✥ㅡ A BARREIRA ㅡ✥

3.1K 335 308
                                    

✥ · ✥ · ✥

   A brisa fria e densa do início do inverno enche meu corpo quando aperto o casaco mais junto de meu corpo congelando. O sol já sumiu no meio das nuvens faz tempo, de modo que sobrou apenas a nevasca leve e o frio de cair a ponta do nariz.

   A vila não está movimentada como antes. A música alegre no meio da praça deu lugar às decorações de inverno e enchem cada centímetro dos postes, bancos e outros ornamentos. A neve já derretida se acumula em vários cantos da pequena cidade, deixando poças e mais poças de água molhando as botas das pessoas.

   As luzes antes apenas da cor amarela agora estão coloridas em variadas tonalidades natalinas, iluminando os espaços com sua luz. As árvores secas se agigantam sobre a cidade, dando uma aparência bastante assombrosa para quem passa a ver as sombras ao redor.

   Aperto o casaco mais ao meu redor, vendo meu ofego agoniado se densar e virar fumaça branca. Nas Terras Humanas, nunca tive a oportunidade de ver a neve. De acordo com histórias e fofocas, os imortais jogaram sobre nós a maldição do inverno, onde desde então em nossas terras parou completamente de nevar. Apenas as tempestades fortes viam, juntamente aos tornados e ciclones formados mais no campo. Mesmo assim, o estrago era tão grande que muitas vezes pessoas malucas imploravam aos imortais para ter seu inverno de volta. E nunca mais voltaram para contar a resposta deles, por mais que tenha ficado bem óbvio.

  Foi pedir demais? Eles nos roubaram algo importante. E não somente isso, mas vidas e mais vidas que se perderam em suas garras sujas de sangue humano. Covardemente, como sempre. Escondiam os rastros e como modo de nos assustar, mandavam um pedaço de carne da pessoa em uma caixinha dourada todas as vezes que nos tiravam alguém.

   Nesses momentos, o ódio se tornava tão grande que eu jurava a cada pessoa daquela que iria os vingar de uma forma ou de outra. Imortais ou Inferiores, não importa qual. De todos os modos e impressões, eles nunca me pareceram bonzinhos ou misericordiosos. Principalmente depois que a barreira que nos separa ficou enfraquecida.

   O povo humano ficou tão desesperado com a forma como eles agora podiam andar livremente sobre nossas terras que a maioria das cidades foram desfeitas e viajaram pelo enorme oceano até o outro lado do mundo, mais longe do que qualquer um deles estejam acostumados. De qualquer forma, eu em alguns momentos desejava poder ir embora da mesma forma para me sentir ao menos um pouco livre, por mais que os imortais tenham poderes de teletransporte. Alguns deles.

   A luz do sol não aparece. Foi completamente ofuscado pelas nuvens escuras e cheias de chuva e neve, deixando o dia mais escuro do que o normal. O clima mudou praticamente da noite para o dia, sinal de que ou foi magia ou simplesmente as estações mudam rápido demais. Só sei que de qualquer modo não gosto muito do inverno.

   ㅡ Bom dia de inverno, senhorita. ㅡ ouço uma voz melodiosa sussurrar ao meu lado.

   Agarro o cabo da faca despontando de minha túnica e me viro rapidamente, encontrando apenas a rua deserta.

   Minhas sobrancelhas franzem. Estou ficando maluca ou realmente havia alguém atrás de mim?

   Quando continuo andando, sinto a presença atrás de mim como o vento fluindo pelo meu corpo arrepiado, silencioso e frio. E, quando volto a olhar, não existe nada ali. Minha sobrancelhas se franzem em confusão quando a cidade está perigosamente quieta esta manhã, sendo que a parte matinal é quando as pessoas aproveitam para comprar seus mantimentos do dia. O mercado e a vila deveriam estar cheios, não vazios e silenciosos como um túmulo.

   Apresso o passo, me chamando de burra mentalmente quinhentas vezes por ter cometido s estupidez de sair do castelo depois que fui considerada o bichinho do rei. Agora que todos acreditam nesta farsa, não vão cansar enquanto não atingirem o príncipe machucando a mim. Armadilhas bem calculadas. Estratégias de gênios. Frieza de um imortal.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora