CAPÍTULO 22

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ANNIE

As aulas haviam acabado naquele dia, e eu já estava quase no portão de saída da escola, local em que o motorista me esperava, quando percebi que havia esquecido meu casaco na sala de aula. Resmunguei e dei a volta, percorrendo o caminho todo de novo. Quando entrei na sala, interrompi o passo e vi que somente o Luke e o Chris estavam lá. Os dois pararam de conversar quando me viram na porta da sala, e eu gelei.

- Desculpem. - falei entrando na sala - Esqueci meu casaco. - peguei meu casaco jeans na cadeira que estava sentada -

- E por que se dar ao trabalho de voltar pra pegar? - o Luke se aproximou - Seu pai pode te dar outro. Ou seu namorado. - ele sorriu, irônico -

- O quê? - questionei, confusa - Espera, você agora está falando comigo novamente? É meio difícil de saber com toda essa sua instabilidade. - alfinetei -

- Eu vou indo. Falo com você mais tarde, cara. - o Chris falou dando um tapinha no ombro do Luke quando passou por ele - Tchau, Annie.

- Eu também já vou. - falou, sem tirar os olhos de mim -

- Não, você não vai. - falei empurrando-o e jogando a minha mochila e meu casaco na cadeira mais próxima - Quero falar com você. - avisei, impaciente -

- Não temos nenhum assunto pendente. - ele falou tentando passar por mim e eu empurrei de novo. Já estava ficando com medo de ter que empurra-lo uma terceira vez -

- Honestamente, tem como você deixar de ser um babaca por alguns segundos ou isso está no seu sangue? - questionei -

- Eu poderia perguntar o mesmo sobre o seu novo namorado. - ele sorriu, irônico -

- Que namorado?! Você está ficando louco? - questionei, sem entender onde ele queria chegar -

- Sinceramente, Flor, vamos poupar o seu tempo e o meu. Não precisamos ter essa conversa. Só nos beijamos uma vez e pronto. Foi um erro, vamos superar isso e seguir com nossas vidas - ele falou friamente, passando por mim e finalmente alcançando a porta -

- Um erro, não é? - sorri sem humor, sem conseguir conter as lágrimas que surgiam nos meus olhos - O que eu te fiz, Luke? - questionei, fazendo-o parar de andar - Há algum motivo pra você me tratar desse jeito ou você simplesmente está fazendo isso por diversão? - ele voltou, parando em frente a mim -

- Diversão? Você é o meu pesadelo! - ele falou ao se aproximar -

- Eu já devia saber. - funguei, ignorando sua pergunta - Você é muito egoísta, centrado em si mesmo, pra se importar com os outros.

- Sou egoísta mesmo. Coração grande é doença de chagas, meu bem.

- Por que tudo isso? - perguntei, olhando-o nos olhos - Por que está me evitando, sendo esse completo babaca?

- Porque eu não posso ficar com você, merda! - ele praticamente gritou, impaciente, virando as costas pra mim -

- Por que? Eu não entendo! - respondi na mesma altura -

- Eu não posso ficar com você, eu não posso gostar de você! Porque se eu gostar de você, eu sei que você vai embora! - passou as mãos nos cabelos, olhando pro teto -

- Isso não faz sentido algum! - exclamei -

- É assim que funciona comigo! - ele retrucou -

- Por que ser tão cruel e idiota? Você não percebe que machuca todo mundo a sua volta, Luke?

- Por isso eu tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. - ele se aproximou de mim devagar - Porra! Não queria fazer mal a você. Não queria te fazer chorar. Não queria te cobrar absolutamente nada. - ele enxugou uma lágrima minha com o seu polegar -

- Eu nunca te cobrei nada! - expliquei - Nunca te pedi nada! Só não aceito ser tratada como lixo! - funguei -

- Pare de chorar. Não consigo te ver chorando. - ele pediu -

- Aparentemente chorar é tudo que consigo fazer quando estou perto de você. Me sinto uma garotinha boba.

- Me desculpe, Flor. Tenho sido um idiota com você, eu sei. Mas joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Tenho muitas coisas mal resolvidas por dentro. Farpas. E uma pressa, uma urgência, uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Estou programado no automático pra isso. Fico pensando "destruir antes que cresça, é só isso que eu tenho que fazer." E acabei fazendo isso com você.

- A gente não precisa complicar tudo! - expliquei - E você não precisava ter destruído nada!

- Infelizmente a palavra "simples" nunca fez parte do meu vocabulário, Annie. Tudo comigo é complicado. E não espero que você entenda o que estou prestes a dizer, mas eu não sei o que pensar, o que fazer. Metade de mim tem o controle da situação, mas a outra metade diz que preciso te afastar o máximo possível pra longe de mim.

- E você sabe qual metade vai escutar? - perguntei quase sussurrando -

- Não. Estou apavorado demais para saber. - ele fechou os olhos, colando a sua testa na minha -

- É preciso acabar com esse seu medo de ser tocado lá no fundo, Luke. - falei apoiando a mão no lado esquerdo do seu peito -

- Ou é preciso que alguém me toque profundamente pra acabar com isso... - ele apertou minha mão -

Então ele me envolveu, passando seu braço pela minha cintura, e me beijou. Ele me apertava tão forte que meus pés quase saíam do chão, mas eu não queria que ele me largasse nunca. Tinha medo de larga-lo e perde-lo novamente. Não queria ele longe de mim de novo, porque a sensação que eu tinha quando estávamos juntos é de que nos pertencíamos. E por falar em pertencimento, naquele momento tive a sensação de que pertencia à ele muito antes de ter me dado conta disso. E foi também naquele momento que percebi que não havia mais jeito:

Eu estava completamente apaixonada por ele.

Proibida Pra MimWhere stories live. Discover now