3. Águas Turbulentas

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– Estão na sua segunda gaveta... – respondo ao celular enquanto tento abrir meu lanche, ao mesmo tempo, ouço alguns resmungos da minha avó do outro lado da linha, reclamando – Acho que estão mais no fundo.

– Encontrei! – minha avó comemora quando encontra as fichas de vacina da gata Elizabeth I – Tenha um bom almoço, Jackie!

– Obrigada, vó.

– Eu adoro sua vó, sabia? – Noah diz ao meu lado enquanto andávamos em direção as arquibancadas do campo de futebol – Ela é tão presente, gosta de dar opiniões, minhas avós são tão frias, damas da alta sociedade que não se comunica com crianças. Só se manifestam para me atormentar, dizendo que estou muito magro e precisando de uma namorada.

– Minha vó também adora você e... Você sabe que se é melhor amigo da Jackie, obrigatoriamente, é neto da senhora Gwendoline! – digo a ele enquanto dou uma grande mordiscada no hambúrguer – Quer um pedaço?

– Eu não! – Noah faz cara de nojo – Eu fico impressionado com a sua capacidade de devorar algo tão gorduroso e continuar magra como um cabide. Eu passo mal só de sentir o cheiro dessa carne que nadou no óleo por três dias.

– Preciso ganhar peso. – respondo lambendo os dedos de gordura, fazendo Noah fingir um vômito – Por causa da...

– Competição. Natação. Sei do que se trata. – Noah passa o braço ao redor do meu pescoço – Quem é o primeiro lugar do Noah? Quem? Diga quem é o primeiro lugar do pequeno Noah que é a maior gulosinha da minha vida toda?

– Sou eu! – rio e arroto sem querer na sua cara.

– Nojenta! – ele gargalha e pega minha coca – Vou confiscar esse material até segunda ordem! – diz com o canudinho na boca e estremece – Chegamos. Eca.

E lá estava, as famosas arquibancadas do St. Martin, famosa por serem um dos pontos de encontro dos alunos mais populares do colégio. O lugar é quase que sagrado, sendo palco de várias histórias de gerações passadas. Ao me aproximar, vejo uma parte do time de futebol numa roda de risadas e piadas sem sentido.

No meio deles, o tão famoso trio.

Trio Infernal.

– Por que seu namorado não entra no clube de teatro? Eu prefiro o pessoal de lá... – Noah cochicha de lado.

– Não conta para ninguém, mas eu também prefiro. – sussurro fingindo estar mastigando o hambúrguer enquanto encaro o grupo para me certificar que ninguém nos ouvia ou se sabe fazer leitura labial.

Tyler me recebe num abraço quando chego.

– Eu fico impressionando com sua habilidade de comer, Jackie – Tyler comenta bem humorado e dá um beijo rápido na ponta do meu nariz – parece que não tem limite para o que cabe ai dentro, chega a sujar a própria roupa, sua desastrada.

Sierra dá uma risada alta, mas tenta disfarçar quando eu a encaro.

– Me desculpe, Jackie – Sierra tenta cessar a risada enquanto abana a si própria – mas você come demais, fico surpresa que ainda está em boa forma e não está afundando nas piscinas do St. Martin.

Noah e eu trocamos olhares por segundos. Meu amigo sempre zomba sobre o meu apetite, mas uma hora ou outra sempre se junta comigo e suas palavras nunca me incomodavam. Entretanto, ouvir o comentário de Sierra, me irrita um pouco.

Talvez pelo fato dela não sermos muito próximas me deixe desconfortável ouvir coisas desse tipo, mas sei que ela se sente à vontade com qualquer pessoa e acaba fazendo comentários bem humorados e até afiados sem se importar com o nível de intimidade.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora