capítulo 1| O desembarque

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14 de Julho de 1800, Porto de Santa Marta.

Conforme as ondas vão empurrando a caravela aos poucos, Lorenzo Martin vai chegando a uma terra nova, totalmente diferente de sua terra Natal.

Em alto mar, antes de o navio atracar no porto de Santa Marta, dá para ver uma fauna e flora bem diferente da Espanha. Já o porto lembra muito com o da Espanha - galinhas, sacos de especiarias para ser importado para outros países - e pessoas de várias nacionalidades. Por ser uma cidade pequena, ela tem muito movimento e toda hora vosmecê vê soldados nas ruas.

A construção das casas é feita de madeira e taipa. Andando mais um pouco pela rua principal, vosmecê dá de frente com a Câmara Municipal. Lorenzo Martin, ao ver três crianças brincando de pega-pega, relembra de quando ele e seus três irmãos brincavam em frente à Câmara Municipal da Espanha.

De repente, gritos de mulher chamam a atenção de Lorenzo. Ele corre entre a multidão, tropeçando e esbarrando em alguns que o encaram e falam mal. Os gritos ecoam do interior da taberna, lugar frequentado por homens e marinheiros que buscam um carinho em meio à solidão e o prazer para liberar sua selvageria.

Com seu rosto suado e olhos abertos, como quem está caçando, Lorenzo entra sem dar atenção a quem o observa. Corre e sobe a escada de madeira, que range ao pisar de seus passos firmes e pesados.

Logo que entra no quarto, a fúria o toma ao ver Custódio, que bufa como um animal ensandecido, entre as pernas da mulher, que chora com as estocadas fortes e violentas.

Lorenzo grita e atira para cima, fazendo custódio se assustar.

- Vosmecê não vai escapar de mim, seu psicopata!- Lorenzo Martin joga uma jarra, que estava em cima da mesa, contra Custódio, fazendo-o ficar com a visão embaçada.

Ele não tem por onde escapar, já que Lorenzo está cercando a única saída que tem. Custódio está muito nervoso e, quando se levanta pensando em um jeito para dar fuga dali, outra jarra o acerta.

Aproveitando que Custódio se recupera da pancada, Lorenzo começa a desferir socos no rosto e na cabeça dele, ocasionando um derrame cerebral.

Lorenzo se levanta de cima de Custódio, olha para os lados para ver se alguém tinha visto aquilo. Ele pega o corpo para esconder no meio da mata, um trabalho muito difícil e cauteloso, pois ninguém poderia vê-lo.

- Olá, prazer. Meu nome é Lorenzo. Vosmecê poderia arrumar um carrinho de mão e um pouco de palha, por favor? - exclama Lorenzo aflito. Ele, arrependido do que fez, passa a mão sobre seu rosto.

- Consigo sim, me aguarde! Só um instante. - responde Flor assustada com o clima de pós briga.

Flor entra na taberna com as coisas que Lorenzo pediu.

- Vosmecê irá ter que fazer isso o, mas rápido possível, pois o capitão de Santa Marta está vindo para cá! - exclama Flor desesperada e com um pouco de medo.

- Obrigado pela ajuda. - Lorenzo coloca o corpo de Custódio dentro do carrinho e joga a palha por cima para disfarçar.

Lorenzo limpa suas mãos em sua roupa e depois cumprimenta Flor rapidamente:

- Prazer me chamo Lorenzo. - Lorenzo se apresenta com ar de arrependimento.

- Prazer, sou Flor. Bem-vindo. - responde Flor ainda meio desconfiada.

No cair da noite, Lorenzo volta para a taberna e dá de cara com Flor usando um vestido cheio de pedrarias. Os homens que ali estão só têm olhos para ela.

Para saber quem irá passar a noite com Flor, fazem um bolão. Lorenzo, com muito dó dela, resolve dar seu dinheiro todo sem pensar no dia de amanhã. Os dois ficam namorando durante a madrugada toda.

- Agora vosmecê está livre daquele homem. - murmura Lorenzo passando a mão no corpo de Flor.

- Sim, graças à vosmecê. Muito obrigada.

Dia seguinte.
15 de julho de 1800.

O sol mal nasce e Lorenzo já está sentado na beira da cama colocando as suas botas.
Flor nunca teve uma noite tão calma como aquela, pois a maioria dos homens com quem ela passa as madrugadas vive bêbados violentos.

- Irei até a Câmara Municipal ver como está o andamento das minhas futuras terras. - diz Lorenzo ajeitando sua gravata na frente do espelho.

Lorenzo abre a porta do quarto rapidamente e desce as escadas de um jeito que não atrapalha o sono dos outros hóspedes.

Por incrível que pareça, as ruas de Santa Marta estão vazias ainda, fazendo com que Lorenzo ande com calma e aprecie aquele pedacinho da Espanha na América.

E, lá está o capitão Fernandes e o juiz Antônio descendo da charrete em frente à Câmara Municipal.

Como a Câmara Municipal já está aberta, Lorenzo resolve entrar. Ele sobe a escadaria muito tenso, pensando muito no que ia dar aquelas papeladas que enviou, e senta na poltrona.

- Sou o juiz Antônio.

Um bolo de correspondência cai no chão e Lorenzo ajuda o juiz a catá-lo.

- Bom, como vosmecê já sabe, sou Lorenzo Martin.- diz Lorenzo com suas mãos trêmulas.

A Câmara Municipal enche rápida e só falta Custódio para começar o interrogatório.
Por conta da demora deste, o juiz Antônio resolve começar.

- Bom dia a todos que se encontram nesse interrogatório! - exclama o juiz batendo seu martelo sobre a mesa.

A sessão fica em um silêncio total, só dando para escutar as pessoas que passam na rua e os passarinhos.
O juiz pega os três envelopes amarelados, que estão em cima de sua mesa, e tenta tirar o fecho de cera vermelha que os mantêm selados.
O juiz Antônio pega a carta que está no envelope e, ao começar a ler, olha rapidamente para Lorenzo de um jeito estranho.
Lorenzo está com suas mãos trêmulas sobre o rosto. O acento em que está sentado faz um barulho insuportável, pois ele fica balançando seu pé para lá e para cá.

O capitão Fernandes sai do armazém e volta para Câmara com uma notícia nada boa dada por um Plebeu da vila.

- Bom dia! - exclama o capitão Fernandes com um ar de que os planos do juiz irão mudar totalmente. O capitão, com suas botas cheias de barro, entram na Câmara Municipal. Com a mão na espada, como se nada tivesse acontecido, murmura no ouvido do juiz:

- Custódio morreu. - o capitão Fernandes murmura de modo que só escutam os que estão pertos.

O juiz, para acabar de resolver logo com as coisas, bate o seu martelo e diz:

- Foram decididas, as terras ficarão para Lorenzo Martin.

- Não pode ser! É direito do Custódio.

- Se alguém falar mais alguma coisa vai ser preso!

- Eu sei quem matou Custódio! - uma das pessoas que está ali no interrogatório grita.

O juiz se levanta, pega o seu martelo e o bate sobre a mesa dizendo:

- Como Custódio não está vivo, as terras vão para Lorenzo Martin. E, te desejo que faça um bom aproveito delas.

- Obrigado!

Para que outras pessoas não interviessem na investigação, o juiz pede ao capitão que o acompanhe até a fazenda onde o corpo de Custódio foi encontrado.

A vida é um jogo de Xadrez. [ Em Revisão]Where stories live. Discover now