Capítulo XII - O gato e o novelo de lã

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"-Eles acreditavam que a previsão era apenas uma forma de acompanhar as coisas. Se você soubesse o suficiente, você poderia prever qualquer coisa. Isso tem sido uma crença científica desde Newton.

- E?

- A teoria do caos joga tudo isso pela janela."

Michael Crichton, Jurassic Park

Um ano, nove meses e 15 dias atrás

Izuku estava pensando novamente em energia. Era um pensamento bem frequente nos últimos tempos, desde que acabou com a luz inteira do quarteirão por acidente.

Não que alguém pudesse provar que havia sido ele. De jeito nenhum. Nope nope.

-Acho que estou pegando leve com você, se tem tempo de ficar tagarelando, boyo.

Recebeu um chute nas costas e rolou pelo chão do tatame. Mal teve tempo de rolar quando viu um pé em sua direção. Se impulsionou para longe e estremeceu com a força do ataque que quase o atingiu.

Taka não sabia como pegar leve, e havia sofrido muito no começo até conseguir começar a escapar dele.

-Os vilões não vão pegar leve com você. Tem cinco segundos para levantar e vir para cima de mim.

Grunhiu, tratando de obedecer. Silencioso, era assim que havia aprendido. A respiração controlada a cada golpe. Mais fácil falar do que fazer.

Seu jab foi bloqueado facilmente e escapou de um cruzado na cara, quando tentou escapar pela esquerda sentiu uma dor aguda no couro cabeludo quando seu cabelo foi agarrado e puxado com força. Se agachou e deu uma cotovelada no estômago desprotegido do outro que o soltou, lhe dando espaço para respirar e tentar tirar o cabelo da frente dos olhos.

-Use as pernas, você tem pernas por uma razão!

-P.para c.caminhar?

A resposta lhe rendeu outro chute atrás dos joelhos. Despencou com um grito nada digno e queria muito ficar ali mesmo, mas sabia que Taka não ia parar até que tivesse o que queria. Esperou que ele se aproximasse e girou no chão fechando as pernas entre as dele. Braço esquerdo, ferimento de anos atrás, pouca movimentação e articulação mais fraca. Lombar, acidente durante serviço, modo mais fácil de o render rapidamente. Um golpe forte o bastante pode o imobilizar por semanas.

Deitou nas costas dele e girou o braço em sua direção, seu joelho na lombar em ameaça. Sentiu o corpo tenso abaixo do seu, sabia que logo a surpresa passaria e não conseguiria o manter ali. A não ser que atingisse a perna esquerda. Quase podia ver o tecido cicatrizado por baixo da roupa preta. A massa branca e rosa contorcendo tecido e músculo, rompendo ligamentos de forma irreparável e trazendo uma dor crônica que fazia Taka contorcer o rosto toda manhã antes de tomar o remédio e era sua culpa, porque havia sido estúpido e pensado que podia salvar Shigakari, e seu tio e Akira pagaram o preço e...

-IZUKU.

Acordou do transe com um baque e caiu de costas com força no tatame, o ar saindo dos seus pulmões com a pancada. Olhou para cima e viu a expressão preocupada no rosto do tio. Os olhos dele suavizaram levemente e ele sentou do seu lado pesadamente, os dois suados e arfantes pelo exercício.

-Voltou para terra, Boyo?

Assentiu, desviando os olhos e esperando a reprimenda por perder a concentração de novo. Era algo que acontecia com frequência, infelizmente.

– Foi bem. – Piscou aturdido e olhou para o tio, que flexionava o braço dolorido. – Não me olhe com essa cara, eu disse para me imobilizar e conseguiu. Eu sei elogiar, sua peste.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now