[15] A SINA DA MATRIARCA

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< Innamabel Gertsner >

Uma dor pulsante persistia contra sua nuca.

Innamabel por fim recuperava sua consciência enquanto o vazio e a escuridão faziam parte de sua essência. Julgou ela estar mais uma vez no imenso corredor escuro, cercada por demônios, sem ter para onde fugir, correndo contra os pés frágeis e tropeçando, caindo ao chocar os tornozelos e ser devorada.

Sua visão, assim como na noite em que despertou, estava turva, enevoada, assistida por pontos luminosos que não piscavam, apenas estavam lá, fazendo presença, forçando-a a acordar de seja lá qual fosse sua hipnose. Ela gemeu, ouvindo o próprio resmungar e os lábios ressequidos quando passou a mão para tirar os cabelos do rosto e sua perna congelava, esticada uma sobre a outra no que, percebeu ela, parecia uma delimitação de espaço.

Estava presa, no interior de um cubo delimitado por quatro espadas cravadas no chão, que manavam uma essência que a enfraquecia a cada momento, o que a fez cair para o lado no instante em que tentou se mover.

Estava sozinha, sobre um altar circular, cercado por paredes distantes e quatro escadas pontuando cada quadrante; norte, sul, leste e oeste, e um abismo escuro entre a distante de uma e outra.

Ela se arrastou e olhou para os lados, procurando por algo.

— Ei! — gritou ela, sem respostas.

A únicas vozes que ouviram eram os sussurros fantasmagóricos rebatendo a distância no silêncio e no gotejar suave e ecoante.

— Enfim você despertou — o espanto a fez cair de costas, sobre os pulsos qual era o tom de uma voz gentil e feminina que se assomou as suas costas.

Ela olhou, encontrando-se com uma mulher, ou ao menos o que tinha as formas femininas, uma silhueta transparente e asas depenadas e sujas protegendo-a como num casulo.

— Mennefer... — julgou ela, com a cabeça pesada e tentando desentorpecer as pernas mortas. A mulher acenou, cabisbaixa, encolhida entre as pernas e as asas — Onde nós estamos?

— No caminho para o inferno. Fomos capturadas — respondeu, com uma ressentida voz. — Sou sim Mennefer.

— Onde estão meus companheiros?

— Não vi ninguém mais... apenas notei em sua chegada — a silhueta transparente desapareceu na penumbra que se encontrava na distância entre uma espada e outra. — Por favor... ajude-me a sair desse lugar. Ajude-me a escapar desse julgo e chegar ao Senhor, pois preciso dizer-lhe pois que inocente sou.

Innamabel juntou as pernas a altura do queixo e, observando a estrutura de luz que ali havia, sabia que não sairia daquele lugar tão facilmente. Não sabia se queria, pois as sombras, o clima frio e úmido de certa forma a agradava. Era como fugir do mundo comum e encontrar um minuto de silêncio, ou muitos, se contasse o tempo que estava ali, desacordada.

Ela lembrava das últimas imagens; de três pares de botas, três seres, provavelmente masculinos, se achegando e nocauteando a todos com facilidade. A única coisa de que tentou esquecer foi o fato de ter submergido dentro de si mesma, perdido o controle, e a partir dali, esquecido que o mundo de fora ainda esperava por suas ações.

Ela, mesmo contra a vontade, desejava apenas usar toda sua força para expressar o ódio que sentia, por estar naquele lugar, por não saber o que havia acontecido com os pais ou mesmo com ela antes.

A dor da incerteza.

Mas ergueu o rosto para os olhos violetas da mulher que a encaravam em silêncio e pouco ou quase nada piscavam.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Where stories live. Discover now