Capitulo 2

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Pov Klaus



- Você nunca me contou.

Caroline me lançava um olhar de quem estava muito curiosa. Me parece que ela queria entrar nesse assunto há tempos. Eu tentei fingir que não entendi a pergunta. Mas eu sabia qual era a curiosidade dela.

- O que aconteceu naquela noite em que você planejou morrer?

Eu não queria lembrar. Não queria falar sobre isso. Até porque eu mesmo não entendi o que aconteceu. Mas já tinha se passado mais de um mês desde a morte de Elijah e a minha não-morte. E eu não me conformei ainda. Era pra ter sido eu. Pra começar, era pra ter sido somente eu. Mas meu irmão veio com toda aquela conversa sobre o quanto ele lutou pela minha redenção por sua vida inteira, dizendo que não havia mais motivos pra ele estar vivo, afinal o irmãozinho dele iria morrer pela filha. E acredito que o motivo não foi só eu. Hayley estava morta. E ele sabia que a culpa dessa tragédia era dele.

- Caroline, precisamos mesmo falar sobre isso?

- E porque não falar sobre isso? A dor vai diminuir se você tentar ignorar?



Ela estava certa. Eu evitava falar sobre meu irmão ao máximo. Mas isso não diminuía em nada toda a dor e a culpa. Eu tinha pesadelos constantes com ele, revivendo o momento da sua morte de novo e de novo. A dor não cabe em mim. E me sinto cada vez mais pequeno diante disso.

Resolvemos nos encontrar numa lanchonete perto da Escola, ao inves de ser novamente no escritório dela. Foi ideia da Caroline, claro. Eu não estava com a menor vontade de "sentir o ar fresco", como ela disse, tentando me animar, mas acabei me forçando a ir. E entre conversas aleatórias, Caroline entrou nesse tema, mesmo sabendo que me sinto desconfortável. Eu estava perdido na maldita lembrança da morte de Elijah novamente, quando senti Caroline segurando minhas mãos com firmeza, me olhando nos olhos e insistindo.

- Klaus... me conta.

A curiosidade deu lugar à preocupação e empatia em seu olhar. E essa postura da Caroline, demonstrando o quanto se importa de verdade comigo, fez eu me sentir seguro e calmo. Pus uma de minhas mãos sobre as mãos dela, devolvendo o carinho. E, sem perceber, comecei a falar:



* flashback on *



Pov Klaus



Estávamos sentados na praça em New Orleans, após nos despedirmos de Rebecah e termos conversado brevemente sobre nossas vidas e o quanto Elijah lutou por todos nós. Sobre o futuro de Hope e sobre a possibilidade de encontrarmos apenas escuridão após nossa morte que já estava mais que certa. Quando quebramos a estaca e dividimos uma parte pra cada um, afim de cumprir o que foi combinado com muita dor e nenhuma dúvida, nos levantamos e nos posicionamos de frente um pro outro com os pedaços de estaca apontados para o nosso peito.


Nesse momento, olhamos um nos olhos do outro. E eu precisava finalmente assumir, mesmo com todos os momentos terríveis que vivemos, o quanto era bom ter Elijah por perto.

- Eu não mereço o amor que você me deu, irmão. Mas sou muito grato.

Elijah me olhou de uma maneira tão carinhosa, que me fez lembrar a forma que ele me olhava quando éramos crianças. Na ocasião, ele tentava cuidar de mim, após as inúmeras agressões que eu sofria, causadas por Mikael. Elijah vinha me apoiar, como se tentasse me salvar, mesmo sabendo que não tinha nenhuma chance e era esse mesmo olhar que ele me lançava agora. Um olhar de amor. De compaixão.

- Tem sido um passeio glorioso, Niklaus.

Meu coração, que logo seria ferido pela única arma que poderia nos matar de verdade, bateu fora do normal. Imaginei que fosse porque iríamos experimentar a morte real pela primeira vez.



- E minha maior honra. - Elijah concluiu.

E eu senti um clima de... despedida? Não, com certeza não. Eu também iria morrer. Enfrentariamos juntos. Como sempre.

Então encostamos as estacas de carvalho branco na direção de nossos corações, com a outra mão nos apoiamos na nuca um do outro e combinamos com um aceno de cabeça que deveríamos fazer isso juntos.

Eu acenei pra que ele me atingisse. Elijah acenou pra que eu o atingisse. Eu o atingi profundamente no coração.


Elijah não me atingiu, se mantendo apenas na posição, mas sem se mexer.



E, junto à surpresa desagradável de perceber que ele não cumpriu o combinado, estragando todos os meus planos, senti pouco a pouco um poder enorme, descontrolado e cheio de escuridão sair de mim, me fazendo gritar de dor. Era a Hollow. Ela saiu de mim, e vi aquela maldita névoa azul passar por meu braço, que ainda segurava a estaca, e entrar em seu peito, enquanto Elijah apenas mantinha seu olhar no meu. Ele estava morrendo. Meu irmão. Ele estava morrendo com a Hollow no corpo, me libertando sem a minha autorização. Ele estava indo embora.

- Elijah!!! Elijah... O QUE VOCÊ FEZ??????

Eu senti que quanto mais eu falava, menos ele me escutava, e seu olhar amoroso continuou lá. Percebi que ele aos poucos se tornava cinza.

- Não, não, não... NÃO!!! Elijah, fale comigo, por favor!!!! Por que você fez isso? POR QUE???????

Ele não me respondeu. E seu corpo todo se tornou cinza, e pouco a pouco, meu irmão, que sempre esteve ali por mim, que lutou por mim e pela nossa família e fez disso sua maior missão de vida, foi se desmanchando, se tornando pó.

- ELIJAAAAAAH!!!!!

Suas cinzas eram lentamente levadas pelo vento, enquanto eu gritava desesperado, mesmo percebendo que não haveria volta. Agora eu realmente perdi meu irmão. Ele não morreu e ficou preso no colar da minha irmã. Ele não perdeu a memória. Ele não está preso em um caixão à minha disposição e sob meus caprichos. Ele está morto definitivamente. E essa é uma dor grande demais pra se carregar. E mesmo com meu corpo e mente livres da Hollow, não consigo mais ser o mesmo Klaus de antes. Nessa noite, eu não tive coragem de ir pra casa, fiquei sentado naquele banco, ainda vendo algumas cinzas flutuando, enquanto tentava imaginar onde foi que eu errei e como Elijah conseguiu me enganar. E só depois de horas, nem sei quantas, consegui ir embora. Cheguei em casa e literalmente desmaiei em minha cama.



* flashback off *



Pov Klaus



Caroline olhava pra mim com olhos marejados. Eu sei que ela perdeu muitas pessoas importantes em sua vida. Ela me entende. E eu cheguei no meu limite. É a primeira vez depois de mais de um mês da morte dele em que toco nesse assunto com alguém. Meus irmãos e minha filha evitam falar sobre isso comigo ou perto de mim. Com certeza com a intenção de me darem espaço pra eu viver o luto. Eles queriam cuidar de mim.

Mas com Caroline é sempre diferente. Ela quer enfrentar o problema. Ela sempre está ali pra me dar o choque de realidade que eu preciso. Ela está ali pra me mostrar o que preciso ver, não apenas o que eu quero ver. E geralmente o que ela me obriga a ver e assumir pra mim é algo que eu não quero. Fico me perguntando se em algum momento em que ela me fez enfrentar meus problemas internos, ela esteve errada. Não me lembro. Acho que nunca.

Quando Caroline percebeu que cheguei ao meu limite, compreendeu que era doloroso demais pra mim e não insistiu mais. Propôs que fôssemos embora, de volta à escola "pra um lugar fechado, escuro e de preferência cheio de poeira", fazendo piada sobre meu mau humor aparente e me fazendo dar um sorriso totalmente involuntário.

Ela tem esse poder. O poder de tirar de mim atitudes que eu não teria com outra pessoa. E ela conseguiu de novo. Porque, por mais que tenha sido doloroso falar, transformar minha dor em palavras audíveis por qualquer pessoa que passou ao nosso lado naquela lanchonete, o fato é que com ela eu senti uma necessidade enorme de desabafar. E eu consegui. Eu nunca falei sobre isso nem pra mim mesmo. Eu nunca nem escrevi sobre isso. Nem nunca falei nada diante do espelho. Mas com Caroline as palavras simplesmente fluiram. E depois desse desabafo, me senti um pouco mais leve, ainda que a dor nunca fosse embora.

Levantamos juntos e voltamos pra escola, lado a lado, afim de estendermos um pouco mais nossos momentos de bate-papo que me fazem tão bem. Eu caminhava introspectivo, com a morte de Elijah passando em looping na minha mente, mas sentindo o olhar de Caroline em mim. Como se quisesse estudar minha cabeça. Ela queria me entender por completo. Mas sou muito mais do que as pessoas conseguem enxergar.

Tocou em meu braço, interrompendo nossa caminhada. Eu a olhei enquanto ela calmamente passava seu braço ao redor do meu, depois descia sua mão até encontrar meus dedos e entrelaçá-los.

- Vamos passar por isso juntos.

Caroline disse isso enquanto me olhava nos olhos profundamente e tomando a dianteira no caminho até a escola, sem soltar a minha mão em momento algum.

Eu entendi o recado. Era tudo o que eu queria ouvir. As palavras certas. Mas ditas no meu pior momento. Ao mesmo tempo em que eu queria beijá-la ali mesmo no meio da rua, também tinha vontade de afastá-la. Um sentimento de inferioridade me invadiu, me deixando a impressão de que não sou digno nem merecedor do amor de Caroline. E ao mesmo tempo, um medo enorme de ser abandonado por ela tomou conta de mim. Acho que estou enlouquecendo.

O que vai acontecer conosco?




"However Long It Takes" - KlarolineOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz