[37] O PODER DE UM

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< Minerva Verum Lumen >

Minerva retomava as entranhas que até horas antes estava cheia — de algo semelhante a meias-vidas, seguras, agraciadas pela escuridão dos séculos e de sua própria presença, longe de sangue, longe de almas, longe de amargura. Agora tudo estava mais silencioso.

Os membros mais jovem do clã dos Verum Lumen eram um par de gêmeos, um menino franzino e uma menina altiva que brincavam, iluminando o caminho com risos e alegria.

Ali também os membros do Convento desembarcaram e esperaram pela chegada de Minerva, acompanhada por dois dos irmãos mais velhos que logo seguiram para encontrar a Matriarca, que encarava plácida o curso das aguas que ali corriam.

Ela se apresentou largando a ponta de seu vestido.

Cabisbaixa, a ausência de expressão no rosto de Innamabel só confessava que ela havia ter feito a melhor escolha.

Não escolher.

Não escolher porquanto não soubesse responder o que era mais forte em si: o desejo de vingança ou a vontade de perdoar.

— Os oráculos de Gallir assuntaram algo?

— Sim — ela meneou a cabeça, aparentando contentamento. — Temos a solução para os imortais. Ao instante em que Adam abdicar de sua imortalidade, certamente vocês poderão agir como melhor sabem.

— Como?

— Sendo os selvagens que são — desdenhosa, olhou para o Taú.

— Gentileza sua — Valentin debochou. — Conte-nos então, quais são seus planos?

— Eve nos servirá de inspiração. Seu sangue será utilizado na conjuração de um antigo feitiço de magia natural que poderá transportar sua imortalidade para um hospedeiro, talvez algo mortal.

Valentin avançou.

— Quer dizer que seria possível... transferir a imortalidade de alguém como nós para algo como um rato?

— Talvez não um rato, eles tem sido bastante problemáticos para muitas dessas terras. Poderia ser uma bela flor cujas pétalas nunca se desfariam.

Tenso, Valentin se resguardou da vontade que tinha de bater naquela garota arrogante e tão cheia de si, convencida de suas habilidades.

Ela suspirou.

— Não se animem, porém — ela disse depois. — Não é algo tão fácil de se fazer, muito menos me vejo capaz de cessar com as sinas que vocês carregam por destino. Sabem o que devem fazer para se livrar dela e de sua insignificante existência.

Como ela sabia? Indagou Taú mentalmente, admirando-a de longe, com sua sabedoria, suas aspirações de que, assim como ela, eles também sofriam com a imortalidade e viam naquele feitiço, uma chance de escapar e ainda permanecer vivo, criando uma nova realidade para si mesmo.

— Chega de falar conosco como se fossemos as pragas desse mundo! — Valentin esturrou. — A mim não interessa a mortalidade, a fragilidade. Prefiro minha força, minha invulnerabilidade. Mas agora, o que cobro é só que ajude a fazer algo por esse mundo que você também deseja proteger.

— Pois bem — disse ela, virando de costas num giro. — É chegada a hora de reagirmos — ela guiou a todos até as escadarias e a partir dali eles ganharam o corredor estreito por onde tinham de passar para chegar a sua inimiga, quilômetros a dentro. — Tenho um plano. Se perceberam, através dos inscritos sagrados podemos meditar que os dois tenham a mesma essência, o mesmo sangue, a mesma carne.

Dália estalou.

— Eve nasceu da costela de Adam.

— Isso. Como tal, o sangue deles é o mesmo e talvez possamos ligar seus corpos um ao outro através de um elo magico, e quando transportarmos a sua mortalidade, só nos restará findar com seu corpo. Quando ela estiver morta, certamente nós também deixaremos de ser imortais.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora