Capítulo XVII - O paradoxo da força irresistível

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"A maioria dos grandes triunfos e tragédias da história são causados não por pessoas sendo fundamentalmente boas ou fundamentalmente más, mas por pessoas sendo fundamentalmente pessoas."

Good omens, Terry Pratchett e Neil Gaiman

Um ano, cinco meses e dois dias atrás

A história repete a si mesma, como um ciclo sem fim. Talvez fosse pelo fato de os humanos terem uma terrível memória, mas a verdade é que todos os erros cometidos, já foram cometidos mais de uma vez.

Isso era um pensamento que assustava Izuku. Debruçado sob os livros da história do surgimento das quirks, ele conseguia enxergar um padrão nos eventos que aconteceram: um grupo em minoria sofrendo ostracismo, uma rebelião, o desmoronamento social para ressurgir um novo cenário.

Era como um espelho, o passado e o agora, apenas com papéis invertidos. Ele conseguia ver o caminho com clareza, e um ponto em comum em tudo isso: Pessoas que não estavam satisfeitas em seguir leis as quais não acreditavam.

— E assim começou a blitz.

Takashi assentiu em concordância, certa expressão em seu olhar com sua empolgação no assunto.

— Há muito que não vai encontrar nos livros de história, pessoas com quirks no início não tinham direitos, então horrores como experimentação humana e campos de concentração eram comuns. Havia um medo constante. Apenas à medida que a balança pendeu para um lado, que mais e mais crianças nasceram com a mutação, as coisas começaram a mudar. – Takashi fechou o livro enquanto se debruçava nas anotações. – Claro que os livros escondem isso, somos bons em diminuir os horrores que cometemos.

—Com isso começaram a surgir os vigilantes?

— Era a resistência. Eventualmente o Estatuto das Quirks foi escrito, na escola eles ensinam como se isso fosse uma carta de libertação de um governo bondoso, mas a verdade é que eles não tinham escolha alguma, a população havia pendido totalmente para um lado na balança, era xeque mate. Os vigilantes que foram perdoados receberam licenças, e assim nasceram os primeiros heróis, mas não apenas isso.

Virou o rosto, interessado. Takashi o olhou de forma paciente e mordeu o lábio pensativo.

—Vilões?

—Também. – O tio concedeu. – Nem todos os vigilantes foram perdoados, e alguns não aceitaram as limitações claras que a lei colocou neles, era uma coleira em quem antes tinha a liberdade para usar a quirk como bem queria. Então sim, os vilões nasceram aí, mas não apenas isso. Já se perguntou como eles escolheram quais vigilantes receberiam a licenças e quais não? Mesmo dentre os que aceitaram a nova lei, nem todos conseguiram esse benefício.

—A quirk. – Respondeu em entendimento.

—Quirks vistas como heroicas foram aceitas, as que não seguiam essa lógica foram jogadas de lado. Algo que se vê até hoje, o preconceito com as quirks ditas como 'impróprias'. A sociedade cria seus próprios vilões. Eles criam...

—... Seu próprio lixo.

E isso não soava familiar?

— Se não existe isso nos livros, como sabe que aconteceu? – Perguntou, já com desconfiança da resposta.

Takashi sorriu com certa diversão: — Seu pai me contou tudo isso, Izuku. Ele tinha uma opinião bem formada sobre o que achava dessas leis. Mesmo com as mudanças que ocorreram ao longo dos anos, ele sempre achou o Estatuto bem restrito.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now