✥ㅡ FÚRIA DE FOGO ㅡ✥

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   As garras me prendem.

   A sala do trono ficou desconfortavelmente quente depois do meu ataque confuso mais cedo. E agora, depois que todos já foram embora e sobrou apenas eu, Korian e seu pai, fico ainda mais amedrontada nos vários pensamentos que rolam sobre minha cabeça. O que ele quer comigo aqui? Aquela pequena explosão não foi e não significa nada, certo?

   ㅡ Acredito que queira se explicar, Asterin. ㅡ O rei fala, a voz grave e ameaçadora. Estou ajoelhada no chão com as algemas invisíveis segurando meus braços e pés colados ao piso refletor.

   Fico calada, absorvendo sua raiva e perguntando porque diabos ele me fez essa pergunta. Se ele não sabe o motivo daquilo, como eu deveria saber? Já estava bem perto de lhe perguntar porque aquilo tinha acontecido comigo para me fazer quase entrar em combustão.

   ㅡ Estamos esperando, humana.

   A voz de Korian mudou. Ele está tenso e mais reto na postura. Se sentiu ameaçado? Ele realmente acha que, depois de ter me dado um discurso sobre como os humanos são frescos e inúteis, vou pular em cima do seu pescoço como um lobo faminto?

   Se tiver a oportunidade, claro que sim. Mas agora não há tempo.

   ㅡ Bem, estava esperando que vocês me dissessem o que aconteceu lá.

   Korian e seu pai estreitam os olhos em minha direção, o movimento tão parecido que fico mais uma vez embasbacada em como os dois são idênticos em várias coisas. Os braços cruzados, carranca eterna. Apenas umas das coisas que eles são absolutamente iguais.

   E agora, o duplo olhar raivoso direcionados a mim me deixa ligeiramente assustada. Não porque tenho medo de olhar feio ㅡ cresci com Kennai e já sou acostumada com isso ㅡ, mas porque sei que fiz algo errado ㅡ que não sei o que é ㅡ e eles estão me culpando. Mesmo sem saber minha parte da história. A vítima. Me pergunto se eles escutavam as pessoas clamando por misericórdia enquanto sofriam a tortura de somente estar em suas terras e cercados por semideuses famintos de carne humana.

   Ouviam o choro da mãe antes que ela morresse? Ou os gritos de um pai, o único provedor de sua casa? Ou até mesmo as crianças que por brincadeira passavam pela floresta e vinham bater aqui. Ouviam suas súplicas e as libertavam ou se faziam de surdos e continuavam o show?

   Um estalo de dedos me tira do pensamento. O rei me encara com as sobrancelhas erguidas, obviamente captando meus pensamentos. Também ergo as sobrancelhas, desafiando-o mentalmente. Seu ofego chocado vem um segundo depois das coisas que mando para ele por meus pensamentos.

   ㅡ Melhor não brincar com estas coisas, humana. ㅡ sua voz estala como um chicote, claro sinal de que quer me intimidar. O filho suspira e dá um passo à frente, cruzando os braços e passando os olhos por minha figura ajoelhada. Um pequeno sorrisinho brota no canto de sua boca.

   ㅡ Asterin, se eu não estiver certo, perdoe meu egocentrismo. Mas tenho quase certeza absoluta que usa esse seu sarcasmo e tenta bancar a durona apenas para esconder o medo. Sabe, semideuses podem farejar. Sentimos o desespero emanando por cada poro seu desde que colocou os pés em meu castelo. Não tente nos esconder, humana, porque nada que tentar aqui vai adiantar.

   Minha garganta fica seca. Podem farejar, como cachorros? Eu realmente deixei meu medo tão evidente que eles provavelmente poderiam sentir o cheiro do outro lado do castelo. E eu, tola, achando que estava escondendo bem meu desespero por estar cercada de inimigos. Burra, burra, burra.

   Eu queria bater naquele sorriso convencido. Ele sabe que não vou lhe dar a satisfação de confessar meu medo, por mais que esteja explícito na minha cara. Porém o orgulho fala mais alto dentro de mim e por isso sufoco todas as confissões em um buraco onde ninguém pode alcançar. Nem mesmo eu.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora