Capítulo XXV - Efeito bola de neve

705 66 118
                                    

"Você não pode esperar que a vida seja justa com seu coração, seu cérebro ou sua saúde. Essa não é a natureza do jogo que chamamos de vida. Você precisa reconhecer a natureza do jogo e saber que pode fazer o seu melhor para fazer as escolhas certas, mas a vida fará o que diabos lhe agradar de qualquer maneira. Tudo o que você pode controlar é como você reage ao que a vida joga em você. "

- Holly Nicole Hoxter, O Efeito Bola de Neve

Quando Takashi era criança, sua mãe costumava o sentar em seu colo e lhe contar histórias. Nunca eram histórias comuns para crianças, não que ele soubesse disso na época. Não, para o pequeno Takashi aqueles eram os melhores momentos do seu dia. Era quando podia se conectar com sua mãe finalmente, um momento só dos dois.

Ele lembrava que ela havia tentado incluir Inko, mas as histórias costumavam assustar tanto sua irmã que ela havia desistido de fazer isso.

"Muito parecida com o tio." Era o que sua mãe falava, a expressão melancólica enquanto observava Inko. "Emocional e boa demais para o próprio bem."

O tio era irmão do pai deles, Takashi sabia disso. Quando pegava sua mãe em um humor nostálgico ela poderia passar horas falando dele, os dois eram melhores amigos de uma vida toda, era o que ela dizia. Ao oposto do pai deles, do qual ela quase não falava nada e quando falava seus olhos sempre ficavam frios, a boca se retorcendo levemente.

"Há certas pessoas, Takashi." Sua mãe havia dito. "Que sobrevivem a tudo. É da natureza delas, fazer qualquer coisa para sobreviver."

E por isso Takashi não sabia bem o que pensar quando sua mãe falava que Inko era parecida com o tio deles, mas Takashi era uma mistura dos pais. Não parecia ser algo exatamente bom aos olhos dela, Takashi sabia. Ainda assim, era essa a razão de Takashi sentar em seu colo e ouvir as histórias, com expressão ávida, tomando cada detalhe.

Anos depois, quando ele retornava para esses momentos, ele conseguia entender finalmente a razão deles aconteceram, o quanto ela estava o preparando para o que estava por vir.

Takashi lembrava particularmente de uma delas, de um conto de Ray Bradbury, O som do trovão. Contava a história futurística, onde viagens no tempo eram oferecidas como passeios. Era sobre um homem que participava de um safári na época pré-histórica, mas havia ido contra as regras do seu guia e por isso pisado acidentalmente em uma borboleta, e assim modificado todo o futuro. A morte de uma pequena borboleta no passado havia mudado toda a linha temporal.

"Um pequeno ato, por menor que seja, pode ter consequências que não podemos nem sonhar em prever."  Sua mãe havia dito, as mãos finas passando em seus fios brancos. "Temos que ter muito cuidado, Takashi, em que borboleta vamos pisar."

O barulho de passos suaves o fez sair das suas lembranças. Ele nunca podia fechar os olhos ou dormir, algo sobre uma das quirks nele, imaginava, mas podia se colocar em um estado mental que era quase isso.

Era como estar preso dentro do seu próprio corpo, onde sua mente pensava rápido, mas seu corpo nunca reagia de acordo. Se perguntava se era assim que Inko se sentia no momento. Izuku havia dito que ela havia dado sinais, finalmente, mas não havia acordado. Eles sabiam que ela estava consciente do que acontecia ao redor, mas seu corpo não reagia a isso ainda.

Takashi apenas esperava que ela não estivesse em dor como ele quando finalmente voltava a sua "consciência." Não importava o quanto manejasse, não deixava de ser doloroso. Seu corpo parecia errado, sua mente quase sempre embaralhada, seus nervos inflamados. O mero ato de se mover parecia uma tortura.

A porta se abriu e Izuku estava lá, com seus muitos gatos pendurados nele, olhos grandes e ansiosos enquanto arrastava um monitor nos braços. Notou de forma curiosa que o cabelo dele estava diferente, com um penteado trançado no topo da cabeça. Provavelmente ele havia visitado a famosa Rei novamente na noite passada.

A teoria do caosWhere stories live. Discover now