✥ㅡ O TRATADO ㅡ✥

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A raiva tem se acumulado em mim durante longos dias.

Desde que Korian partiu para caçar as criaturas soltas na floresta que podem ser ameaçadoras para seu castelo e Reino, tenho estado presa no quarto e vivendo apenas por conta dos bonecos destruídos no qual uso meu poder para lutar. Penso que é a cabeça de Korian e seu pai que estou explodindo ou o corpo que estou partindo em mil pedaços. A frustração me toma em todas as vezes que vou catar a sujeira deixada pela magia e não encontro a real pessoa que queria que estivesse ali.

Ele saiu há 4 dias. Enquanto caminhava pelos jardins sendo cuidados, ele tinha me encontrado na sacada do quarto, sentada e apenas apreciando o vento frio em meu rosto. Eu o observava pelas grades, me sentindo mais uma vez um passarinho contido dentro de uma gaiola. De sua gaiola. Uma escrava em confinamento.

E ele havia me encarado de volta daquela maneira silenciosa e sombria que sempre fazia; com os olhos semicerrados e tão calmamente como se avaliasse sua presa e pensando no melhor modo de ataque para não deixá-la escapar. E após passarmos uns bons cinco minutos nesse jogo, eu ouvi um pequeno clique na porta, seguido por seu sorriso maligno.

Meu grito indignado deveria ter sacudido as paredes.

Em algum momento da noite ㅡ enquanto eu esmurrava a porta e tentava encontrar algum sentido na minha vida ㅡ ouvi risos e conversas vindas do corredor, todas de alguma forma falando sobre a "traição da escrava". De quem eles estavam falando, eu não faço ideia. Mas também estava furiosa demais para tentar descobrir; por isso deitei em minha cama e encarei o teto escuro por várias horas até começar a sentir falta de meu quartinho apertado na mansão.

Eu não sentia falta do confinamento, e sim das pequenas estrelas que eu havia pintado no teto com luzes néon. Brilhavam a noite inteira e eu adormecia imaginando-as me embalando gentilmente em seu brilho. Me acalmava. Me livravam de pesadelos e me faziam dormir mais pesadamente. E agora, sem elas, é como se todos os monstros da noite voltassem a todo vapor para me atacar e eu fosse apenas mais uma criança encolhida no chão por conta do medo. Como no dia da tempestade, quando o imortal me encontrou. Fraca e com frio. Morrendo.

A sensação gelada do medo curva minha mente. Os pensamentos voam, e eu me encolho na cama. O sentimento é como se eu estivesse na frente de um batalhão com arcos e flechas apontados diretamente em minha direção, e eu sou a única do lado oposto. Sua rival. Apenas esperando o ataque até o momento em que seria perfurada pelas flechas até virar uma peneira. E aguardando a dor. Sempre a dor.

Meu corpo contorce na cama involuntariamente na lembrança da dor dilacerante que atravessou meu corpo quando aquela criatura quebrou meus ossos do pé e o deixou em frangalhos. Os dedos continuaram levemente tortos e o torso do pé completamente destruído; cicatrizes e a irregularidade no tamanho foi motivo de muitos olhares reprovadores e de pena. Pena por uma tola como eu ter sido encontrada por um imortal. Um humano jamais teria força ou maldade suficiente para destruir alguém dessa maneira, arrancando dela seu método de fuga mais utilizado. Hoje, não posso correr muito que a dor começa e ameaça me comer por inteira.

As cortinas balançam com o vento. Ouço o barulho das folhas das árvores batendo entre si como música em meus ouvidos. Fecho os olhos com força, tentando absorver aquele sentimento e me sentir, ao menos uma vez, livre desse pesadelo.

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Meus pés batem lenta e raivosamente no carpete do castelo, dois dias depois. Estive presa no quarto durante todo esse tempo, absorvendo meu próprio sofrimento e o canalizando em métodos de ataque para quando encontrasse Korian. Desde ontem, quando ouvi seu cavalo relinchar como louco no jardim, tenho estado ansiosa para este nosso encontro. Ele pode saber o que o espera, já que pode ler minha mente. Pode não ser uma surpresa, afinal.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOWhere stories live. Discover now