Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)

[5] A FEITICEIRA POSSUIDA

O regresso das mulheres ao convento despertou a senhora de seu torpor, levando-a a seu encalço em seguida, com Innamabel brevemente reestabelecida de sua luta interna.

— Taú e Valentin ainda não regressaram — comentou ela.

— A floresta é traiçoeira, senhora Gertruida. Demos alguns instantes mais para que cheguem.

— E você Innamabel? Reconheceu sua aflição?

Ela dobrou-se em sua pequenez, irrequieta, inferente as sensações que experimentou quando deixou que a escuridão se apossasse de seu corpo, saísse para fora, a dominasse e transformasse sua consciência em um mero nada, esquecendo de tempo, de espaço e de matéria e se deixando ser guiada apenas pelo instinto de ódio e de rancor interminável.

— Três homens.

— Essa é a sina de todos os justos; homens. Inna cedeu o controle de seu ser ao Sirus, permitiu-se ser guiada por ele através do ódio. Por muito pouco não permiti que escapasse daquela casa.

— Você precisa apenas de aconselhamentos, Innamabel. Darei minha doutrina a ti, mas agora necessito que reconheçam nossa urgência. O culto de Huru vem, e instaurará a destruição dessa cidade se não reconhecermos antes os seus acólitos.

— O que eles pretendem fazer?

Gertruida guiou-se de volta a luz daquele altar, clamando a atenção das jovens para si que a acompanharam ante um púlpito de granito onde ela aproximou as mãos e um grande saltério materializou-se. Era feito em papiro asiático ancestral. Quando ergueu ambos os braços, as páginas do livro abriram-se sobre o ar, formando um grande arco de um milenar conhecimento.

— Taú é um estudioso dos cultos milenares, embriagou-se quanto os conhecimentos unidos nesse inscrito de origem desconhecida mas de erudito conhecimento acerca das forças inumanas e imutáveis. A incontáveis eras, anterior a criação da vida como conhecemos, havia o caos e a desordem. Através das forças desconhecidas, a luz ergueu-se em desafio ao caos e o venceu, iniciando tudo o que conhecemos e subjugou esse caos — citou ela, pontuando seu conhecimento com as pontas das unhas sobre os símbolos inumanos inscritos em tinta escura descamada numa linguagem chinesa antiga. — Essa indomável força detinha poder para ser contra a vida, nega-la, destrui-la, e por isso a luz poderosa o condenou para sempre a Middavir, o reino do vazio. Era no vazio onde habitavam as trevas e a loucura, que eram temidos pela própria Morte e pelos seres mais abomináveis. Visando manter o caos distante, as forças boas criaram então os reinos de Gallir, onde habitavam os espíritos, e depois Agamir, o reino onde habitavam os vivos. E para garantir a distância e a proteção desses reinos, foram crivados três sigilos, chamados de Sigilos de Lux. O primeiro desses sigilos — apontou ela a uma forma estelar intrínseca. — está em Agamir. Era protegido pelos Verndare, mas depois da chegada do Santo Oficio, momento em que elas começaram a ser sitiadas pelos homens, ele ficou desprotegidos e Sirus infestaram a terra, se apossando de altos cargos em reinos, impérios e famílias. O segundo sigilo está em Gallir, o reino dos espíritos — apontou então para uma forma quadrangular com uma insígnia semelhante a uma mão com um olho no meio.

— E... o terceiro?

Ela olhou na direção da inocente jovem e ergueu uma sobrancelha, enquanto Dália apenas formava um vago sorriso crescente.

— É um segredo, conhecido como "O Segredo do Senhor". Diz-se ser essa a força resultante da união da luz e das trevas.

— O culto a Huru inspira-se na adoração a essa entidade blasfema e escura. Antigas sociedades atribuem-no a todas as forças opostas da criação; vida e morte, tristeza e felicidade, loucura e sanidade, trevas e luz. Seus acólitos pregam a chegada das trevas e estarão dispostos a libertar esse caos de sua prisão em Middavir sobre o mundo dos homens ao romper com os sigilos de Gallir e Agamir. Caso consigam... chegará ao fim toda a criação e nem mesmo Deus poderá impedir todo esse mal depois de ter se desvinculado do tudo. E foi por respostas que Taú e Valentin foram atrás dos Verndare da floresta.