Capítulo 7.

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A recompensa de um dia cansativo foi ir embora mais cedo do trabalho, o que me fez mudar de humor. Para melhorar, a Noora deixou o carro comigo porque foi se encontrar com o Taylor e provavelmente demoraria a voltar para casa. Ou seja, passaria o resto da tarde enfurnada no meu quarto lendo bons livros ao som da chuva forte que cai nesse momento.

No entanto, o trânsito me fez demorar mais tempo que o previsto para fazer um cruzamento, já detesto dirigir sabendo que a pista está escorregadia, pior ainda é ter que redobrar a atenção enquanto loucos apressados buzinam e te xingam pelo trânsito que não anda.

Depois de respirar fundo inúmeras vezes, consegui chegar onde queria e fui pela rua do mesmo prédio que entrava outro dia, o mesmo edifício espelhado e agora borrado por causa da água. Avistei de longe alguém conhecido e conforme me aproximava enxerguei um Noah, também borrado, falando ao telefone debaixo da chuva forte que não parava de cair lá fora. Ele parecia tenso e ao mesmo tempo frustado, resolvi parar no acostamento e abri o vidro obedecendo meu coração trouxa que quis e insistiu em ajudá-lo.

— Oi! — Chamei sua atenção e ele ergueu a cabeça percebendo minha presença. — Tudo bem por aqui? Você tá encharcado. Tá doido de sair nesse tempo?

— Talvez. — Encolheu os ombros. — O Ethan me deixou aqui e sumiu, agora to sem carro e sem carona! — Disse levemente irritado.

— Entra aí. — Sorri.

— Mas eu to todo molhado! Tem certeza?

— Vai logo e não reclama, se não te deixo aí igual pinto molhado. — Brinquei destravando a porta.

— Valeu. — Riu sem graça e se acomodou no banco do passageiro. — Você realmente me salvou, ele nem me atendeu.

— Deve estar ocupado ou sei lá. — Tentei amenizar a situação. — Essa chuva tá péssima, ainda bem que saí mais cedo. — Comentei.

— Que bom. Hoje foi bem estressante, os meninos saíram e o assessor quis falar comigo, acabei sendo abandonado pelo meu melhor amigo. — Balançou a cabeça enquanto olhava a janela. — Desculpa por molhar seu carro.

— Não tem problema, não ia te deixar assim. Você é uma estrela, lembra? Não pode ficar doente. — Falei sem tirar os olhos do volante e ele hesitou alguns segundos.

— Poxa, e eu achando que você tinha me salvado porque é minha amiga. — Respondeu em tom sério e nós dois rimos juntos.

— Oh, desculpa Sr. Miller, não queria te decepcionar. — Encenei e o silêncio voltou a reinar por um longo tempo, ele ficou cabisbaixo olhando a rua. — Noah? Tá tudo bem? Eu só estava brincando...

— Não é isso, não é você. Só estou cansado. — Suspirou. — Digamos que foi uma reunião desgastante.

— Pensei que já estivesse acostumado. — Paramos no semáforo novamente e pude encará-lo com mais firmeza. — Quer falar sobre isso?

— O problema não é o meu trabalho, é como querem me controlar. — Ele pareceu notar minha confusão e começou a explicar. — Sabe quando alguém te força a ser o que você não é? Já se viu obrigada a ter que fazer coisas contra sua vontade e se sentiu perdida com isso? Não sei mais quem sou, Julie.

— Complicado. — Eu ainda absorvia as informações. — Já tentou conversar com seu assessor e as pessoas que trabalham pra você?

— Não adianta, você não tá entendendo. O Will é um cara maneiro, mas é insuportável quando quer! O tempo todo dita regras do tipo "Você deveria arrumar uma namorada, vai te dar mais mídia" ou "Você não pode ir na padaria, isso vai manchar sua reputação e ninguém quer flagrar Noah Miller numa padaria de bairro". — Revirou os olhos. — E o que é pior: "Suas fãs gostam quando você posta todos os dias, deveria se esforçar mais para estar presente e atender todas. Aliás, nada dessas saídas arriscadas com esses amigos estranhos, vai que uma delas te encontra! "

Luz, câmera e... Paixão! Where stories live. Discover now