19. Vinte e Oito Segundos

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"Continue a nadar, continue a nadar"

A música de Procurando Nemo não parava de tocar dentro da minha cabeça, se repetindo e assim continuaria, quantas vezes fosse preciso. Eu precisava relaxar e relembrar a música da Dory que sempre me ajudou bastante e esteve presente em momentos cruciais da minha vida, uma forma excêntrica de tentar diminuir o nervosismo, de tentar me esquecer do que acontecia ao meu redor.

Quando o sinal é dado, eu pulo na água.

Eu ouvia a gritaria ao meu redor, mas eu ignorava todos eles, como fiz desde o momento em que tinha pisado no local da competição. Eu apareci no Millstown High School, lugar que iria sediar os amistosos de natação da cidade, bem mais cedo do que esperado. Entrei com cabeça abaixada e uma música eletrônica bem alta. Não queria saber quem veio me ver, nem onde Bárbara estava para avaliar ou onde Noah se sentava para ter uma visão melhor da competição e dos nadadores para uma boa foto.

E assim eu o fazia, batendo as pernas com todas as forças e usando os braços como se quisesse empurrar a água para longe de mim. Respiro pela boca, sentindo as batidas cardíacas acelerarem, quando chego no fim da piscina, dou uma cambalhota para continuar nadando em direção a outra ponta.

Fui lenta demais.

Quando meus pés encostam na parede da piscina, eu me impulsiono para frente, pronta para o último ato. Coloco a cabeça para fora da água, por alguns segundos e consigo ver as bandeiras penduradas no teto.

Eu estava chegando.

Eu estava quase lá.

Quando chego no fim da piscina, bato a mão com força na parede. Fico de pé na água, tiro a touca e o óculos ao mesmo tempo. Todo mundo está comemorando, quando olho para o lado, com a respiração ofegante, vejo que eu tinha empatado o terceiro lugar com outra garota.

Meu estômago dá voltas.

Saio da piscina ainda trêmula, o treinador e os meus outros colegas do clube de natação do St. Martin me parabenizam e eu sorrio convidativa. Visualizo, não muito longe, a pessoa que eu procurava desesperadamente desde o momento em que sai da piscina, apresso os meus passos para ir até o seu encontro.

O técnico.

Ele me parabeniza e sorridente quando eu o alcanço, peço a ele educadamente para ver os tempos de cada nadadora em sua prancheta. Tento não ficar decepcionada, mas é impossível. Meus números caíram, drasticamente. Vinte e oito segundos.

Vou direto para os chuveiros assim que o técnico pega a prancheta de volta, ainda pensando nos meus números. Deixo a água quente cair no meu rosto, pelo meu corpo nu e trêmulo, tentando relaxar durante o banho, conseguir respirar sem sentir o peso do mundo nas costas. Entretanto, eu não consigo, mordo os lábios com força e bato na parede com raiva.

Vinte e oito segundos que poderiam me deixar de fora das classificatórias das nacionais.

Vinte e oito segundos que poderiam estragar a minha chance de ser vista por algum olheiro.

Vinte e oito segundos que me distanciavam da Universidade de Michigan.

Vinte e oito segundos que poderiam decidir o rumo do meu futuro.

Quando termino de vestir minha roupa, algumas garotas me parabenizam pela competição, outras dizem estar impressionadas. Consigo disfarçar bem a minha decepção e agradeço a elas.

Sei que estão me elogiando genuinamente, mas se eu revelasse que queria chegar até as nacionais, provavelmente iriam dar gargalhadas, se levavam esse esporte a sério, teriam consciência que meu tempo não era o suficiente para ser qualificada para participar, pessoas melhores ocupariam o meu lugar.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora