2. Trio Infernal

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Aperto a campainha pela décima vez, segurando minha mochila com mais força enquanto deixava a toalha em cima da cabeça. Em dois minutos, a porta é aberta para mim.

– Jackieline Rivera! – minha vó me encara com desdém e me arrepio ao ouvir meu nome inteiro – Tem que ser mais paciente, principalmente depois de esquecer a chave pela segunda vez – minha vó limpa as mãos no avental cor de rosa – eu estava na cozinha...

– Aposto que estava com música alta de novo – digo pegando no fone solto no seu avental, coloco no ouvido e comprovo que era uma das coletâneas de músicas esquisitas da senhora Gwen.

– Eu tenho que aproveitar que minha audição ainda funciona bem – ela me responde de bom humor e passa a mão no meu cabelo – molhado nesse tempo? Vá tomar um banho quente, o jantar está quase pronto.

– Tudo bem – respondo batendo o cabelo como se fosse um cachorro, minha vó reclama mas gargalha enquanto me empurra para dentro de casa.

– Parece cansada – minha vó diz fechando a porta da frente enquanto eu pego Alfredo de Wessex, o gato preto e branco e o mais peludo da casa – Bárbara exagerou nos treinos?

– Na verdade, fui eu, – suspiro encarando os olhos azuis do gato, que tenta me dar uma patada na cara por odiar ser segurado por alguém que não fosse a minha vó – mas meus tempos melhoraram.

– Fico feliz com isso, querida – minha vó ajeita os óculos e coloca os fones de volta na orelha com as duas mãos – agora vá tomar um banho e tirar esse cheiro de cloro do corpo.

Eu obedeço a senhora Gwendoline e subo para o meu quarto.

Minha vó é conhecida pelas suas curiosas peculiaridades: tinha quatro gatos e uma cadela da raça dogue alemão com nomes de entidades que pertenceram a realeza, precisa de torta de frutas vermelhas da mesma intensidade que precisa de oxigênio, consegue mudar de personalidade de uma velha doce e gentil para uma fera perversa quando o nome inteiro é dito em voz alta, detesta palavrão e tem uma raquete pronta perto da sua cadeira favorita caso alguém tente a sorte.

É uma pessoa excêntrica, peculiar e uma das pessoas que eu mais admirava, que sempre me apoiou em todas as minhas decisões e que eu amava pegar no pé.

Quando termino o banho, coloco minhas calças largas e um blusão masculino. Vejo algumas mensagens de Tyler, Noah e o grupo de natação e as respondo com um sorriso nos lábios. No caminho para a sala de jantar, encontro Augusta, a cadela gigante e cinzenta da minha vó, enquanto os quatro gatos estavam em cima dela, tentando importuna-la, como de costume.

– Venha cá, Mary Stuart – digo pegando a gata amarela, longe do rosto de Augusta e me sento a mesa com minha vó, que colocava o jantar para mim enquanto eu levanto Mary Stuart pro alto – é impressão minha ou essa milady está mais pesada?

A gata olha para mim, como se entendesse que eu não estava elogiando-a e espreme os olhos claros como se estivesse me fuzilando.

– Ah, querida, você não sabe! – Vó Gwen se senta cansada, começando um assunto que ela amava: os gatos e a cadela Augusta – Mary Stuart está comendo a ração do Alfredo! Já tentei separa-la, mas parece que os dois entraram em um acordo – sinto uma gata branca de olhos azuis passar pelas minhas pernas, Elizabeth I, querendo o carinho que Mary recebia na barriga – Alfredo se conformou com sua submissão, ele parece entender que o mundo pertence as mulheres, um gato sensato.

– As pessoas precisam aprender mais com Alfredo, não é Mary Stuart? – digo puxando a orelha da gata que ronrona com o carinho e sem que eu preveja, um gato cinzenta pula em meu colo, em cima de Mary Stuart, o ciumento Jorge III.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now