[31] O REGRESSO DAQUELES QUE NÃO FORAM.

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< Minerva Verum Lumen >

— Proteja meu filho! – balbuciou a feiticeira sobre a cama improvisada. — N-não! Pro-proteja-o!

E aqueles que a acompanhavam rumaram com rapidez e presteza.

— Está febril — julgou Minerva, tocando-lhe a testa e tomando-lhe uma das mãos. — A delirar.

De pior, todos os estigmas em seu corpo pulsavam, como veias enegrecidas por alguma cruel moléstia e seus cabelos lentamente embranqueciam-se, como se estivesse envelhecendo, perdendo sua essência. E Minerva, mesmo tendo reservado séculos de conhecimentos medicinais, nada conseguia fazer, já tentando tudo o que podia e até o que não podia para tentar mudar aquele estado decadente em que a mulher se encontrava.

— Erva alguma ameniza seu sofrimento. Não há de ser uma moléstia qualquer — citou Madelaine, disposta próximo da feiticeira.

— Porque se trata de uma enfermidade espiritual — rebateu Minerva, alcançando rapidamente o rosto da virgem onde, em sua bochecha esquerda e no pescoço onde havia uma marca como raiz das veias negrumes. — Tem a ver com esse ferimento... está necrosando os tecidos de sua pele.

— Innamabel disse que antes ela esteve sobre o jugo de um inquisidor e depois desses feiticeiros.

— Essa não é magia de Gallir. Certamente foi o inquisidor quem a feriu dessa forma.

— Não há nada que possamos fazer?

— Não que eu saiba... — então, pensou ela quando olhou em direção a matriarca de sua família, que a observava de longe junto aos outros membros, espectros luminosos e quietos. — Não! Em verdade, há algo que poderíamos tentar — ela se levantou de forma apressada e se dispôs diante da negra alta e desprovida de expressões. — O lago Kampo, lar dessa entidade. Não se conhece as propriedades daquelas aguas, tão pouco o que se poderia fazer com elas, mas foi de lá que Silene saiu e é para que deveria regressar.

— Mas... referenciou-me o valor dessa feiticeira. Liberta-la não a colocaria em iminente risco?

— Olhe ao redor, Madelaine, restamos apenas seis de nós e, perdoe minha insensibilidade, decaimos a convivência de Sirus exilados que habitam nas entranhas de uma cidade tomada pela mesma entidade maligna que dizimou grande parte da nossa ordem em Agamir e trucidou todos os nossos preceitos em nome do poder. Se houver algo que eu possa fazer para proteger esses segredos, seja de Sirus que se julgam salvadores ou mesmo de outros da minha ascendência, moverei montanhas e clamarei com toda minha ira o nosso poder verdadeiro.

A mulher amenizou sua postura a algo mais reconhecível como um estado de compreensão, mas que no fundo apenas resignava que haviam feito a escolha certa em se exilar e não estar lá em cima, junto a esse ódio, esses conflitos entre homens e entidades divinas do bem e do mal.

— Compreendo que se sintam ofuscados pela queda dos seus, mas estar contra aqueles que pretendem ajuda-los e contra aqueles que querem sua derrocada, não é a solução para o fim desses conflitos. Há de se escolher um lado, e esse certamente vencerá.

— Minha família sempre escolherá os nossos acima de todos os outros... assim foi e assim será. Senhora Malterna instiga que façamos como propus, por favor. Poderia ir ao lago Kampo e sua agua recolher? — Minerva materializou um cântaro de barro e ofertou a mulher aflita em um sentimento que a fez dar dois passos para trás.

— Ir... lá fora?

— Fogo choverá daqueles céus, Madelaine. Sua boa obra poderá salvar a todos, inclusive a si mesma. Não temes o escuro, posso sentir.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Where stories live. Discover now