28. Perdão

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Acho que nunca vi Logan tão nervoso como agora. Ele não parava de bater o pé, olhava para os lados a todo instante e mexia no cabelo com uma mania insistente de que fingir coçar algo inexistente na cabeça iria fazer com que o desconforto desaparecesse.

Eu não estava diferente, minha unha do dedão iria desaparecer em questão de tempo se eu continuasse a roê-la. Mesmo negando e não querendo admitir, eu me sentia desconfortável ali, com várias famílias ocupando cadeiras nas mesas redondas espalhadas pelo salão, esperando por seus familiares ou amigos... Pessoas que cometeram crimes, querendo ou não, algo que era fora da minha realidade e zona de conforto.

Logan e eu estávamos na sala de visitas do presídio em que Frank Sanders estava sendo detido, um lugar bem maior e afastado de Millstown, próximo a uma cidade pequena no estado de Geórgia. Foram quatro horas de viagens com Caleb, Logan e um silêncio perturbador.

– Vai ficar tudo bem, Logan. – digo a ele, tentando manter a distância o máximo que podia – Não precisa ficar nervoso.

– Faz seis anos que eu não vejo o cara. – ele responde parando de mexer a perna – Eu sinto que vou infartar.

– Não vou julgar você porque não sei se estaria diferente se fosse eu... – suspiro cruzando os braços em cima da mesa e me viro para ele – Então... Por que me escolheu para vir junto com você? Logo eu, de todas as pessoas que conhece você e conhece sua história.

Logan se vira para mim, meio encolhido. Ele estava com um moletom preto escondendo sua pele o máximo possível, tudo para ter uma falsa sensação de proteção... Eu até que entendia, buscar em pequenos detalhes um sentimento de conforto que tentasse amenizar a agonia e o desespero que corroía o interior.

– Eu não queria ver meu pai sozinho. – ele revela arqueando as costas um pouco para trás – Caleb e minha mãe não queriam me acompanhar porque acham que eu tinha que ter esse momento sozinho com ele e o resto das pessoas que conheço, bem... Elas conhecem meu pai através do meu ponto de vista do passado, acham que ele é um vilão, um canalha, um vagabundo... Menos você.

– Até que faz sentido, trazer alguém aqui para apoiar você a conversar com ele e alguém que não o vê com maus olhos... Espera, Caleb e sua mãe acham que você deveria ter esse momento sozinho com o seu pai, por que eu estou aqui?

– Disse para Caleb que você iria esperar na recepção, com os policiais. – ele dá nos ombros e coloca as mãos dentro dos bolsos do moletom – Eu não quero fazer isso sozinho, não depois de seis anos.

Logan se cala e eu não consigo dizer absolutamente mais nada. O clima parece estar extremamente pesado, até mesmo para respirar, em breve os presidiários iria entrar, incluindo o pai de Logan. Não sabia o que esperar do encontro eles, não mesmo.

– Sua visão do seu pai mudou, então? – me viro para Logan quando percebo que suas pernas estão começando a se mexer novamente – Após esses seis anos.

– Não se engane, eu ainda acho que ele é um canalha, vagabundo... – ele olha para o horizonte – E meu pai. Quando sai da prisão, após um ano, eu realmente tinha começado a ver meu pai com outros olhos, eu convivi com outros presidiários, alguns realmente não tem conserto, que parece que quando saírem vão cometer os mesmos erros, já outros... Só queriam uma segunda chance para fazer diferente, cada caso é único e por algum motivo, após um ano na cadeia, eu tinha esperança que meu pai fosse um desses caras, que se arrepende, que quer sair da prisão e tentar ser alguém decente.

– Veio aqui tirar a prova, suponho.

– Sim. – ele abaixa a cabeça um pouco – Mesmo me sentindo envergonhado por não ter nenhum tipo de contato com meu pai para melhorar esse reencontro, eu quero ver com meus próprios olhos o que esses seis anos fizeram com ele... Você meio que ajudou nisso.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now