CAPÍTULO 7

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LUKE

Ao chegar em casa de noite após o treino, fui surpreendido com um carro desconhecido parado em frente ao nosso jardim. Entrei, joguei minha mochila e luvas de boxe no sofá e me dirigi até a sala de jantar, que emanava cochichos e risadas. Quando cheguei no local, me deparei com minha mãe, a Emma e um cara de uns cinquenta e poucos anos, todos sentados à mesa rindo enquanto jantavam.

- Perdi alguma coisa? – questionei, anunciando minha presença –

- Oh, oi, filho. – respondeu, um pouco assustada – Esse é o Jimmy, ele é novo na cidade e começou hoje lá na empresa.  – sorriu olhando pra ele, encantada –

- Luke, não é? – se levantou – É um prazer te conhecer, rapaz. – sorriu, estendendo a mão. Eu ignorei o gesto –

- Pra você é Lucas. – o encarei por alguns segundos e dei a volta na mesa para me sentar ao lado da Emma, que assistia a situação constrangida –

- Me desculpe por isso. – falou olhando para o Jimmy – Estamos enfrentando alguns problemas na nossa relação, mas tenho certeza que ele sente muito, não é, Lucas?

- Na verdade, não sinto, não. – falei enquanto me servia –

- Talvez seja melhor eu voltar em um outro momento... – falou se levantando, visivelmente constrangido –

- Talvez seja melhor você não voltar nunca mais. – falei baixo, mas em tom suficiente para que ele me ouvisse –

- Eu sinto muito. Jim. Vamos marcar alguma outra coisa em outra oportunidade. – falou colocando a mão em suas costas enquanto o acompanhava até a porta –

- Jim? – perguntei quando ela retornou – Pelo visto vocês já estão íntimos.

- Lucas, não comece! Eu tenho o direito de recomeçar a minha vida! – gritou enquanto começava a chorar – Já fazem três anos que o seu pai morreu! Três anos!

- É, e você não tem o mínimo de respeito pela memória dele! – levantei, enfrentando-a –

- Não diga isso! – fungou – Eu o amava! Você sabe disso!

- Pelo amor de Deus! Se o amasse, respeitaria sua memória e não ficaria procurando um namorado em cada esquina como uma vagabunda desesperada! Você não se dá ao respeito, porra?

Ela ergueu sua mão e me deu um tapa na cara. A encarei, com o rosto começando a esquentar por conta do tapa. Respirei fundo, cerrando com força os nós dos dedos das mãos. Ela me olhou aos prantos. A Emma levantou assustada.

- Eu exijo respeito! – pediu – Sou sua mãe!

- Essa é a única coisa que me impede de revidar esse tapa. – ela me olhou, soluçando – Nunca mais encoste em mim. – avisei próximo ao rosto dela, subindo para o meu quarto –

Tentei esfriar a cabeça no meu quarto sozinho, mas não consegui. Troquei de roupa, vestindo uma calça de moletom cinza, um casaco preto e tênis de corrida. Amarrei a coleira no Thor, que me olhava sem muito entender, e saí junto com ele pra correr.

Geralmente, quando algo me irritava, a corrida aliviava a tensão. Fui até um bosque perto da minha casa e eu havia corrido tanto que havia perdido a noção do tempo. A noite já estava caindo e o tempo começava a esfriar mais. Mas minha raiva não havia passado. Minha relação com minha mãe estava longe – muito longe – de ser boa. Antes de meu pai morrer, até que nos dávamos bem e convivíamos como uma família feliz.

Lembro que no dia do nascimento da Emma eu estava com tanto medo de que algo acontecesse com minha mãe durante o parto que quando os médicos nos chamaram para conhecer o bebê eu nem me importei: a primeira coisa que fiz foi correr e abraça-la na cama do hospital. Eu a amava com todo o meu coração, como só um filho é capaz de amar uma mãe.

Mas a morte do meu pai havia mudado tudo. Perder meu pai há três anos havia feito de mim um ser humano diferente. Menos humano, na realidade. Ter a pessoa que eu mais amava arrancada de mim da forma que ele foi arrancado foi a pior coisa que poderia ter me acontecido. Eu suportaria, embora não sem dor, que minha mãe tivesse sido levada de mim. Mas eu quis morrer junto com meu pai quando recebi a notícia de sua morte. Ainda mais sabendo que eu estava no mesmo carro em que ele se acidentou e poderia ter evitado o acidente.

Poderia ter sido levado com ele. Preferia ter sido levado com ele. Mas por algum motivo irônico e por alguma piada sem graça do universo, eu sobrevivi e tenho tentado sobreviver desde então. Mas jamais fui o mesmo novamente.

Proibida Pra MimWhere stories live. Discover now