9. Olho Roxo

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– Bom dia, senhorita Rivera! – o treinador me recebe com um sorriso caloroso e um aperto de mão – Precisamos conversar, temos ótimas notícias para você.

Entro na área das piscinas junto com o treinador, segurando caixas que guardavam vários tecidos do grupo do teatro. Pensei que seria uma tarefa fácil ficar andando com duas caixas, uma em cima da outra, cheia de plumas e panos, mas, apesar de ser extremamente leve, foi mais difícil do que eu pensei, principalmente quando as próprias atrapalham a minha visão para o que vinha a minha frente.

O treinador se apressou e sentou-se ao meu lado nas arquibancadas que tinham perto das piscinas. Ele parecia extremamente empolgado e eu tinha as minhas teorias do motivo do sorriso em seus lábios. Há algumas papeladas debaixo do seu braço, que foram colocadas na cadeira que tinha entre nós dois. Assim que ajeitou, prendendo em um clipe, ele me entrega os papéis depois que deixo as caixas de lado, batendo os pés como uma criança que tinha acabado de ganhar um presente.

– Adivinhe o que eu recebi hoje em meu e-mail... – ele aponta para os papéis e eu avalio cada um deles, lendo o mais rápido que consigo.

A cada linha que eu terminava de ler, meu sorriso se abria um pouco mais.

– Finalmente! – esperneio animada, quase gritando de emoção com o treinador Nelson.

– Eu fiquei muito feliz quando recebi o e-mail hoje de manhã! – ele me relatou enquanto eu repassava tudo que havia naqueles papéis, me certificando de que era real – Foram mais rápidos do que eu pensei!

Eu estava oficialmente inscrita nas preliminares das nacionais de natação. Seriam provas que iriam classificar os nadadores que iriam participar da competição, estaria nadando contra o país inteiro, praticamente.

Faltava alguns meses para as classificatórias, mas ainda assim, eu sentia um frio na barriga por estar mais próximo do que imaginara.

– Você parece muito feliz com isso, Jackieline, – meu treinador diz e torço o nariz por causa do meu nome ser dito em voz alta – é uma grande oportunidade, apenas você foi selecionada para competir, de acordo com o acompanhamento da seleção.

– É uma responsabilidade e tanto nas minhas costas! – digo sem tirar os olhos do papéis– Competir em nome do colégio e...

Encaro meu treinador, sorridente, que estava verdadeiramente feliz por mim. Ele é um homem extremamente fofo para a idade dele, tinha por volta dos cinquenta, pele bem clara como a minha, uma barriga redonda e a blusa sempre arrumada para dentro da calça, bigode curto e o cabelo preto sempre penteado para o lado, sempre simpático e gentil com todos, por mais que fizessem piadas sobre seu jeito certinho, eu gosto muito do senhor Nelson e tenho uma enorme consideração por ele.

Apesar de não ser como Bárbara, que me acompanhou por mais tempo, me treinou arduamente, contando até os segundos que eu prendia a respiração debaixo d'agua, ele foi um suporte incrível, acreditou em mim quando entrei no clube, me incentivou. Eu precisava dele e teria que me abrir um pouco mais para que o senhor Nelson pudesse entender o que as nacionais significavam para mim.

– Treinador, há um motivo para eu ficar tão empolgada com tudo isso. Mais que o normal.

Eu deixo os papéis em meu colo e conto minha história ao treinador Nelson.

No ano passado, nas férias de verão, eu, minha vó e Bárbara estávamos visitando algumas universidades pelos país, selecionamos alguns nomes importantes, sete deles, para poder ver qual seria o meu destino depois do ensino médio. Uma viagem divertida e emocionante, com uma idosa tagarela, uma treinadora impaciente e uma adolescente desequilibrada, juntas, dentro de um carro, percorrendo por todos os cantos do país.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now