CAPÍTULO 85

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LUKE

Cheguei em casa do hospital e joguei minha mochila, com algumas mudas de roupa que minha mãe havia separado pra mim, no chão do meu quarto.

Minha cabeça doía um pouco e eu ainda estava profundamente irritado com tudo que estava acontecendo na minha vida.

Fitei meus troféus e medalhas cuidadosamente arrumados nas prateleiras do meu quarto. Lembranças dos primeiros campeonatos que disputei, dos eventos esportivos que participei e dos regionais do ano passado, em que eu quase havia me classificado pro campeonato nacional, ficando pra trás por apenas uma posição.

O Tony e eu trabalhamos duro o ano todo para que a história dos regionais do ano passado não se repetisse. Eu era o melhor e mais promissor lutador que ele tinha, porque eu era apaixonado pela luta, e ele sempre me dizia que aquilo era raro de encontrar. 

"Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que eles têm profundamente dentro de si — um desejo, um sonho, uma visão." - o Tony costumava me dizer. Mas agora estava tudo perdido. Eu estava perdido.

Dei um grito abafado e, num só gesto, joguei todos os troféus e medalhas no chão. Ouvi o barulho do metal colidindo com o chão e alguns troféus trincando. Aquilo me feria por dentro.  Ali estava toda a minha trajetória e todos os meus sonhos, completamente destruídos diante de mim.

Senti meu ombro ainda imobilizado gritar de dor quando fiz um movimento brusco, mas não descansei. Arranquei a tala com força e fiz o mesmo com a prateleira de baixo, que guardava as lembranças mais antigas. Não descansei até que tudo estivesse no chão.

Apoiei minha cabeça na prateleira mais alta, agora vazia, e comecei a chorar. Não conseguia mexer meu ombro normalmente, pois agora a dor física também me consumia. Solucei copiosamente, vendo meu sonho ser tomado de mim.

Eu havia perdido tudo que amava. Como isso poderia ser justo? Como eu deveria sorrir sabendo que cada coisa que eu me atrevia a gostar era brutalmente arrancada de mim pela vida?

Eu havia perdido a minha moto no acidente, não tinha mais a garota que amava, e agora não poderia mais lutar. O que eu deveria fazer com a minha vida? O que eu deveria fazer com os meus destroços, com os pequenos pedaços de mim que ficavam pelo caminho a cada vez que eu perdia algo?

A luta pra mim era mais que um esporte. Era a minha esperança de melhorar a minha vida e a de minha família. Eu não tinha dinheiro pra ir pra uma faculdade, muito menos ganharia uma bolsa de estudos com as minhas notas deploráveis. Lutar profissionalmente poderia ser a única saída pra mim no futuro, e o Tony sempre dizia que com o meu talento e determinação, eu chegaria onde quisesse.

Eu odiava cada minuto dos treinos quando o Tony pegava pesado comigo, mas dizia para mim mesmo: "não desista". A cada gota de suor derramada nos treinos eu pensava em minha mãe e em minha irmã. Eu sabia que minha mãe não aprovava minhas lutas, mas eu tinha esperança de que ela entendesse que aquilo não era apenas um esporte e sim a possibilidade de mudar de vida.

Eu me sentia vivo quando entrava em um ringue e pronto pra enfrentar qualquer coisa. E quando a coisa ficava feia, quando o meu adversário me atingia com força ou quando eu estava a apenas um segundo de ser nocauteado, eu me lembrava delas.

Da minha mãe. Da Emma. Da Annie. E aquilo me dava forças pra continuar lutando. Por elas, não havia nada que eu não pudesse enfrentar. A luta me ajudou a superar a morte do meu pai, que foi pior coisa que já havia acontecido comigo! O que mais eu não poderia enfrentar, depois daquilo?

Proibida Pra MimWhere stories live. Discover now