✥ㅡ DESTRUIÇÃO ㅡ✥

2.4K 313 293
                                    

✥ · ✥ · ✥

   Nossos passos ficaram gravados na pouca neve conforme eu e Korian nos movíamos em silêncio em direção ao gazebo de seu jardim. Ele havia me enviado uma nota pela manhã após eu ter invadido seu quarto na última noite para tentar arrastá-lo fora de sua cama para me contar o que diabos não conseguiu falar no jantar. Ele fora grosseiro e me empurrara para fora do quarto com um empurrão de sua magia, e até agora uma marca avermelhada com alguns pontos escuros marca a área do meu dorso. Ele havia encarado esse lugar com as sobrancelhas franzidas quando me encontrou hoje.

   No bilhete havia sido curto e grosso. Apenas disse que não poderia me encontrar pois teria tarefas a fazer com seu pelotão. No entanto, sabendo que suas evasivas apenas estavam me fazendo cada minuto mais preocupada, invadi seu quarto mais uma vez para encontrá-lo na mesma posição em que eu fico várias vezes: sentado na sacada da janela, olhando para o céu. Ou as flores.

   Seu pai tem estado sumido ultimamente. Há dias que não o vejo pelos corredores e seguro a vontade de bater em sua cara perante suas ofensas.

   Lembro de sua fúria quando o puxei com toda força pelo casaco para me acompanhar e falar de uma vez por todas o que diabos aconteceu. Quando seus olhos moveram-se para as marcas em mim, meu ódio foi tanto que o ameacei de quebrar sua cara caso ele fizesse isto de novo comigo.

   Bem, devo apenas dizer que a risada de Korian não é nada como eu imaginava.

   Caminhamos quietamente, ouvindo o som dos pássaros cantando por entre as árvores já quase cobertas de neve. As nuvens acima carregadas de chuva e frio me fazem estremecer pela milésima vez ao dia, e não somente por causa do vento de tremer o queixo.

   Tive pesadelos todas as noites desde que durante a madrugada começara a chover. Do imortal querendo me levar embora da mansão; dele quebrando cada osso de meu corpo e depois comendo-os na minha frente; sua aparência animalesca e maldosa enquanto saboreava minha carne...

   ㅡ Por que você está tremendo tanto? ㅡ Korian pergunta, tirando-me de meus pensamentos. Ele me observa com cuidado, tentando encontrar qualquer resposta em meu rosto. Tenho certeza que leu meus pensamentos, mas não faço ideia do porquê resolveu ser educado e perguntar ao invés de simplesmente jogar meus medos na minha cara como se eu fosse uma covarde, como sempre.

   Talvez eu seja.

   ㅡ Está frio, se não reparou. ㅡ retruco.

   ㅡ Oh, eu reparei, humana. Mas sei que não é isso.

   ㅡ Se sabe, por que pergunta?

   Ele fica calado. Meu rosto vira para o lado oposto que Korian me olha, e finjo estar observando as pequenas partículas de ouro brilhando em cada pétala de flores, agora um pouco mais escondidas por conta da neve.

   Me preocupo imediatamente ao lembrar de como o inverno é rigoroso nas terras humanas. Aqui, eles podem controlar o tempo e fazer com que não seja tão frio quanto é lá, mas ainda assim eu me sinto congelando mesmo embalada em um casaco peludo.

   Na mansão, eles não nos davam nada mais além de um edredom macio e grande e uma nova capa com luvas descombinadas. O resto ㅡ casaco, botas, touca ㅡ tínhamos que conseguir com nosso próprio dinheiro ㅡ quase inexistente ㅡ ou apenas roubando das lojas. Esta nunca foi uma boa opção para mim, mas conseguia boas coisas. Isso quando não era pega no flagra por alguém que passava ou pelo proprietário da loja. Estremeço ao lembrar do aperto do policial em meu braço enquanto me levava, chorosa, de volta à mansão depois do castigo. Devo dizer que bater numa criança daquela maneira nunca me agradou, e muito menos me manteve longe do roubo.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIODove le storie prendono vita. Scoprilo ora