✥ㅡ MEDO FURIOSO ㅡ✥

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   Da minha cama colada à janela é possível ver o céu escuro e as milhares estrelinhas que o pontilham de canto a canto. Estrelas que eu tento pintar algumas vezes, mas que nunca faz jus à realidade. Um brilho na escuridão nunca poderá ser registrado de qualquer forma que seja, pois é algo mágico demais para que se torne uma realidade retratada pelos humanos. Uma pequena perfeição que eu aprendi a admirar todos os dias antes de dormir.

   A chuva que cai pela janela e goteja em meu quarto me faz mais uma vez lembrar que dia é hoje.

   23 de novembro.

   Mais um ano se passou desde que aquela criatura me prometeu me buscar, uma vez que eu o irritei tanto que ele marcou minha própria carne para me fazer lembrar desta promessa. A pequena cicatriz que carrego bem no peito, em cima do coração, tem a forma da insígnia dos imortais: uma estrela sendo cortada ao meio por uma linha e ambos envoltos em um círculo. E em meu pé direito ainda carrego as marcas e a dor lancinante que um deles deixou. Por conta disso, mal posso correr antes que precise parar para descansar. Uma lembrança dolorosa dos pesadelos que me perseguem há tantos anos e nunca, nunca foram embora.

   É difícil para mim imaginar que eu realmente fui marcada por uma destas criaturas apenas para que ele me fizesse saber que estaria sempre comigo; por onde quer que eu ande ele também estará lá. Não importa onde eu esteja, sempre me lembrarei deles.

   Sua essência. Seu cheiro podre. A cor daqueles olhos hipnotizantes.

   Viro a cabeça para o lado quando o relógio ao lado de minha cama bate três da manhã. E suspiro ao pensar que ele não virá neste ano também e me deixará sofrendo de ansiedade e vontade de matá-lo quando o encontrar. Talvez isso seja apenas um jogo mesmo; algo para me deixar sempre desperta de quando esse dia chegará, aguardando sua vinda sem conseguir dormir ou me acalmar. Quer que eu sinta o desespero na pele de esperá-lo todos os anos, ofuscando toda minha esperança de saber com certeza de que ele não virá.

   Eu nunca consigo dormir neste dia ou nos que procedem a ele, e fico apenas apreciando a beleza da vastidão celeste que se estende por minha cabeça até não ter forças suficientes no corpo para ceder ao sono e adormecer. Mas esta noite não foi assim.

   Não consegui pregar os olhos em nenhum momento durante a madrugada. Ficava apenas olhando o jardim da janela estreita à procura de algum movimento que pudesse me indicar que ele viera para me buscar. Não saber de seus planos para comigo depois que me levar para seu mundo imortal me faz estremecer a cada vez que penso nisso, me fazendo criar todos os tipos de possibilidades.

   Ele pode me matar e depois me comer inteira. Ou pode me torturar durante horas ou dias e aproveitar minha carne e sangue depois que tiver tido o suficiente de mel sofrimento. Ou... Pode não fazer nada. Porque sabe que a solidão é o que mais me machuca nessa vida. Sabe que não gosto de ficar sozinha pois sempre penso que um perigo virá atrás de mim para me consumir.

   Ah, mas se ele pensa que vai me levar assim, sem mais nem menos, deveria pensar melhor.

   Desde aquele dia fatídico há nove anos, eu tenho andado preparada para onde vou. Não importa se é perto ou longe, sempre levo uma faca escondida dentro do manto para o caso de surpresas. Mas nada nunca aconteceu. Tudo ficou estranhamente pacífico e nada assustador, tanto que eu comecei a estranhar o comportamento das pessoas ao meu redor. Ficaram amigáveis demais de repente para não ser uma atitude suspeita para mim, o que me fez estar sempre preparada e com a mão sempre alcançando o cabo da faca para o caso de acontecer qualquer imprevisto.

   Ouço atentamente o tic-tac do relógio velho que Lena conseguiu para mim antes de ir visitar seus sobrinhos em outra cidade. Considerei como um presente tão valioso que o guardo com carinho até hoje e não deixo ninguém chegar perto. Sua presença calma e reconfortante na casa foi mais um lembrete de que coisas boas nunca permaneceram por muito tempo para uma pessoa como eu. Se amo alguém, o destino dá um jeito de tirar de mim. Se gosto de algo, o destino manda alguém para quebrar aquilo. Sempre foi assim.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora