Capítulo XVIII - A ponta do fio

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"O problema com as famílias, Arlo pensou, era que sempre havia alguma pergunta que ninguém queria responder por você, e isso era como um fio se soltando em um suéter. Você poderia puxar o quanto quisesse, mas no final, tudo o que você teria seria uma pilha de fios torcidos. "

- Sarah Sullivan, Tudo que está faltando

Aquela expressão era familiar. Izuku tinha o fogo nos olhos do pai dele, sempre havia tido, por mais que o ressentimento o fizesse ter ignorado isso por tanto tempo.

Respiração de fogo não havia nascido com Hisashi, Takashi sabia disso no fim, mas às vezes ele quase podia acreditar que aquele poder sempre havia sido dele e não algo que foi dado, provavelmente depois de ter sido roubado de alguém.

Hisashi, afinal, representava o fogo muito bem. Ele havia sido caloroso quando queria, mas no fim sua capacidade de destruir tudo em que tocava também estava lá, sempre o perseguindo, junto com a verdade sobre o que aquele fogo que ele usava pela comissão havia feito antes mesmo de chegar nas suas mãos.

(A única coisa boa que os dois tiveram a chance de fazer com as quirks deles foi naquele breve intervalo de ano em que foram vigilantes. Depois disso só havia sangue e cinzas. Para Hisashi, antes disso também.)

A relação de Takashi e Hisashi, perto do fim, havia se tornado extremamente complicada. Nem sempre havia sido assim.

Takashi lembrava de um tempo em que os dois haviam sido mais próximos do que ele e Inko jamais conseguiram ser, algo que nunca havia conseguido admitir para ninguém além de si mesmo.

Nos breves meses em que os dois se tornaram vigilantes, quando Inko recuou da atividade, Takashi sentiu que finalmente ele encontrava alguém que o entendia totalmente. Inko tentava, mas ela não poderia entender a escuridão que havia em Takashi como Hisashi, porque ela não a tinha. Inko, afinal, era a criança otimista e brilhante, tão parecida com o tio que nunca conheceram, enquanto Takashi era, como sua mãe sempre disse, o filho do seu pai.

Era uma escuridão bem particular, que nunca era igual em todo mundo, mas que quem a tinha conseguia a reconhecer em outras pessoas. Sua mãe a reconheceu em Takashi, por isso lhe contou as histórias.

Hisashi tinha essa escuridão também. Hisashi o entendia em uma camaradagem fácil. Ele foi a única pessoa além de Inko que Takashi poderia dizer que confiaria cegamente.

Por isso quando ele traiu essa confiança, Takashi sentiu mais do que o ódio e raiva, a tristeza de ter perdido algo que acreditou que possuía.

Com os anos o ódio diminuiu, mas a tristeza encoberta por raiva nunca foi embora. A verdade, que ele lhe contou por completo depois, não mudou isso.

Ele lembrava da última vez em que o viu. Havia sido a última viagem de Hisashi ao Japão, e a comissão os obrigou a trabalhar juntos. Hisashi, claro, aproveitou a oportunidade para ver a família.

Takashi nunca se aproximou da casa, os olhando de longe, enquanto o esperava.

Hisashi mudou o destino do filho naquela visita, mas nunca mais o veria novamente depois disso.

Na época eles não sabiam disso, mas diante da urgência de Hisashi, ele pensava se ele desconfiava disso, que não viveria muito tempo. E por isso ele lhe contou a verdade.

Naquela noite Hisashi saiu da casa e caminhou em direção onde Takashi estava na calçada, o esperando. Ele não sabia há quanto tempo Hisashi sabia que estava lá, mas pouca importava. Ele sempre havia sido bom em encontrar Takashi. Como quando se conheceram e ele o salvou de ser morto quando, logo no começo, mordeu mais do que poderia mastigar.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now