Capítulo X -Aizawa questiona as suas escolhas na vida - Parte I

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"A única verdade simples é que não há nada simples neste complexo universo. Tudo se relaciona. Tudo se conecta."

Johnny Rich, The Human Script

Dois anos, oito meses e 2 dias atrás.

Seu despertar foi abrupto. Os olhos se arregalando na penumbra, a respiração presa em sua garganta e o coração acelerado.

-Oka-san? – chamou confuso, olhando o desconhecido ao redor. Estava deitado em um sofá, com um cobertor em cima de seu corpo. Não conseguia ver muito além de uma janela de vidro a sua frente que mostrava uma chuva torrencial lá fora. Ele nunca dormia bem na chuva.

-Oka-san? Onde...

E foi quando lembrou. O sono sumindo completamente, na sua mente as memórias do prédio, do hospital, do abrigo. A viagem de carro até ali com um homem até então desconhecido. Ele não fazia ideia em que parte da cidade estava no momento. Ele nem mesmo lembrava de ter saído do carro. Não tinha certeza se havia dissociado, ou apenas dormido.

-Takashi-san?

Não houve resposta e sentou no sofá, ponderando em explorar seus arredores com o risco de acabar fazendo algo errado. Ele não sabia o quanto poderia puxar Takashi, ele era uma incógnita no momento.

No fim, a urgência de conhecer o ambiente falou mais alto e deixou seus pés tocarem o chão frio de madeira, caminhando ao redor em passos gatunos. Com os olhos se acostumando à pouca luz notou que o quarto não era exatamente um quarto, mas todo um espaço, como um galpão. Na penumbra conseguia ver paredes de madeira escura, e ao olhar o teto viu que a fonte de luz era uma lâmpada solitária pendurada ali.

Olhou pela janela e notou que estava no segundo andar. Ficou aliviado ao ver a torre de Hosu ao longe. Podia ver o rio também. Ainda estava na cidade. Olhou para baixo e viu os comércios fechados. Já era noite, sem dúvidas. Ele havia perdido um dia inteiro, o que o deixou confuso. Ele não dormiria tanto, mesmo exausto. Ainda mais em companhia de um desconhecido.

Balançou a cabeça e olhou ao redor. Não havia muitos móveis, apenas um frigobar quase vazio exceto por enérgicos, algumas frutas e água.

'Que tipo de pessoa viveria assim?' Ponderou avaliando ao redor. Havia o mínimo ali. Nenhum lugar aparente para dormir além do sofá. Viu uma mesa de centro, apenas uma cadeira. 'Ele vive sozinho.'

O lugar tinha um ar de temporário, mas ao mesmo tempo ao notar os pratos na pia, frutas apodrecendo e as coisas no pequeno armário abaixo do balcão mostrava que ele vivia já há um tempo aqui.

'Oka-san nunca falou dele, mas ele estava na cidade. E perto. Há quanto tempo ele estava aqui?'

Procurou mais pistas ao redor, montando uma imagem mental da pessoa que vivia ali. No banheiro pequeno havia produtos de limpeza em frascos de viagem, conseguia ver que muitos eram amostras de hotéis. Vários hotéis. Encontrou um kit de primeiros socorros e ficou surpreso com a quantidade de coisas ali. Nem sua mãe que era enfermeira e insistia em ter tudo em casa tinha tudo aquilo. Fios de sutura, anestésicos, ataduras, gaze, iodofórmio e clorexidina e mais qualquer coisa que conseguisse pensar.

'Ele deve se machucar bastante. Ou ser muito paranoico.'

Guardou tudo no lugar cuidadosamente e viu uma mala  fechada no canto. Fechada com um cadeado.

'E isso não é nada suspeito?'

Observou que havia apenas uma porta no local, onde devia haver a entrada para o andar debaixo. Se ergueu de onde estava agachado olhando a mala e foi quando sentiu. Uma das madeiras abaixo dos seus pés não parecia firme. Deu um passo para trás, e pisou novamente para confirmar.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now