Capítulo XXI - O Inverno está chegando

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"Homens rasos acreditam na sorte ou nas circunstâncias.

Homens fortes acreditam em causa e efeito."

- Ralph Waldo Emerson

Naruhata.

Um pequeno distrito em Tóquio, consistindo de prédios abandonados e ruas desertas. Anos atrás, foi palco de muitos incidentes envolvendo vigilantes como The Crawler, Pop Step e Knuckleduster, mas hoje o local recebe menos atenção.

Quando Trigger estava em seu estopim no Japão, vários indivíduos foram apreendidos após o uso da droga no distrito. Responsável por um aumento brusco da capacidade de qualquer quirk, porém com o efeito adverso de fazer quem a utiliza eventualmente perder totalmente a razão, usuários de Trigger eram reconhecidos pela cor preta de suas línguas e foram caçados por vários distritos em Tóquio, envolvendo heróis, vigilantes e policiais em sua busca.

Hoje, com pouca atividade da droga em Naruhata, o distrito foi deixado à sua própria sorte, exceto por o apoio policial local e atividades de vigilantes mais cuidadosos.

Em suas ruas escuras, todos já haviam ouvido falar do Red Room. Um pequeno bar e casa de massagem, relativamente bem conservado no centro do bairro da luz vermelha. Em suas ruas de traficantes e prostitutas, o local era uma zona neutra para se fazer negócios, mas também um porto seguro para quem buscava refúgio. Sua dona, Madame Yuu, era conhecida por seu pulso de ferro para os negócios, mas coração mole para adotar mulheres ou crianças em necessidade. Era comum deixarem alguma criança em sua porta, quando eles mesmos não chegavam até lá, na promessa de uma cama quente e ajuda para se colocar de pé. Nos últimos meses um certo vigilante em Hosu tinha tomado como tarefa lhe mandar pelo menos três novas crianças na sua direção, a pequena peste.

Foi assim que anos atrás Madame Yuu conheceu Asahi. Alguém, claramente sabendo bem o que fazia, havia cuidado dele o bastante para sobreviver aos terríveis ferimentos e o deixou na sua porta, com a certeza de que ela não o viraria as costas.

Havia muito que ela não sabia sobre ele, mesmo com o passar dos anos. Ele mostrava modos e conhecimento de alguém de boa família, mas sinais de negligência e abuso como só havia visto nos piores casos que havia recebido de suas meninas. A mente dele parecia em frangalhos boa parte do tempo e demorou muito para que conseguissem o fazer minimamente funcional e começar a ajudar no bar e hoje em dia ele até mesmo ajudava os outros a espantar os clientes mais atrevidos das meninas.

Ele não falava do seu passado, mas ninguém lá falava, então não era um grande problema. Ela nem mesmo comentava sobre as noites em que ele sumia, apenas abafando os comentários sobre ele ter se metido no negócio de vigilantes, algo que ela mais pediu para que não fizesse. O nome Dabi começava a se espalhar pelas ruas, e ela não tinha dúvidas que Asahi era o envolvido.

Madame Yuu sabia que seria em vão tentar o parar. Asahi, ou o que quer que fosse o nome dele de verdade, tinha uma agenda a cumprir. Ela reconhecia nos olhos dele que havia algo que ele precisava fazer, que nunca saia da sua cabeça, mesmo quando parecia quase relaxado carregando bebidas no bar e conversando com as garotas.

Por isso quando o viu tão fixo na televisão nos últimos dias, ela sabia que algo estava vindo. Desde a primeira notícia sobre um ataque em uma escola de heróis, ele parecia inquieto, pensativo. O pegava soltando o ar frustrado. Decidindo algo.

Madame Yuu sabia. Ela o conhecia o bastante. Por isso não se surpreendeu quando ele bateu na sua porta com uma mochila com seus pertences e uma expressão séria.

Ela sabia que esse dia estava chegando.

— Vai voltar?

Ele virou o rosto levemente e então balançou a cabeça.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now