Cap 1

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Uma visão do passado:.

Sempre achei complicado pensar em me apegar a alguém. Essas relações líquidas só me faziam ter mais convicção que estava certo em não me entregar de verdade, mas infelizmente o coração não é um músculo racional. Fazer o que, né?!

Lembro bem do dia em que definitivamente prestei atenção em Paulo Gustavo. Ele estava lindo.

Ele está encostado na parede de quadra, tagarelando junto aos amigos. Hoje era o dia em que o 1 ano tinha aula com eles. Não que fosse a primeira vez, mas só esses últimos dias que eu realmente vim prestar atenção nele.

Saio do meu devaneio quando a professora pede que todos se juntem. Começo a soar pelas mãos quando percebo a aproximação dele, imediatamente fito aqueles olhinhos verdes tão cintilantes. Uma galáxia. E como eu queria poder fotografar.

- Ei? Quer uma bala?

Ofereceu ele, tirando do bolso da calça, uma das minhas balas preferida. Em seguida estendendo para mim, que logo pego, e agradeço. Meus amigos me olham de canto, como se eu tivesse fazendo a coisa mais abominável do mundo. De certo modo, eles achavam que se misturar com os alunos de outra sala, era algo fora de contexto. Principalmente com os veteranos, que eles tanto diziam serem "amostrados".

- Turma, como vocês já sabem, acontecerão os jogos escolares, as apresentações de teatro, e de música. E eu sei bem o quanto isso é importante para cada um de vocês. E por isso os trouxe até aqui. Para que se enturmem mais, para as futuras apresentações em grupo.

Balanço a cabeça concordando, até um certo momento. Ergo uma sobrancelha e encaro a mais velha.
Que ótimo, agora eu teria que aguentar as reclamações dos meus amigos, por isso.

Pego meu celular quando sinto o mesmo vibrar em meu bolso e vejo a mensagens do meu ex, querendo sair comigo, mesmo que por "coincidência" ele tivesse faltado hoje, por ter dito que estava doente. Reviro os olhos e guardo sem responder.

Me senti meio apático, quando todos os alunos começaram a ir até uma parte da quadra. Mas de repente sinto dedos fechados no meu pulso, que logo escorregam e encontram os meus, se entrelaçando. Era Paulo, me guiando até o local que deveria ter sido dito pela professora.

Acredito que Paulo não tenha noção do que esse ato significou para mim, mas a sensação que eu senti naquele momento, foi melhor do que qualquer uma sentida.

Sabe a mente humana? Aquela parte de um todo que é muito estudada e pouco decifrada entre os seres? Ela pode ser mais misteriosa do que suponhamos.
Eu li em algum canto que o cérebro humano passa no máximo quatro horas por dia nos enganando. E que ao longo da evolução foi descoberto que o cérebro pode mentir para o seu próprio dono, podendo descartar informações, manipular raciocínios e até mesmo inventar coisas que não existem.

Quando todo o ensaio acabou, fomos liberados e eu segui junto dos meus amigos para nossa sala, enquanto Paulo era rodeado de várias pessoas. Encaro aquela cena com os olhos turvos e balanço a cabeça negativamente, logo saindo dali.
Ao chegar na sala, me sento em minha cadeira e pego o caderno.

- Ei? Posso ir dormir na sua casa hoje? Podemos aproveitar e adiantar o seminário de Química.

Diz Igor, mas eu apenas balanço a cabeça assentindo. Ele sorrir e se senta na cadeira da frente. Todos se sentam em seus devidos lugares, e a professora começa a dar aula.

Decido tentar me concentrar, mas tudo sooa meio invertido e fora do lugar. Pareço não saber a direção certa mesmo que eu saiba; minhas mãos tremem quietas para não servir de alerta para quem as veja, enquanto o estômago e o peito parecem encolher e me autodigerir

Tento não olhar para as horas que se passavam arrastando, mas era impossível. Quando finalmente somos liberados, saio praticamente correndo da sala para o banheiro, e esbarro em vários pessoas, inclusive em Paulo.

- Desculpa!

Falo e ele balança a cabeça assentindo, com um meio sorriso nos lábios. Sorrio em resposta e me afasto dele, indo até o banheiro. Parei em frente a pia e lavei meu rosto.

O que acontecendo comigo? Eu não faço idéia, e esse é o meu medo.

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