[40] A ULTIMA LUZ

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< Innamabel Gertsner >

Tudo estava desabando e em chamas.

Tudo estava silencioso, senão pelo tilintar das chamas sobre madeiras e quaisquer outras coisas consumíveis. Era a pior visão que já tiveram em suas vidas, sobrepujando mesmo as anteriores em sua própria vila.

Através da nevoa, vislumbraram a parte mais alta da cidade se erguer a frente, enquanto arrastavam-se pelas aguas escuras e cálidas, pontuadas apenas pelas luzes fantasmagóricas e pelo eco do vazio.

— É chegado o momento — anunciou Valentin, passando por trás de todos até que estivesse a proa do barco, com o pé sobre a ponta. — Heinrich, para onde irá?

— Encontrar as armas que deixei em casa anos atrás. Devem servir para abrir caminho.

— Yoseph, Marggerith, vocês ficam no barco — determinou Valentin.

E o Yoseph não questionou. No escuro, suas vestes eram ainda mais pavorosas. Innamabel ladeou com a irmã e com o ex-marido, a quem prontamente vibrou sobre seu toque.

— Se cuidem — desejou ela.

— Bella... — Yoseph clamou, quando ela deu um par de passos à frente. — Fique bem.

Mas ela não correspondeu, tão pouco sentia que seu coração queria dizer as palavras de aceitação. Negava-se a aceitar a traição de sua irmã, via a falsidade empoeirando suas faces, seus olhos claros com menos brilho, observando-a em silêncio, talvez envergonhada. Isso — e o vingador dentro si — a impediram de dizer suas últimas palavras quando os olhos de Minerva brilharam e ela os resguardou numa bolha mágica.

Eles ergueram-se do chão e então, todos os Verum Lumen desapareceram num facho de luz, deixando apenas os dois na escuridão daquele mundo.

Roma fora destruída em questão de horas.

Nunca antes uma destruição daquela magnitude fora constada e tão breve, seus inimigos saberiam e ficariam estupefatos com o ocorrido — isso se não viessem correndo na tentativa de alçar aquelas ricas terras.

Por onde passavam com a bolha, notavam o cenário já conhecido; a nevoa havia matado todos com a praga dolorosa, vida alguma havia sobrevivido a aquilo.

Minerva não disse nada, não tinha o que dizer.

— Onde podem estar? — Dália indagou.

— Há uma grande emanação de magia vindo de não muito longe daqui.

— Acho que sei do que é — Valentin apontou seu lado direito, onde haviam um facho de luz verde-anil e uma imensa silhueta se erguendo a partir do chão.

Lembrava um grande verme com centenas de patas que emanava raios a partir das pontas das patas.

— Parem aqui — Heinrich pediu, atrás de todos. Prensou-se contra a bolha e a esmurrou por três vezes antes de conseguir romper um dos lados e pular, atingindo pesadamente o telhado de uma das casas.

Minerva recompôs a bolha.

— Admito... estou temerosa quanto os resultados desse embate.

— Sobrevivemos a morte e ao reino onde ela habita, não será um casal de traidores que nos deterá — confiante, Valentin se pôs a frente, salivando, dobrando o punho enquanto a recordação do que havia acontecido-lhe ao outro, lhe servia como incentivo a não perder a batalha daquele dia.

Minerva apertou os lábios.

— Temos um feitiço a conjurar, já que Gertruida indeferiu no anterior. Sabemos que a Espada Luz tem capacidade para matar qualquer ser, mas seria ela capaz de findar Adam e Eve?

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora