[32] A NOITE DESPERTA

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Os dois companheiros continuaram para dentro da biblioteca que tinha um gradil em madeira entalhada e uma curta escada que levava até o andar inferior onde haviam cinco grandes estantes e se separaram, indo cada um para um lado.

Os dois correram de um corredor para o outro, ofegando, tentando repor o ar perdido e só o que encontrou Innamabel, no meio do lugar, sobre uma prateleira, fora algo que tinha uma forma incomum.

— Valentin... venha ver isso.

Já longe, Valentin regressou e encontrou a companheira, junto a algo feito de bronze e entalhado com símbolos desconhecidos.

— O que é?

Ele coçou a barba por fazer e depois arregalou os olhos.

— Só pode ser a Cabaça de Salomão!

— M-mas aqui? — gaguejou ela, confusa. — Exposta dessa forma? — ela analisou o símbolo e girou a cabaça que lembrava um barril afunilado no meio e com uma tampa arredondada.

— Talvez eles não tivessem intenção de andar com ela para todos os cantos — escarniou ele, olhando de forma caricata a parceira que apenas ergueu a sobrancelha. Ele a pegou. — Vamos continuar, podem eles ainda estar no lugar.

Havia uma porta dupla ao fim daquele grande cenário. Cada um moveu uma e se depararam com uma escadaria ampla que levava até o andar superior onde uma grande janela retangular mostrava os céus cobertos por nuvens carregadas e os raios ribombando ao fundo.

Os dois correram sobre os degraus, com Innamabel segurando firmemente a cabaça nos braços até se depararem com os irmãos, que se viraram apressadamente em sua direção.

— Parem! — rugiu Arkadius. — Larguem isso... agora.

— Não mesmo — tratou Valentin. — Eu estava salivando de vontade de encontrar vocês dois. — ele ergueu o toco que antes era seu braço heroico.

Daragon olhou em deboche para o irmão e depois para Valentin.

— Sinto ter ferido sua patinha, mas acidentes acontecem.

Valentin rugiu, mas com a mão livre, Innamabel impediu-o de seguir.

— Valentin, por favor controle-se. Lembre-se que não devemos mata-los — clamou ela, lembrado do que Dália havia dito mais cedo; sobre ele ser uma máquina de guerra quando sob forte emoção. — Onde estão as virgens!

— Vocês não deveriam brincar com essa peça... podem acabar se ferindo, dessa vez perdendo muito mais do que uma mão.

— Respondam! — a voz de Valentin foi seguida por um trovão explodindo ao fundo.

Então, de súbito, Innamabel alcançou a tampa e não apenas os Verndare como também Valentin suspiraram aturdidos.

— Não destape! — pediu Arkadius num ganido. — Não agora... não dessa forma. Talvez se sintam melhor reconhecendo a divindade do verdadeiro senhor, Huru, e só então poderão gozar de sua grandeza e viver para sempre.

— Vocês estão possuídos — disse Valentin, compenetrado. — Sua matriarca chora a sina a qual se entregaram, tudo isso por esse ser que só representa desgraça para todos.

Daragon tomou a frente.

— Ele é a verdadeira salvação. Salvador de todos os reinos e redentor de todos os reis! Adorem Huru... temam-no, reverenciem-no e só assim quem sabe sejam reconhecidos verdadeiramente filhos da sua obra!

Sob a luz e os estampidos dos trovões, Innamabel não discutiu quando afrouxou a tampa e quando percebeu, ela havia a aberto e um som oco e profundo ressoou sobre os ouvidos de todos antes de um pulso de uma energia densa, antiga e indescritível voasse na direção dos dois, explodindo os vidros em milhares de pedaços e depois, repuxando Arkadius para dentro enquanto os outros olhavam estupefatos para o vazio no instante em que dali, Daragon se jogou de costas e Innamabel e Valentin o seguiu, ainda com a cabaça aberta, sugando a própria chuva que agora caia para dentro.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Where stories live. Discover now