35. Pernas Bambas

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– Jackie Rivera! – minha avó dá um ultimato ao abrir as cortinas do meu quarto, instantaneamente eu me escondo ainda mais debaixo das cobertas – São dez e meia da manhã, eu espero que vá tomar um banho logo, porque se não vai levar um balde de água na cabeça!

Ignoro minha avó e rolo na cama, ficando de costas para ela.

– Jackie – minha avó me chama e eu não respondo – faz três dias que não sai do quarto, eu quero que pelo menos vá a cozinha enquanto preparo panquecas.

Sorrateiramente, abaixo a colcha, ficando apenas com os olhos abertos.

Faz três dias que eu perdi as preliminares para as nacionais, quando voltei em Millstown, horas depois, o único lugar em que me esforcei em ir, foi para a delegacia dar meu depoimento sobre o que houve no baile, depois disso, quando voltei pra casa, custei a sair.

E nem queria.

Minha cabeça está uma verdadeira bagunça e eu faço o máximo possível para não pensar muito, eu me sinto péssima, derrotada, queria dar um tempo a mim mesma, sozinha e sem me preocupar em dar satisfação para terceiros.

Sobre as matérias perdidas, Noah me atualizou de tudo, fez questão de conversar com todos os professores e pegar todo o material que eu precisaria para estudar. Obviamente, Noah Harris tentou me tirar de casa, na verdade, ele está tentando até hoje, mesmo que seja para dar uma caminhada com a Augusta até a esquina.

E ele não conseguiu, principalmente depois que eu tive uma piora por causa do esforço extra que fiz competição, fui instruída a ficar de repouso. Precisei voltar para o hospital duas noites atrás para dar uma olhada depois que as dores pioraram junto com as minhas reclamações e confesso que nunca levei tanto sermão na vida quanto da doutora que me atendeu.

– Vá tomar um banho – minha avó coloca a toalha em meu colo – estarei esperando na cozinha, com panquecas, certo?

Aceno positivo.

O banho é rápido, mesmo que a água quente me tente a ficar mais. Quando vou vestir a roupa, é tão demorado que minha avó precisa me inspecionar para garantir que não voltei para cama, eu ainda tenho dificuldade para respirar por causa das costelas, talvez precisaria começar fisioterapia, principalmente se um dia eu voltasse a nadar.

Eu tinha perdido as preliminares, com certeza minha bolsa na universidade de Michigan, estava próxima do impossível com meu currículo pobre para uma instituição de alto nível. Claro que eu iria mandar me currículo para Michigan, assim como mandei para outras universidades renomadas para avaliar meu nível, mas o que estaria escrito nele para fazê-los me aceitar? Apenas uma garota com notas boas, competindo com garotas com notas boas, com medalhas de ouro, com prêmio de concursos.

Apesar de meu sonho estar longe de acontecer, de ter perdido a competição, eu não tinha desistido da natação. Eu não iria desistir da natação de novo. Foi a pior competição de toda a minha vida, com certeza foi, meus pulmões reclamam até hoje quando falo demais, mas com o tempo, eu ia voltar ao clube, iria voltar a discutir com Barbs e eu iria voltar a nadar, a treinar.

Faria isso, principalmente pelo meu avô.

– Jackie – minha avó fala do outro lado da porta, me tirando do transe – precisa de ajuda?

– Eu estou bem – a tranquilizo, ainda de calcinha e sutiã.

– As panquecas estão prontas.

– Estou descendo.

Eu me apresso em colocar meu conjunto de calça e moletom azul turquesa, calço as pantufas e me surpreendo ao ver dois gatos esperando por mim.

Dou um sorriso e pego Mary Stuart e Elizabeth I no colo.

Teoria da Sincronicidade [CONCLUÍDO/REESCREVENDO]Where stories live. Discover now