[14] O CULTO BLASFEMO

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< Grão-Inquisidor Heinrich Harz >

Amanhecia quando os homens sobreviventes de Heinrich desembarcaram da floresta negra rumo a cidade, erguendo sobre os ombros a entidade que esteve ali e acompanhou o nascimento daquelas arvores e daquela relva verde. Viu surgir os primeiros animais e ouviu o som das armas de caça dos primeiros homens, até os atuais. Ela, enroscada na rede, mostrava suas presas que lembravam as de um felino acuado e seus olhos eram azuis brilhante, mas fora de seu rio, pouco ou nada poderia fazer contra aqueles homens que a cercavam e a arrastavam cada vez mais para fora da floresta.

— Não conseguirá nada de mim, mau homem.

— Você está inegavelmente errada, feiticeira. Existem mil e uma formas de fazer uma pessoa confessar seus pecados e seus segredos, sobretudo quando se trata de uma mulher. Vocês não enganam ninguém, todas são feiticeiras, mas algumas se rendem ao jugo de Deus e entregam suas almas a aquele que realmente as cuidará e as fará respeitar o marido. O que acha que vai conseguir desse jeito, mulher? Vê-se claramente quem es, sua única escolha é cooperar e quem sabe... ter uma chance de encontrar Deus, o Senhor da verdade. Já ouviu falar que a verdade é libertadora de pecados?

Ela o ignorou, movendo-se insignificantemente contra as redes que a cercavam.

— Você, belo rapaz – ela se arrastou pela rede, chamando a atenção de Yoseph, que virou-se apenas para olha-la antes de voltar-se para o seu caminho. — Sinto que seja capaz de olhar nos olhos de uma mulher e confessar o que realmente tem em seu coração.

— Não quero conversas com você, ser abominável.

— Você tem um trauma — disse ela revirando-se na rede, ficando de barriga para cima. — Quer compartilhar?

— Não.

— Então está bem.

Então, enfim haviam chegado a cidade naquele começo de manhã. A vista de Heinrich, as coisas pareciam normais; talvez alguns já até tivessem esquecido o que houve na cena da igreja, mas, a verdade era que mais pessoas dessa vez estavam engajadas em encontrar respostas, sobretudo as que em um círculo conversavam.

— Levem-na para a praça central e a amarre no poste.

— Você não pode fazer isso! Não sabe quem sou!

— É um servo de Satanás, bruxa! — gritou ele, antes de seguir junto ao assistente até a aglomeração que não se incomodou a sua chegada.

Ele pulou no meio do povo e encontrou seu fomentador, um homem grande de bons trinta anos, cabelos castanhos curtos, barba grosseira e olhos escuros trajado como nobre, em roupas de linho e cachecol vermelho.

E uma pavorosa mascara dourada e uma pedra de diamante centralizada ornando seu rosto.

— O que está acontecendo aqui? — reconhecendo a máscara enfadonha do incidente na igreja, ele empurrou um homem que atrapalhava sua chegada até o arredor de um casarão de três andares onde o incitador ditava seus quereres de uma curta escada de madeira.

— Enfim, o inquisidor — ele desceu e encarou o homem mais velho como quem não temesse e nem respeitasse a autoridade da igreja. — Esses homens... — ele apontou com um dedo para trás, de onde as vozes fomentadoras, algumas de descontentamento e outras de repudio se assomavam. — Eles cansaram da exploração de Roma. Nós cansamos. Estamos cansados que somente as nossas mulheres sejam lançadas na fogueira... vocês são invasores nessa terra.

O inquisidor fingiu cruzar os braços com um vago sorriso, mas o que fez foi pegar seu mosquete com o assistente.

— Na minha terra, quem ofende o imperador perde a cabeça. Quem ofende o Santo Padre, perde o direito de ter uma família, porque... sabe... o Santo Padre é o representante vivo de Deus sobre a terra. E tem mais...! — quando ele aumentou a voz e girou ao redor com a arma longa, todos gemeram e se abaixaram, numa tentativa de esquivar. — Seu pai não te ensinou a ser educado, gentil, solicito, um verdadeiro nobre, como sugere suas vestes? Aliás, nunca tinha te notado por essas bandas — ele focou a máscara como principal objeto do seu interesse. — Como se chama... senhor?

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Where stories live. Discover now