CAPÍTULO 07 - ALGUÉM ESTÁ COM CIÚMES

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_Charles! – falei eu para mim mesmo no final de meu expediente.

Mal o dia passou e eu estava lá, que nem uma... mulher enciumada. Essa é a única explicação para meu comportamento – bem, comparação, eu quis dizer. Por um momento eu senti falta de An e suas tentativas horríveis de abuso. Tentativa não, aquele imbecil abusa de mim, estupra, o tempo inteiro. E agora, decadente, estou aqui, sozinho, fazendo hora extra apenas para dar conta dos trabalhos pendentes e ficar por cima do Charles.

Ele tinha 24 anos. Era mais alto, cabelo mais arrumado, pele mais limpa, barba parecida com a minha, só que aparada e bem delineada. Parecia um modelo. Ombros largos, olhos profundos, ar de jovem e maduro ao mesmo tempo. Ele era biomédico de formação, já foi perito, especialista em sangue. Trabalha para a Força há três anos... Tem treinamento militar. Esse cara não parecia ser real, digo, olhem para mim, 29 anos e acabado por conta de respirar o trabalho que faço e o que recebi em troca? An.

_Merda! – falei olhando para o relógio. Novamente havia passado das 18, e An precisava de mim para voltar para casa. Na verdade eu precisava que ele voltasse para casa comigo, para não fazer nenhuma besteira no caminho.

_Posso ter uma palavra com você, Ângelo? – Marina me surpreendeu falando pelo interfone.

_Eu já estou saindo – a respondi.

Guardei algumas amostras, encerrei alguns protocolos, fui para o vão intermediário para retirar o jaleco e finalmente saí.

_O que você... quer falar... Diretora – disse em tom irônico.

_Ah céus – suspirou Marina – Olha, eu apenas acredito que as coisas, daqui para frente, irão piorar. Então você precisa ter treinamento.

_Você diz, luta? Defesa pessoal? Tiro? – a questionei.

_Essas coisas Marocci, essas coisas...

_E o que você sugere, diretora – mais ironia.

_Você tem algo a falar comigo, doutor? – ela perguntou de forma autoritária.

_Me desculpe – a respondi – é só... Ontem eu dormi com as coisas de um jeito, hoje tudo está diferente. Parece que eu dormi por muito tempo, como An. Quando foi que vocês juntaram aquelas provas e dados? Por que veio esse novato para cá, e para trabalhar comigo, eu sempre fiz as coisas sozinho... e...

_Marocci, entendo que você está frustrado – me interrompeu ela – mas não me faça ser seu messias crucificado. Reunimos dados de madrugada, An nos procurou para conversar; minha promoção, já que insiste em ser irônico, estava atrasada, e depois de An destruir a outra base, atrasou mais alguns dias; era só uma questão de tempo para chegar alguém para trabalhar com você... Ângelo você está marcado, se não fosse essa de ficar com Aniel, talvez você passasse para setores que não iria gostar, até ser desligado da força. Sem contar com que você é lento em seu trabalho: precisa trabalhar a mais para compensar suas manias obsessivas de controlar os dados... Isso ferra com as operações. Eu estou lhe fazendo um favor com esse convite.

_Qual convite? – perguntei após engolir a seco.

_Venha depois de seu horário para o ginásio.

_Espera, temos um ginásio? – a perguntei espantado.

_Sim... venha, pode ser agora mesmo inclusive, por hora venha, vamos conhecer. Depois a gente começa a treinar... Eu mesmo treinarei você, se caso quiser.

_Obrigado pela oferta mas...

_Mas...?

Eu fiquei pensando com o eco que Marina fez com o meu "mas". E quer saber? Aparentemente meu emprego estava ameaçado; eu estava sendo usado como estoque pessoal e brinquedo sexual de vampiro; estava quase sendo trocado por um cara mais novo, mais competente e mais... bonito... então... o que mais aconteceria de errado?

VinhoRoséOnde as histórias ganham vida. Descobre agora