0. Prólogo

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O Começo

Naquele dia, especificamente naquele dia, eu me arrependi amargamente de ter saído de casa. O céu estava propicio para um enterro. Nebuloso, cinzento e extremamente sombrio. Com direito a uma chuva depois que sai de casa. Eu estava com meu moletom degastado com o desenho enorme do Mickey repaginado após fazer duas sobrancelhas arqueadas por tentar consertar a linha que tinha escapado em alguma das suas lavadas. Eu estava adorável, principalmente com o meu gorro verde com orelhas de gatinho e o tênis azul berrante que eu tinha comprado recentemente.

Correr as cinco horas da manhã sempre fez parte da minha rotina, da qual eu cumpria religiosamente todos os dias, mas naquele dia chuvoso, era um desafio e tanto, principalmente a tentação de continuar debaixo das cobertas e esperar o alarme gritar no meu ouvido anunciando que eu tinha horário para chegar no colégio.

Acabei demorando um pouco mais por ter feito um rumo diferente, fui até o centro comprar algumas coisas para minha vó, algum dos seus vícios: Torta de frutas vermelhas. Rodei a cidade inteira atrás dessa torta, afinal, quando a senhora Gwendoline diz sobre seus desejos gastronômicos, é melhor satisfazê-la, a não ser que queira ficar o dia inteiro ouvindo-a falar sobre.

Minha vó diz que se acostumou dessa forma por causa do meu avô, que sempre a mimava de todas as formas, seja para agrada-la, para pedir desculpas ou até mesmo para ouvir algum "sim". Era injusto, mas eu tinha que admitir que era uma chantagem esperta.

Eu estava andando calmamente em direção a minha casa, carregando uma sacola com um pedaço generoso de torta, quando aconteceu... Tudo aquilo.

Foi tudo bem rápido.

Envolvia um menino de cinco anos atrás do seu cachorro e um carro preto.

Uma criança correu da mão do seu pai, indo em direção ao cachorro que tinha escapado do seu colo e atravessou a rua sem se importar com os carros em movimento. Após isso, surge o carro negro, que desviou do cão e da criança, vindo diretamente na minha direção.

Eu adoraria contar essa história e dizer que um homem alto, lindo e musculoso, de tirar o fôlego, surgiu de repente e impediu que eu fosse atingida, mas não foi exatamente isso que aconteceu.

Lembro-me que afastei ás pressas, tropecei em meus próprios pés e cai com a bunda no chão. Por sorte, muita sorte mesmo, não fui atingida. O carro conseguiu desviar da minha direção e acabou batendo num poste.

O choque foi maior do que eu tinha pensado. Fiquei longos segundos, talvez minutos, sentada no chão encarando o asfalto da rua e vendo a movimentação ao meu redor, completamente paralisada.

Depois de um tempo, a realidade caiu em cima da minha cabeça. Olhei para o lado e vi a torta da minha vó no chão, dilacerada e, não muito longe, o carro preto com a frente toda amassada. Parecia uma arte abstrata, o carro e a torta, destruídos.

A barulheira atraiu público de todos os lados. Eu estava mais perto e apesar de querer furar os pneus e riscar o vidro do imbecil que quase me atropelou, eu corri até o carro.

– Ei! – chamei pelo motorista sem conseguir ver quem era por causa do vidro escuro – Você está bem?

Corri até porta do motorista e abri, apressada. A primeira coisa que reparei foi na música que tocava, da mesma banda que tocava em meus fones. O motorista estava tentando desfivelar o cinto do carro e eu fiquei aliviada por ele estar se movimento, um sinal de que estava consciente.

– Senhor, você está bem? – perguntei educadamente, mesmo após ser quase atropelada pela sua falta de atenção.

– Eu não sei, acho que desaprendi a soltar o cinto! – a voz familiar fez meu corpo inteiro arrepiar, até o último fio – Eu tinha que levar os documentos para o meu pai, droga!

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now