmente a realidade tenta impedir a gente de ser quem a gente é. Mas eu acredito que essa luta é constante até que um dia não seja mais.

As coisas mudaram muito do último ano pra cá desde que o Tarso chegou no colégio ano passado. O cara chegou e chamou a atenção de algumas gurias lá, mas daí não precisou muito tempo pra dizer que era gay e que não iria rolar. Acho que ele foi essencial pra que o Bernardo e o Arthur se encorajassem e se assumissem também.

Todo mundo ficou surpreso em ver aqueles amigos de anos, do nada, assumirem um namoro. Mas só quem tá de perto sabe que não é de uma hora pra outra que se assume gay. Eu sabia há muito tempo que os dois tinham algo reprimido. Eles não eram totalmente felizes e aquilo me preocupava. Tentava conversar, ajudar, principalmente o Bernardo, mas acho que o Tarso teve uma importância maior nisso.

Depois dessas turbulências e os meninos se abrirem, todos se voltaram para mim, até os meus pais. Um cara que faz ballet, que tem só amigos gays, que é o brincalhão da turma às vezes, mas que é calado e educado na maioria das vezes, deveria então ser gay também. Mas por um erro da matriz eu não sou. De tanto falarem eu até cheguei a me convencer de que não curtia gurias, mas falhei. Falhei (ou não) quando conheci Bárbara. Já tinha ficado com outras mulheres antes, mas cara, essa daí mexe comigo de uma forma inexplicável. Ela também pensou que eu fosse gay quando chegou no Ballet depois de mudar pra cá. Foi uma loucura, mas essa história fica pra outra hora.

 Foi uma loucura, mas essa história fica pra outra hora

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Tem só um problema na minha relação com os meus amigos. Eu pensei que depois de tudo isso a gente fosse ficar mais aberto uns com os outros, mas acho que o que aconteceu foi o contrário. Qualquer problema que eu passasse e pensasse em conversar com eles, resolvia deixar pra lá porque os problemas deles deveriam ser bem maiores. E são. O preconceito e o ódio que o mundo enfrenta, principalmente os gays, é gigante e não se compara com os meus problemas. Mas tem hora que a gente quer conversar e é ruim pensar que não tem a quem recorrer, mesmo que eu tenha. O que eu não arrependo é ter esse pessoal na minha vida. Eu amo essa galera e farei tudo de novo se for preciso e agora que também tenho a Bárbara, não preciso de mais nada! Eles me fazem ser melhor a cada dia.

Hoje pode até ser um dia normal pra todo mundo. Não pra mim, que parece que vou ter um ataque. Caramba, eu e Bárbara vamos transar pela primeira vez! Juntos, quero dizer. Eu sou um baita de um virjão, Bárbara não. Isso me deixa inseguro, mesmo que ela tente me tranquilizar. O problema não é ela não ser mais virgem, isso é de boa pra mim. Eu tô com medo é de não conseguir dar conta do recado que é satisfazê-la. Os meninos são todos gays, não vão saber me ajudar, eu acho. Eu tô tentanto seguir minha própria visão de vida, de fazer o que eu sinto, sem preocupação, mas eu tô nervoso pra caralho.

ADOLESSÊNCIAS - VERSÃO 2018Where stories live. Discover now