[7] UMA VIRGEM NO LAGO

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Inna não havia entendido o sentido da afirmação de Taú, não entendia se caminhariam de Agamir a Gallir a pés, ou o quão distante talvez fosse a distância entre o mundo dos homens e o mundo dos espíritos, ou o quanto não estava preparada sabendo que, com dolorosas lembranças daquele lugar, seria forçada a passar pelos mesmos corredores escuros mais uma vez. Dessa, podendo reagir a quaisquer sombras que se assomassem a um inteligível destino para onde estivessem indo.

Entretanto, o medo não havia domado-a como da primeira vez, do contrário, apenas sentiu a euforia crescer quando, coordenando a saída da cabana onde habitavam as velhas, ele virou-se na direção de ambas e parou, observando como a expressão das duas senhoras não havia mudado em nada.

— O que devemos procurar quando chegarmos lá?

Heide estalou o dedo e magicamente um dobrão de ouro surgiu entre seus dedos. Ela arremessou-o na direção de Valentin e ele o pegou em pleno ar, olhando-o contra a luz.

— Encontre a verdadeira mãe cujo filho se encontra perdido e ela segredará o caminho que seguirão para proteger o sigilo do mundo humano — indicou Heide.

— Lembrem-se, a chave para a salvação desse mundo está na abdicação de sua sina.

Inna foi a única a reverenciar o favor que as feiticeiras haviam feito em lhes dar tantas respostas para tantas possíveis perguntas. Quando passaram dos limites da cabana, a grama tornou-se mais espessa e difícil de caminhar. A campina que ladeava o lago Kampo serviu como direção a eles que perambularam por ali durante uns instantes.

— Vocês já estiveram em Gallir? Com o que se parece?

— Se acredita em histórias fantásticas, é lá que encontrará seus protagonistas. Estivemos lá uma vez, porém fomos rechaçados tanto pelos Verndare quanto pelos Sirus. É assim que funciona, os nossos nos renegam porque sabem que toda vez que vierem a Agamir, será nós, seus irmãos, quem os encontrarão e os devolveram para as trevas de onde vieram porque quando um Sirus é morto, ele retorna para Gallir. Só lhes somos uteis caso sirvamos de ponte para que mais dos deles cheguem ao nosso mundo, e isso só é possível quando nos alimentamos de humanos e os matamos. Já os Verndare, os Verndare são naturalmente aversos a nós por, você sabe... vivermos para sempre num mundo onde todos morrem.

— Mas... tanto vocês quanto Gertruida me parecem afáveis.

— Isso não salda a dívida dos outros Sirus que ainda existem no mundo — pontuou Taú.

— Claro — Valentin olhou para trás. — Ou acha que todos estão destinados a serem heróis como nós?

— Há quanto tempo estão vagando pela terra dos homens?

— Mais do que podemos contar — Dália apoiou-se em seu ombro. — Mas temos a verdadeira intenção de negar nossa sina se o destino dos homens estiver em risco. Não somos cavaleiros... apenas escudeiros.

— Esse mundo também nos pertenceu e por eu tenho direito de permanecer nele por quanto tempo eu quiser e achar que devo — Valentin enrijeceu seu tom, meditando que sua ascendência nobre ainda ditava seus comportamentos arrogantes, mas delimitava com clareza que, depois de negar o Sirus que havia dentro de si, gritando, cobrando, insistindo e persistindo para que se guiasse por seus instintos, ele havia superado seus desejos.

Lembrava ele do porquê lutava, de como aquela mulher estendeu-lhe a mão com o mais humilde dos sorrisos quando esteve excluso, andando pelo mundo desamparado, sem nada, sem ninguém com quem pudesse contar senão a si mesmo e o terrível mal que o habitava e o fazia desonrar seu nome de cavaleiro.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora