CAPÍTULO 5

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LUKE

- Bom dia a todos! – a Sra. Wright falou ao adentrar na sala de aula no dia seguinte – Gostaria de iniciar a aula de hoje com um questionamento que provavelmente vocês já ouviram muito na vida. - sorriu, tentando parecer simpática - Quem aqui já leu Romeu & Julieta? – algumas pessoas levantaram a mão e eu permaneci de cabeça baixa, rabiscando a mesa com um lápis – Certo, quase todos vocês. – ela sorriu, passando as mãos nos cabelos grisalhos – Mas qual de vocês realmente entendeu a mensagem que a obra passa?

A turma ficou em silêncio.

- Uau. Nem uma pessoa levantou a mão? Sério? – ela questionou e virou seu olhar pra mim – Lucas Reed, o que você acha?

- Acho que fui bem claro quando não levantei a mão na primeira vez que você perguntou isso. – respondi ríspido –

- Quero saber sua opinião, tendo você levantado a mão ou não.

- Eu não acho nada. – rebati –

- Lucas, quando eu requisitar seu posicionamento, quero que o faça. – a turma inteira me olhou de modo curioso –

- Quer saber o que eu acho? – falei largando o lápis com força em cima da mesa – Eu acho que a Julieta era uma verdadeira idiota, porque ela se apaixona justamente por aquele único cara que ela sabe que não pode ter. Todo mundo acha isso tão romântico: Romeu e Julieta, amor verdadeiro... Que triste. Se a Julieta foi burra o bastante para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia.

- Isso é sério? – uma loira sentada na segunda fileira se virou pra trás, questionando. Parecia ter falado isso em voz alta sem querer e ter se arrependido logo em seguida – Quero dizer...Você leu 160 páginas da obra mais famosa de Shakespeare, escrita no século dezesseis, e é isso que você tem a dizer? – ela me encarou, fazendo meu sangue ferver. Ótimo, mais uma garota mimada que acredita no amor puro e verdadeiro inventado por Shakespeare –

- Prossiga por favor, Srta...

- Thompson. – ela se apresentou - Bom... – ela continuou – Eu acho que se o que a Julieta fez foi por amor, valeu a pena no final. Não estou dizendo que os fins justificam os meios, mas ela só fez aquilo porque ela sabia que o pai dela jamais permitiria que ela ficasse ao lado do Romeu. Qual sentido a vida dela teria longe do único homem que ela amava?

- Todo o sentido do mundo! – rebati em um tom mais alto do que provavelmente deveria – Ela viveu a vida toda sem esse cara, então porque era de suma importância para a sua existência estar com ele agora? Ninguém é imprescindível!

- Lucas... - a Srta. Wright interviu - Então, de acordo com o seu posicionamento, o amor dos dois não justifica suas atitudes...

- Honestamente, Sra. Wright, amor é falta de QI. E acredito que o QI da Julieta era similar ao de um chimpanzé, diante da quantidade de besteiras que essa garota fazia.

- Diga-me, você já amou alguma vez? – ela questionou, intrigada –

- Se quer saber, a única coisa que aprendi com o amor foram palavrões novos. – alguns da classe riram –

- Isso me parece uma coisa que só uma pessoa que já teve o seu coração partido diria. – ela alfinetou, e eu ri, sem humor -

- Sra. Wright, achei que o que estava sendo discutido aqui eram os sentimentos da frágil e indefesa Julieta, não a ausência dos meus. – falei, fitando a loira de cabelos ondulados na primeira fila, que me encarava com um olhar confuso –

- Touché. – ela sorriu – Bem, meus caros, somente uma obra com Romeu & Julieta poderia nos proporcionar uma discussão acalorada como esta. – ela sorriu, satisfeita – É realmente uma obra atemporal, cujos primórdios remetem a... – continuou falando, e o Chris me cutucou –

- Se eu bem te conheço estão passando duas coisas na sua cabeça agora. – eu virei pra trás para ouví-lo - A primeira delas é matar a Sra. Wright de uma forma bem dolorosa. A segunda tem algo a ver com a loirinha sentada na fileira na frente. Mas ainda não consegui me decidir se você quer transar com ela ou se tem em mente algo muito pior do que o planejado para a Sra. Wright – ele caçoou, rindo, enquanto eu me virava novamente pra frente irritado -.

Com o final da aula de literatura, todos os alunos se deslocaram para o laboratório de química e biologia, onde seria ministrada a próxima aula do dia. Nos acomodamos em mesas grandes que possuíam microscópios, vasilhames e produtos químicos, enquanto aguardávamos as instruções do professor.

- Bem, meus caros, hoje vamos analisar algumas células nos microscópios e identificar se tratam-se de células animais ou vegetais. Vou dividir vocês em duplas em ordem alfabética, de acordo com o sobrenome de vocês. Sr. Bennet e Srta. Cooper, por aqui. Srta. Evans e Srta. Harper, podem se sentar aqui. – apontou para uma das mesas, enquanto fazia a leitura da lista de presença – Sr. Howard e Srta. Lawrence, por este lado. – ele continuou por toda a lista, até chegar ao final – Sr. Reed e Srta. Thompson, podem se sentar nesta última mesa, por gentileza.

Olhei para a "Srta. Thompson". Era a loirinha ingênua e teimosa da aula de literatura. Possuía cabelos longos que atingiam quase a sua cintura. Tinha os olhos azuis, cílios ressaltados e um corpo bonito. Analisei-a por segundos. Sua cintura era fina, seus seios eram fartos na medida certa e a calça jeans preta que ela usava ajudava a delinear seu quadril. Mesmo detestando esse tipo de garota mimada,
era impossível não notar que a desgraçada sabia ser bonita.

Ela me olhou, sem entusiasmo – provavelmente pelo atrito que tivemos na aula anterior – e se sentou ao meu lado.

- Ótimo. – eu sorri, irônico – Minha dupla é a Julieta em carne e osso. – falei olhando pra ela –

- Acredite, preferia estar repousando num mausoléu do que estar aqui ao seu lado. – sorriu sem humor, utilizando minhas próprias palavras contra mim – Quer começar? – perguntou em um tom gentil, empurrando o microscópio para perto de mim -

- Não. – respondi ríspido –

ANNIE

- Ok, Sr. Educação. – rebati, puxando o microscópio para perto de mim e olhando pelo aparelho –

Ele levantou um pouco as mangas da jaqueta de couro que vestia, o que fez com que meus olhos notassem que ele tinha ambos os braços e partes de sua mão tatuados.

- Acho que é uma célula animal. Quer conferir? – perguntei, olhando-o –

- Meu Deus, o que eu preciso fazer para você calar a boca? – ele perguntou, me pegando de surpresa – Faz o que você quiser, beleza? – eu me assustei. Ninguém nunca havia falado comigo daquela maneira –

- Seu estúpido. – respondi, me sentindo um pouco magoada pela forma que ele havia me tratado -

- Te magoei? – ele me olhou – Você é tão frágil quanto uma flor. – ele sorriu com malícia, provavelmente percebendo o quanto eu estava ofendida - .

- Você não me conhece. - alertei -

Então ele sorriu e puxou o microscópio para perto de si, analisando o aparelho e me olhando logo em seguida:

- Não é uma célula animal. - afirmou com convicção - É uma célula vegetal. Provavelmente de alguma flor morta. - me olhou, lançando um sorriso irônico -.

Proibida Pra MimWhere stories live. Discover now