[21] CHAMAS DO VAZIO

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Quando a menina despertou, ouviu a urgência das vozes ao seu redor. Um cenário cujo as poucas luzes lhe eram como pontos azuis bruxuleantes. Ela levantou a cabeça e olhou ao redor, tonta, sentindo algo liquido escorrer de sua testa que logo que tocou, percebeu ser o próprio sangue.

Ela, deitada numa fila de cadeiras do templo se ergueu e confusa, tentou assimilar o que estava acontecendo ante aquela correria e naquele vai e vem de seus parceiros tentando apagar as chamas com muita agua.

Ela tonteou.

— Ela despertou.

— Fique longe de mim! — Valentin ameaçou, segurando um balde de agua de madeira como escudo e afastando-a com o braço a frente do corpo.

— O que houve?

— Você perdeu o controle — disse Dália de longe, arremessando seu último balde.

— Deus – clamou ela, abismada. Mas como não queria que o templo fosse consumido, ela correu até o lado de fora, sentindo as luzes da tarde lhe queimarem os braços e o rosto e pegou um dos baldes já cheios ali e seguiu para dentro, auxiliando a apagar as chamas.

Algum tempo depois, a última fagulha foi extinta com Gertruida pisando sobre ela e todos pareciam exaustos, acuados no canto e a menina, desorientada, largou seu balde e tapou a boca.

— O que fiz!

A Monja já estava próxima o suficiente para se achegar a ela quando Dália a confortou contra os seus braços e Valentin deu um passo atrás, encarando-a com um vazio no olhar de longe, na penumbra do que agora estava negrume e queimado.

— Você vai ficar bem — disse a companheira, afastando as lagrimas gélidas de seu rosto gélido. — O que houve?

— Eu vou dizer o que houve – Valentin pulou para mais próximo. — Essa garota é insana. Um risco para o nosso Convento.

— Perdoe-me, Valentin.

— Você vai acabar matando todos nós — ele recuou e desapareceu nas sombras quando topou com o velho Theodor, que surgia a passos comedidos de sua sala.

— Theodor — a anciã se prontificou.

— O que está havendo?

— Innamabel perdeu o controle da Corrente Anímica, Valentin ficou ferido mas deve se recuperar.

— Há grande luz nas trevas que respira, jovem Innamabel — ela olhou na direção do velho, ainda acolhida pela companheira. — Aquiete sua mente e seu coração para que distinga sua sina da verdade sobre si e reflita sua prioridade.

Ela abaixou a cabeça, inquieta, mas atenciosa ao que havia dito o velho, que apenas tocou o ombro da anciã e deu meia volta logo em seguida.

Quando tudo havia se acalmado, no entanto, seu único desejo era o flagelo, por isso Dália foi distante para conseguir um animal selvagem, o matou e seu sangue foi depositado na bacia onde ela cuspiu o próprio fogo e preparou para que ela se sentasse, permitindo ter os braços amarrados a Corrente Anímica que a queimava dolorosamente enquanto ela chorava.

Porém, Dália e Gertruida não interviram durante o seu flagelo, pois era o que queria e o que precisava para refletir e poder recuperar toda a consciência perdida.

E pouco antes das seis — horário em que os outros membros sairiam — Dália aproximou-se e se assentou sobre as próprias pernas.

— Você está melhor agora?

— O que fiz... foi imperdoável, Dália.

— Você não tem culpa! Valentin é um insensível. Há milhares de anos não recebemos membros novos; o último foi Taú, e levou muito tempo para que ele fosse aceito. Hoje são melhores amigos.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora